Os Estados Unidos são o quarto maior gerador de energia hidrelétrica do mundo, atrás apenas da China e do Brasil. As hidrelétricas estadunidenses tem um potencial instalado de 102,8 GW e contribuem com 6,6% de toda a energia consumida nos Estados Unidos. Há usinas hidrelétricas em 36 dos 50 estados do país. A maioria das usinas, entretanto, estão concentradas na bacia hidrográfica do Rio Columbia (44% do total).
O sistema hidrelétrico estadunidense é administrado diretamente pelo governo dos Estados Unidos e a imensa maioria das grandes usinas e reservatórios pertencem às Forças Armadas ou outros órgãos públicos.
Somente o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos possui 356 usinas e 75 represas. A estatal Tennessee Valley Authority, criada durante o New Deal, também opera outras dezenas hidrelétricas e mantém uma rede de transmissão com mais 26 mil quilômetros de linhas. A participação privada na produção hidrelétrica é absolutamente minoritária, relegada às usinas de porte secundário e fortemente regulamentada pelas autoridades públicas.
A produção de energia hidrelétrica é vista como um serviço estratégico pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, não apenas pela necessidade de provisão da demanda energética, mas sobretudo para assegurar o controle sobre a vazão dos rios e dos reservatórios, onde se concentra parte substancial da água potável armazenada no país.
Reprodução: Flickr
Os Estados Unidos são o terceiro maior gerador de energia hidrelétrica do mundo, atrás apenas da China e do Brasil
A água é vista como um recurso vital que se tornará escasso nas próximas décadas. Em um discurso proferido aos seus correligionários em abril de 2021, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, assegurou que as guerras do futuro próximo não serão mais travadas por petróleo, mas sim pelo controle da água, que Harris chamou de “uma commodity muito preciosa”.
Epicentro do neoliberalismo, os Estados Unidos exportam há décadas para todo o planeta o receituário do Estado mínimo, da desregulamentação dos mercados e da privatização, impostos por determinação dos órgãos internacionais de crédito sob seu controle, por cooptação ou pressão sobre os governos estrangeiros e, sobretudo, pela difusão do pensamento liberal através da indústria cultural, dos aparelhos ideológicos e dos think tanks.
Basta uma observação mais detalhada, entretanto, para perceber que o receituário liberal exportado pelos Estados Unidos segue à risca o velho adágio “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Mesmo após décadas ventilando o discurso liberal, os Estados Unidos jamais aventaram a hipótese de privatizar suas usinas hidrelétricas e reservatórios.
O “canto da sereia liberal” é propalado para além das suas fronteiras, aguardando ressoar nos ouvidos encantados ou desavisados dos burocratas da periferia do capitalismo.
O Brasil, vítima frequente da artimanha, mordeu novamente a isca, dessa vez concordando em privatizar a maior empresa de produção de energia da América Latina — a Eletrobras.
A empresa possui 176 usinas e responde por mais de um terço de toda a energia gerada no país. Mais do que isso, os novos proprietários da Eletrobras irão administrar 52% de toda a água armazenada nas represas do Brasil e se tornarão donos da vazão dos principais rios brasileiros — o país mais rico em recursos hídricos do mundo, que concentra 12% de toda a água potável do planeta.
Se depender do Brasil, Kamala Harris não precisará disparar um tiro para se apoderar de nossa água. Os nossos governantes e militares a entregarão de bom grado quando a plutocracia requisitar.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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