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“Testemunhamos novo ciclo de progressismo na América Latina”, diz pesquisador

Em entrevista exclusiva, Mariano Bullón, definiu o panorama de uma região tão desfavorecida, depois de muitos anos de neocolonialismo e neoliberalismo
Teyuné Díaz Díaz
Prensa Latina
Havana

Tradução:

A América Latina enfrenta uma crise multidimensional que ultrapassa os setores econômicos e se estende às diferentes dimensões da complexa realidade existente: economia, finanças, comércio, meio ambiente, institucionalidade e governança, sociedade e geopolítica.

Assim, em entrevista exclusiva à Prensa Latina, o pesquisador-chefe do Centro de Investigaciones de la Economía Mundial (Centro de Investigações da Economia Mundial) Mariano Bullón, definiu o panorama de uma região tão desfavorecida, depois de muitos anos de neocolonialismo e governos neoliberais.

“Apesar disso, a região possui uma fantástica dotação de abundantes recursos naturais e estratégicos, como água, combustíveis fósseis, níquel, lítio, ferro, cobre, terras raras, madeira, etc”, continuou ele.

“Além disso, dos grupos populacionais com mais de 630 milhões de habitantes espalhados por 22,2 milhões de quilômetros quadrados de território. Riquezas que tornam a área um terreno atraente para potências como Estados Unidos e Europa, considerados um grande bloco”, acrescentou o especialista.

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“No entanto, a América Latina tem uma alta taxa de pobreza, uma distribuição de renda desigual, altas taxas de analfabetismo e mortalidade infantil, desemprego e empregos de baixa qualidade e uma crise sanitária galopante”, ressaltou.

“Além disso, existem inúmeras bases militares estadunidenses, tráfico de drogas descontrolado e incontrolável, tráfico permanente de pessoas, problemas crescentes de imigração, entre muitos outros”.

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“Se seus recursos fossem colocados pelos governos a serviço dos povos, certamente esses problemas poderiam ser resolvidos, mas não foi o caso em mais de 200 anos de história pós-colombiana”, opinou.

Em entrevista exclusiva, Mariano Bullón, definiu o panorama de uma região tão desfavorecida, depois de muitos anos de neocolonialismo e neoliberalismo

Presidência do Peru
Recente triunfo de Pedro Castillo no Peru é parte importante do progressismo na América Latina.

Confira a entrevista:

Prensa Latina: Quais são os benefícios de articular a integração na América Latina?

Mariano Bullón: A primeira coisa é considerar que não é só puramente a integração, nem mesmo vista em termos econômico-comerciais, nem como fim em si mesma ou como um caminho marcado por etapas predeterminadas como réplica do que aconteceu na Europa.

A combinação de consenso político, cooperação e integração é o que pode fazer a diferença.

E a integração não deve ser para os interesses de atores externos à sub-região América Latina e Caribe -os Estados Unidos, sobretudo-, ou extra-regional, mas do interesse dos povos, para resolver seus antigos problemas.

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O primeiro é o acordo político, o consenso, que junto com o financiamento pode realizar os sonhos dos libertadores de nossa América.

A integração, vista desta forma, poderia ajudar a aumentar o comércio intrabloco, a expansão do mercado regional, a formação de cadeias produtivas regionais e cadeias de valor regionais.

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Isso geraria resiliência em economias fracas para enfrentar choques externos e o pesadelo da pandemia causada pela Covid-19, com seus impactos na economia, na sociedade, na saúde e no campo da política.

Cooperação em matéria de saúde, proteção do meio ambiente e defesa dos chamados Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento.

Em ciência e tecnologia, conectividade e comunicação por satélite no âmbito da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), já apresentou resultados nunca antes vistos.

Que dificuldades a América Latina poderia passar para materializar a integração?

Na minha opinião, a região sofre com o consenso político que existia em 2008-2011 no período de gestação e criação da Celac, junto com um financiamento autônomo quase inexistente e, portanto, depende de fontes e condicionantes externos.

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A tradição de desenvolvimento assimétrico das economias, devido aos seus diferentes tamanhos, acumulação técnico-científica, posição geográfica, maior ou menor dependência dos Estados Unidos e a carga colonial em seus vínculos com as antigas metrópoles.

Para além da presença de diversos interesses estrangeiros, dos conflitos históricos não resolvidos de fronteira, do interesse egoísta e antinacional das oligarquias, todos dificultam a realização de processos de integração regional.

Isso é agravado pela multiplicidade de esquemas ou formatos de cooperação e integração, que se dividem em dois grandes campos: os de matriz neoliberal –Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), Aliança do Pacífico- e os de matriz alternativa -ALBA-TCP e Celac.

A ascensão ao poder de governos de esquerda poderia contribuir de que forma para alcançar uma integração mais efetiva.

Alguns fatos ficam claros: a direita não tem conseguido consolidar seu projeto, apesar dos recursos investidos pelos Estados Unidos e das violações sistemáticas da democracia e dos golpes de estado abertos ou encobertos.

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Acompanhado de outros, como o chamado Lawfare e a proliferação excessiva de notícias falsas nas redes.

Justamente as mudanças no mapa político da região mostram um movimento pendular à esquerda e ao progressismo, o que pode ser favorável à integração.

A partir de 2018 a ascensão à presidência no México de Andrés Manuel López Obrador, passando pelo triunfo do peronista Alberto Fernández na Argentina, e de Luis Arce na Bolívia e o recente triunfo de Pedro Castillo no Peru, mostram isso.

De qualquer forma, aconteça o que acontecer no futuro imediato, parece que estamos testemunhando um novo ciclo de progressismo na região, e resta saber o que acontecerá nas eleições presidenciais do Chile e da Nicarágua em novembro, e no Brasil e na Colômbia no próximo ano.

Vamos torcer para que o pêndulo siga seu curso para a esquerda e para o progressismo. Então, outra seria a realidade da região.

Teyuné Díaz Díazda redação de Prensa Latina

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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