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ToggleApós superar com êxito o primeiro ataque da Covid-19 nos meses de março e abril deste ano, a Itália enfrenta hoje um recrudescimento da epidemia caraterizado por um crescimento rápido e sustentado de novos contágios e mortes.
Dados publicados pelo Ministério da Saúde indicam que este país europeu acumulou por volta de 800 mil casos e 40 mil mortes, com presença ativa do vírus Sars-CoV-2 em todo o território nacional, ao mesmo tempo que aumentam as dificuldades para rastrear a origem dos contágios.
Segundo o Instituto Superior de Saúde (ISS), com base no monitoramento da curva de 19 a 25 de outubro, o ritmo de propagação da vírus era coerente com o aumento do índice RT de transmissão nacional, que se localizou aproximadamente em 1,7 próximo a um cenário de tipo quatro.
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Itália enfrenta hoje um recrudescimento da epidemia caraterizado por um crescimento rápido.
Nesse nível máximo de deterioração da situação epidemiológica, segundo a classificação e parâmetros estabelecidos pelo ISS, a transmissibilidade escapa do controle, com perigo para a estabilidade do sistema de saúde a curto prazo.
Em um contexto dessa natureza, as medidas recomendadas para enfrentar o agravamento da emergência são similares às aplicadas na fase do auge da epidemia em março e abril em escola local, regional ou nacional.
A resposta do governo ao primeiro embate
Com a aplicação gradual de medidas baseadas nos princípios de precaução, proporcionalidade e adequação, o governo italiano conseguiu controlar a subida da curva epidemiológica no primeiro semestre, a qual atingiu seu ponto máximo em 21 de março, ao serem registrados 6.557 casos nas 24 horas precedentes.
Nesse momento, começou o descenso progressivo, com uma estabilidade de menos de 500 contágios diários, entre o primeiro de junho e 12 de agosto, quando recrudesceu a epidemia com mais de 30 mil a partir de 30 de outubro.
O controle da curva na primeira etapa foi obtido com medidas dirigidas a evitar aglomerações e a transmissão do vírus, principalmente as severas restrições impostas à mobilidade das pessoas e o isolamento domiciliar, acompanhadas das conhecidas normas de proteção individual.
Embora dessa forma se tenha conseguido superar a fase mais aguda da epidemia, as restrições adotadas tiveram um impacto econômico e social devastador com uma contração de 5,4 a 12,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro e segundo trimestres, respectivamente.
As medidas tiveram um efeito demolidor sobre a oferta e a procura, em um contexto caracterizado pela redução de ganhos, falta de liquidez e incerteza com respeito ao futuro.
Nesse sentido, segundo estimativas do Instituto Nacional de Estatísticas e outras entidades oficiais relacionadas com o âmbito do trabalho, a Itália perdeu 578 mil postos de trabalho no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de 2019.
As ações do governo para mitigar o impacto econômico e social da crise e impulsionar a recuperação se concentraram principalmente nos decretos “Curar Itália”, em março e “Relançamento”, em maio, com um financiamento total de 80 bilhões de euros para apoiar as famílias, trabalhadores e empresas.
Por volta de 75 bilhões de euros desses recursos adicionais, serão financiados através da emissão de bônus, com um aumento sem precedentes em relação com a dívida pública com o PIB, ao passar de 134,8 por cento em 2019 a 158,9 em 2020, segundo indicou a Comissão Europeia em suas previsões Econômicas de Primavera.
O executivo encabeçado pelo primeiro ministro, Giuseppe Conte, aprovou também o decreto “Liquidez”, com um montante de 400 bilhões de euros em créditos para o setor empresarial respaldados pelo Estado até 100%.
Essas medidas contribuíram para estimular a recuperação a partir da reabertura gradual de atividades em 4 de maio e, ao mesmo tempo, evitar protestos sociais como as ocorridas na segunda metade de outubro, após a adoção de restrições adicionais em uma tentativa de impedir o fechamento total.
Durante as demonstrações em uma vintena de cidades foram produzidas desordens e enfrentamentos isolados com a polícia, carentes de uma direção única, segundo afirmou a ministra do Interior, Luciana Lamorgese.
Em uma audiência ante o Senado da República, Lamorgese atribuiu as alterações a pessoas alheias aos setores afetados pela medidas, que encontraram nas razões do descontentamento, um pretexto para gerar violência.
Quanto aos autores, mencionou elementos violentos pertencentes a diferentes âmbitos, desde movimentos de extrema direita e centros sociais, até os grupos mais extremistas dos “ultra” fanáticos de times de futebol.
Restrições adicionais ante o novo auge
Diante da progressiva deterioração da situação epidemiológica, o governo aprovou nas quatro semanas de outubro um número igual de decretos, com o primeiro dos quais prorrogou até 31 de janeiro próximo o Estado de Emergência e estabeleceu o uso obrigatório de máscaras, inclusive em espaços abertos.
Medidas adicionais foram incluídas em outros, entre eles o anunciado no dia 25 por meio do qual se limitou das 5:00 às 18:00 horas o funcionamento de bares, restaurantes, sorveterias, doceiras e estabelecimentos similares.
Além disso, recomendou “fortemente” evitar deslocamentos com meios de transporte, exceto por exigências de trabalho, estudo, motivos de saúde ou situações de necessidade.
A norma incluiu também a suspensão de espetáculos com acesso ao público em salas de teatro, concerto, cinema e outros espaços, inclusive ao ar livre, e o fechamento temporário de ginásios, piscinas, centros de bem-estar e termais, culturais, sociais e recreativos.
Em seguida, o Conselho de Ministros aprovou a destinação de ajuda por um montante superior aos seis bilhões de euros a trabalhadores e empresas do setor dos serviços afetados pelas medidas.
Alguns dias depois, foi emitido outro decreto mediante o qual foi implantado um regime diferenciado de restrições em escala regional, baseado nos cenários de risco amarelo, laranja e vermelho, elaborados segundo o índice Rt de transmissão e outros critérios associados à emergência sanitária.
Como explicou Conte em audiências parlamentares prévias, para todo o território nacional onde não sejam indicados níveis de risco elevado, serão adotadas somente algumas medidas específicas que contribuam para reforçar o plano em vigor para a contenção e mitigação do contágio.
O decreto prevê limitações à mobilidade entre 22:00 e 05:00 horas do dia seguinte, além da suspensão de exibições e serviços de acesso do público a museus e outras instituições e espaços culturais.
Da mesma forma, autorizou a adoção de formas flexíveis de organização das atividades docentes no ensino secundário de segundo grau, de maneira que sejam realizadas com o emprego de meios digitais em sua totalidade, salvo situações específicas.
Entre outras medidas, reduziu a 50% o número de passageiros permitidos em meios públicos de transporte local e ferroviário regional, estimulou as modalidades de “trabalho inteligente” tanto no setor público como no privado, e o uso obrigatório de máscaras para a educação primária e média.
Ao mesmo tempo, foi anunciado um montante adicional de um bilhão e 500 milhões de euros para mitigar o impacto econômico das medidas pelas suspensão de atividades econômicas em territórios incluídos no mais alto cenário de risco.
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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