O encontro de quatro dias entre representantes do governo de Nicolás Maduro e a delegação da Plataforma Unitária da Venezuela, formada por diferentes setores da oposição venezuelana, terminou na última segunda (16), quando os dois grupos assinaram um primeiro documento, um memorando de entendimento que inicia um processo mais longo de diálogo entre ambas as partes.
O evento aconteceu na Cidade do México e foi promovido pelo Ministério de Relações Exteriores desse país, contando com a participação do próprio chanceler Marcelo Ebrard, que reuniu figuras de ambos os lados e atuou como mediador desta primeira instância de aproximação. Também estiveram presentes representantes do Centro Norueguês de Resolução de Conflitos, na qualidade de observadores. O memorando de entendimento é um primeiro passo, que afirma o desejo de diálogo entre as partes e estabelece que as negociações começarão oficialmente a partir de 3 de setembro, quando será realizada uma segunda reunião, também sediada na capital mexicana.
Reprodução: Governo do México
No entanto, esse primeiro entendimento ainda está longe de significar um acordo sobre as duas questões mais delicadas que o governo e a oposição enfrentam na Venezuela.
O objetivo mais ambicioso da Plataforma Unitária da Venezuela é que o governo concorde em realizar novas eleições presidenciais. Para isso, garante que reconhecerá a posição atual de Nicolás Maduro, caso este concorde em se submeter a uma nova disputa presidencial, a ser realizada o quanto antes, sob as condições estabelecidas pela comunidade internacional. Vale recordar que o atual mandatário foi eleito em abril de 2018, para um mandato presidencial que deveria durar até 2025, embora as eleições que estabeleceram esse mandato careçam do reconhecimento de muitos países.
A oposição defende o mesmo com relação aos representantes da Assembleia Nacional, eleitos em dezembro de 2020, em um processo que foi boicotado por parte da oposição – especialmente o grupo de Juan Guaidó, que acabou perdendo o cargo ao não concorrer à reeleição. Aproveitando a menor participação da oposição, o chavismo alcançou uma maioria de 69,3%, o que significava um quórum qualificado de mais de dois terços, suficiente para aprovar qualquer tipo de iniciativa do Executivo.
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Por sua vez, o governo venezuelano exige, como condição para que o diálogo com os opositores avance, que o governo dos Estados Unidos retire as sanções econômicas contra Caracas, que permita ao país recuperar suas contas no exterior e voltar negociar normalmente com empresas e com outras nações. Além disso, também pretende que as mesmas medidas de fim dos bloqueios sejam aplicadas à petroleira estatal PDVSA, responsável pelas maiores fontes de receita do país.
Ao comentar os resultados dessas primeiras conversações no México, o presidente venezuelano Nicolás Maduro afirmou que está disposto a dialogar até mesmo com os Estados Unidos, caso o governo norte-americano decida abandonar as sanções contra seu país. “Se for possível abrir um diálogo direto com os Estados Unidos, vamos buscá-lo, eu concordo com esse diálogo direto se for para atender todas as questões bilaterais”, disse o mandatário sul-americano.
O anfitrião da reunião, o chanceler mexicano Marcelo Ebrard, reforçou que a intenção de seu país em promover esses encontros é também o de permitir que a Venezuela supere as sanções econômicas que enfrenta atualmente: “O México tem atuado e continuará atuando como um país respeitoso e neutro; mas esperamos, como grande parte dos países da comunidade latino-americana e caribenha, que esses diálogos alcancem acordos que permitam à Venezuela seguir seu caminho sem sanções e com o pleno reconhecimento de toda a comunidade internacional. Tomara que isso será alcançado”.
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Já o porta-voz da Plataforma Unitária da Venezuela, Gerardo Blyde, divulgou uma nota, também nesta segunda-feira afirmando que “toda a nossa delegação e todos aqueles que nós representamos na Plataforma Unitária da Venezuela têm o compromisso irreversível de atuar em tudo o que for necessário para que possamos alcançar um acordo abrangente, que dê ao nosso povo um pacto de coexistência democrática de longo prazo e cujo conteúdo signifique mudanças profundas em nosso país”.
Com a reunião realizada neste fim de semana na Cidade do México, o chanceler mexicano Marcelo Ebrard busca se aproximar de um patamar de influência na região similar ao que teve o brasileiro Celso Amorim durante os Anos 2000.
O mesmo objetivo busca o presidente Andrés Manuel López Obrador, que pretende se levantar como principal líder latino-americano na atualidade, como foi Luiz Inácio Lula da Silva em seu momento. Dias atrás, o mandatário mexicano defendeu que os países da América Latina e do Caribe voltassem a fortalecer a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), uma instância promovida por Lula e Amorim há duas décadas, em detrimento da OEA (Organização dos Estados Americanos).
“A proposta é, simplesmente, a de construir uma entidade semelhante à União Europeia, porém mais apegada à nossa história, à nossa realidade e às nossas identidades, nem mais nem menos (…) um organismo verdadeiramente autônomo, que não seja lacaio de ninguém, e sim mediador de conflitos, segundo a petição e aceitação das partes envolvidas”, explicou López Obrador.
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