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Após pressão da extrema-direita, militares declaram guerra contra partido de Pedro Castillo no Peru

Direita mais reacionária está francamente assustada diante da eventualidade de um governo de esquerda liderado pelo professor
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Nos últimos dias, e na medida em que foram conhecidas as preferências da cidadania, registradas pelas pesquisas de opinião, foi crescendo no Peru o manejo de certas teorias golpistas. Pareceria que desta vez a direita mais reacionária está francamente assustada diante da eventualidade de um governo de esquerda liderado pelo professor Pedro Castillo. Se no começo o ignorou, agora o leva à sério, e não pode ocultar o pavor que lhe causa.  

Para enfrentar seus medos, primeiro tentou unir suas forças, embelezando o cadáver insepulto que os representa. Fracassou em sua tentativa, dado que o passado remoto e o imediato da senhora K é tão pesado que muita gente, inclusive desse signo, resiste em unir esforços por ela em 6 de junho.  

Em um segundo momento levantou o esfregão do anticomunismo mais desenfreado e comparou o docente com Hugo Chávez, Nicolás Maduro e até com Fidel Castro. E assegurou a todos que sua eleição constituía uma opção que não nos livraria jamais de uma imaginária e perpétua “peste vermelha”. 

  Tampouco esse argumento desprezível lhe permitiu remontar a adversidade. As pesquisas de opinião demonstraram que quase 70% dos peruanos não se sentem anticomunistas e que a propaganda em torno ao tema simplesmente não lhe chega. E confirmaram, além disso, que a proposta principal do candidato – a troca da Constituição do Estado – se aproxima de 64% de adesão da cidadania. Em lugar de persuadir as maiorias nacionais, a folclórica ofensiva não fez senão reafirmar a teimosa vontade dos peruanos de optar por um caminho novo, que parece interessante, sugestivo e, sobretudo, limpo. 

 Agora, então, derrotada em toda a linha, recorre a um manejo certamente perigoso: o tema das armas. Ela, que condenou em todos os momentos a denominada “luta armada”, que demonizou as organizações “levantadas em armas” considerando-as “golpistas, “terroristas” e outras bobagens, parece haver terminado batendo na porta dos quartéis e pedindo aos fardados que tomem suas ferramentas de trabalho para “salvar a democracia”. 

Claro que tomou cuidado ao expor o tema e não tem querido admitir que o que busca não é precisamente democracia, mas proteção aos seus privilégios e seus interesses de classe. Os dela e os das grande corporações. 

Direita mais reacionária está francamente assustada diante da eventualidade de um governo de esquerda liderado pelo professor

Reprodução Twitter
O professor Pedro Castillo em campanha para o segundo turno das eleições para a presidência do Peru.

Primeiro foi uma Declaração da Associação de Oficiais, Generais e Almirantes retirados das Forças Armadas e da Polícia Nacional. Depois, um apelo de militares, aviadores e marinheiros também retirados que com seu próprio nome subscreveram uma belicosa proclama declarando guerra ao Partido Peru Livre e exigindo que Pedro Castillo seja julgado de imediato por “apologia do terrorismo”. Isso, como se sabe, equivale simplesmente a demandar que seja encarcerado e condenado a prisão perpétua, porque isso é o que dispõe a lei para um delito dessa magnitude. 

E é curioso, quem encabeça essa lista “em defesa da democracia” é o general Francisco Morales Bermúdez, condenado à Prisão Perpétua pela Corte de Justiça da Itália, por sua participação na “Operação Condor”. Salvo da extradição por sua idade e saúde, o militar criminoso, pede “sanção exemplar contra o professor e seu partido. 

  

Como isso não podia ficar na tentativa, chegou ao extremo do forjar um suposto documento atribuído ao Comando Conjunto das Forças Armadas tomando partido na contenda eleitoral de 6 de junho contra o que majoritariamente opina a cidadania.

O que busca obstinadamente é que os peruanos acudam nessa data aos postos de votação, mansos como um rebanho domesticado e submisso, e votem pela senhora Fujimori para assegurar a impunidade de todos os delitos consumados contra o Peru nos últimos 30 anos. E querem também que se restaure o regime neonazista de dominação que se apoderou do Peru na “década dantesca” consagrando a repressão mais desenfreada contra todo o povo.  

Alguns avanços, embora desprezíveis, conseguiram com sua pregação. De fato, Mario Vargas Llosa aderiu gozoso a esta cantiga, falando de um “golpe militar de direita” para conter Pedro Castillo. E um já desautorizado porta-voz do consórcio comercial de Gamarra – o senhor Diógenes Alva- se somou à mesma gritaria sediciosa. Incapaz de ganhar pelos votos, a ultradireita peruana está disposta a recorrer às balas. E por isso pensa simplesmente nas armas. 

As voltas que a vida dá são incríveis. Em março de 1895, Federico Engels, prologando a obra de Marx “As lutas sociais na França” se burlava da classe dominante da época, dizendo: “a ironia da história universal põe tudo de pernas pro ar. Nós, os “revolucionários”, os elementos “subversivos”, prosperamos muito mais com os meios legais que com os ilegais e a subversão. Os “partidos da ordem” como eles se chamam, vão a pique com a legalidade criada por eles mesmos. E exclamam desesperados “a legalidade nos mata”, enquanto nós criamos, com essa legalidade, músculos vigorosos e bochechas coradas, e parece que nos alcançou o sopro da eterna juventude. E se somos tão loucos que nos deixemos arrastar ao combate nas ruas, para dar gosto a eles, posteriormente não terão mais caminho que romper, eles mesmo, esta legalidade tão fatal para eles”. 

Mas o tema de fundo hoje no Peru, reveste gravidade, sem dúvida. A reação está jogando com o Golpe de Estado e o uso de armas contra o povo. Se como consequência de uma ação desse tipo se desatar no país uma orgia de violência, a responsabilidade cairá, inexoravelmente, naqueles que, para preservar privilégios mal obtidos, buscaram fuzis em lugar de votos. 

*Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.

** Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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