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ToggleDesde que se intensificou o tema do fluxo migratório na fronteira do México e Estados Unidos, o governo de Biden tem formulado como eixo de sua resposta atender “as causas de fundo” da migração desde a América Central e México.
Biden, sua vice-presidenta Kamala Harris e os encarregados de política exterior para as Américas conversaram, realizaram viagens e comentaram sobre iniciativas para abordar essas “causas do fundo” no México e na América Central. Harris recentemente anunciou sua intenção de viajar ao México e à Guatemala.
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Mas talvez devessem economizar mais viagens e ficar em casa em Washington para primeiro abordar uma das principais “causas de fundo” do fenômeno que está se manifestando na fronteira: as políticas econômicas e de “segurança” estadunidenses em toda a região ao longo das últimas décadas.
Antes de viajar e oferecer dólares a quem sabe quem nesse países para que os migrantes e refugiados fiquem em casa, talvez eles devessem permanecer em sua casa e convocar um grande elenco de historiadores, jornalistas, analistas, ex-funcionários, religiosos, defensores de direitos humanos e outros mais que possam lhes contar, se é que já não lembram, a longa e violenta história da mão estadunidense ao longo de mais de um século nesta região.
Telesur
Fluxo migratório na fronteira do México.
Recordando o general Smedley Butler
Poderiam recordar o que disse o então soldado mais condecorado de seu país, o general Smedley Butler, nos anos trinta ao resumir sua carreira: “Dediquei 33 anos e quatro meses ao serviço militar ativo como membro da força militar mais ágil deste país, os marines… E durante esse período dediquei a maior parte do meu tempo a ser um golpeador de alta categoria para o grande empresariado, para Wall Street e para os banqueiros. Em suma, fui um estafador, um gângster para o capitalismo… Ajudei a fazer o México seguro, especialmente Tampico, para os interesses petroleiros estadunidenses, em 1914. Ajudei a fazer de Haiti e Cuba um lugar decente onde os meninos do National City Bank puderam arrecadar fundos. Ajudei na violação de meia dúzia de repúblicas centro-americanas para benefício de Wall Street…”.
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E desde esses tempos até hoje poderiam revisar a lista de intervenções, o apoio militar a ditaduras, a esquadrões da morte, à capacitação e financiamento de torturadores, onde forças apoiadas aberta ou clandestinamente por Washington – primeiro sob a justificação da Doutrina Monroe, depois sob a “guerra fria” contra o “comunismo” e mais recentemente contra os aliados de governos progressistas latino-americanos que se atreveram a não obedecer os desejos e receitas para a “democracia” e “liberdade” – assassinaram a dezenas de milhares nesses países.
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Ou como o Departamento de Estado de Obama, com Hillary Clinton à frente, apoiaram o golpe de estado em Honduras em 2009 (vários dos golpistas foram formados no que antes se chamava Escola das Américas onde os Estados Unidos capacitam militares latino-americanos) de onde provém o governo atual desse país.
Poderiam revisar os efeitos das políticas neoliberais do chamado “consenso de Washington”, incluindo os acordos de livre comércio que ainda estão vigentes com o México e com os países centro-americanos, e cujo resultado empírico é que as maiores e mais exitosas exportações desta região – medido apenas por ingressos internacionais – são seus seres humanos e as drogas ilícitas.
Também poderiam avaliar porque Washington, quase sem exceção, têm apoiado a represar qualquer movimento, frente, líderes políticos e outros mais, que buscaram mudar as condições de injustiça, violência e corrupção em seus países.
Não se pode responsabilizar exclusivamente a Washington pelo que as cúpulas políticas e econômicas de todos estes países implementaram, mas se na verdade há interesse em localizar e abordar as “causas de fundo” do problema migratório, Washington deveria não apenas ver suas contrapartes no México e na América Central, mas sim ver-se a si mesmo.
Leonard Bernstein: “América” de West Side Story
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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