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"Progressistas de redes sociais" são os medíocres de sempre que em tempos de ditaduras apunhalaram o povo pelas costas

Dizem que qualquer um hoje em dia tem redes sociais, mas não, só as têm aqueles que podem ter acesso a um computador, um telefone inteligente ou um tablete
Ilka Oliva Corado
Diálogos do Sul Global
Território dos EUA

Tradução:

A América Latina está infestada de grandes progressistas de redes sociais. Alguns com o couro mais duro dizem serem revolucionários. Como em outros tempos em que o papel aceitava tudo, agora são as redes sociais. São o catalisador por excelência de nossa mediocridade humana.

Dizem que qualquer um hoje em dia tem redes sociais, mas não, não qualquer um, só as têm aqueles que podem ter acesso a um computador, um telefone inteligente ou um tablet, quem tem dinheiro para pagar a internet em casa; o povo, povo, não tem acesso sequer a um pastel de feira, muito menos a uma novidade dessa.

As redes sociais são da classe média e da burguesia. De quem teve acesso à educação formal, daqueles que supõe que por haver tido semelhante oportunidade na vida, seu nível de raciocínio é maior que o de alguém que carece de certo tipo de conhecimento.

E que seu dever deveria ser o de ajudar a esclarecer as tempestades formadas pelas grandes corporações da desinformação e da manipulação midiática, mas não, ao contrário, estes tipos de infames se unem às massas que solapam a violência de governos corruptos, neoliberais e às ditaduras.

Ao sistema misógino, racista, classista e patriarcal: porque assim são eles e se sentem representados.

Dizem que qualquer um hoje em dia tem redes sociais, mas não, só as têm aqueles que podem ter acesso a um computador, um telefone inteligente ou um tablete

Pixabay
Nem todos têm acesso às redes sociais

Luta contra a desinformação x mediocridade

Este tipo de pessoas que poderiam utilizar as redes sociais como uma plataforma para lutar contra a desinformação, além de publicar seus vexames do dia a dia: fotografias de seus quartos, de seus pratos de comida, de suas viagens de férias, das empregadas domésticas de suas casas cozinhando, das gripes de seus filhos, das pulgas de seus cachorros, das pestanas postiças, da última espinha, seus reconhecimentos, suas conferências, os tapetes de flores por onde transitam e os encontros com “gente de bem”, quando as utilizam como meio de informação es para desinformar de fato e de caso pensado.

Sabendo que o que estão publicando ajuda a manipular. Mostrando seu menosprezo e seu ódio para com os povos que se atrevem a questionar o sistema. Sem nenhum tipo de escrúpulo esses grandes progressistas da nova era latino-americana, são os grandes conspiradores que se unem às hordas de traidores que querem enterrar em vida os que dizem água em lugar de ouro.

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Acreditam ser a cereja do bolo e entre estes personagens dantescos encontram-se poetas, pintores, intelectuais, docentes de universidades, cineastas, cantantes, que aproveitam a mínima oportunidade do sofrimento do povo para “criar” sua arte e obter com isso o benefício pessoal dos mesquinhos. E vão de conferência em conferência, de festival em festival, vivendo à custa dos marginados e empobrecidos.

Dentistas que fizeram suas fortunas extraindo os dentes de comunidades inteiras. Em cada dente o gozo daquele que se crê superior.

Por isso estas “mentes privilegiadas” jamais se pronunciam pelos ecocídios, pelo roubo de terras a camponeses, pelo desvio da água dos rios, pelos desaparecimentos de líderes comunitários, nem pelos inúmeros assassinatos deles. Porque estão de acordo.

Jamais a estes personagens que se fazem chamar de progressistas se lhes escutará denunciar os desfalques milionários das máfias de turno nos governos.

Progressistas de quê?

São os medíocres de sempre que em tempos de ditaduras apunhalaram pelas costas. Nunca se declararão fascistas, mas o são de forma solapada. Então dizem que são progressistas porque parece uma palavra melhor para seus enganos.

São os que nunca estarão do lado dos marginalizados porque são os que o marginalizam ou se beneficiam dessa exclusão. Nunca defenderão os direitos dos empobrecidos porque são os que se beneficiam do roubo. Nunca denunciarão a injustiça porque a impunidade lhes permite o nível de vida que têm. E são os que jamais porão em jogo sua estabilidade socioeconômica para fazer o justo.

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Pelo contrário, são os que com suas plataformas, seus títulos e seus amigos formam parte desse conglomerado de fascistas que, sem uma pisca de amor em seu coração, apunhalarão a quem seja para manter seus status.

Apoiadores do imperialismo

Nós os estamos vendo neste momento, publicando que há uma ditadura em Cuba e na Venezuela e apoiando o bloqueio econômico em ambos os países, clamando pela intervenção militar, mas calados pelos massacres na Colômbia e na Palestina. Pelos massacres na Bolívia, Equador e Chile. Pela ditadura no Brasil.

Pela corrupção na Guatemala, El Salvador e Honduras. Além disso, publicando toda a desinformação que alcancem seus dedos no teclado, muitos sabendo que em seus postos de trabalho ou graças aos seus ofícios têm seguidores que os olham como mentes iluminadas.

Nem dizer dos medíocres docentes universitários infestando a mente de seus alunos. E fazem assim com cada acontecimento neoliberal dos governos corruptos que pululam na América Latina. E o que é pior, esta peste se transpassa de geração em geração.

Por isso, os poucos que têm clareza de pensamento e são leais à luta dos povos, embora pareça um anseio de ilusões e lhes digam que a luta já está perdida de antemão, devem dar-se a tarefa de ser os que com paciência e apesar do cansaço, se atrevam a bater o feijão e desgranar o milho.

Que a semente menos pensada é a que floresce muitas vezes em lugares inesperados. 

Ilka Oliva Corado, Colaboradora de Diálogos do Sul de território estadunidense

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Ilka Oliva Corado Nasceu em Comapa, Jutiapa, Guatemala. É imigrante indocumentada em Chicago com mestrado em discriminação e racismo, é escritora e poetisa

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