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Enquanto queimadas continuam no Pantanal, governo segue sem tomar providências

Estamos diante de um governo produto de uma fraude a cometer crimes seguidos, por que não argumentam para a quebra da institucionalidade?
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O boiadeiro tradicional do Pantanal conviveu durante muitos anos em harmonia com a natureza. O problema é que ele vendeu suas terras para a grande empresa ou para um indivíduo que enriqueceu na política ou nas finanças e resolveu ser fazendeiro. 

Ambos os casos são predadores, estranhos ao meio, sem cultura ambiental, nada importa além do lucro.

Entre 1º de janeiro e 30 de setembro de 2020, 18.259 focos de incêndio, sendo 8.106 só em setembro; um recorde no Pantanal, abrangendo 150 mil Km2, 12% da área. Em 2019, foram 10.025 focos em incêndio, 35% em Mato Grosso e 65% em Mato Grosso do Sul.

Estamos diante de um governo produto de uma fraude a cometer crimes seguidos, por que não argumentam para a quebra da institucionalidade?

Reprodução: Pxhere
As queimadas no Pantanal destrem ecossistema do mundo

Em julho, a situação já estava pra lá de alarmante, exigindo providências. Mas apenas em meados de setembro, diante da gritaria mundial, o governo reconheceu a emergência do caso. Maravilha. Tomou alguma providência? Nenhuma.

E as Forças Armadas?

Veja que Exército, Marinha e Aeronáutica têm unidades especializadas em combate a incêndio. E mais, em situação de emergência, podem mobilizar a sociedade, a defesa civil, em brigadas anti-fogo. Displicência. O fogo continua.

80% dos incêndios no Mato Grosso foram provocados por fazendeiros. Colocam fogo no pasto pra nascer capim novo, geralmente de semente não nativa, o que vai contribuir ainda mais para a degradação ambiental.

O pior é que toda essa ação predadora se faz, senão com a conivência com a complacência do poder público. São os ricos fazendeiros que organizaram os partidos políticos e são eles que governam. 

O círculo virtuoso se repete na esfera federal, com as bancadas do boi, da bala, da bíblia e dos bancos garantindo maioria aos predadores no Congresso e impondo ao Executivo obediência a seus interesses.

Tem como evitar isso? Claro que tem.

O primeiro passo é nunca mais votar nessa gente, escolher gente comprometida com os direitos humanos e os direitos da natureza para representá-los. Até que se consiga mudar o sistema político vigente.

O segundo passo é o estabelecimento de políticas soberanas de exploração do solo e o planejamento. 

Soberania

O primeiro passo é o estabelecimento de políticas soberanas de exploração do solo e o planejamento. Cada ecossistema nesse continente, que é o Brasil, requer planejamento específico. Você não pode pensar que o país possa ser um imenso canavial cercado por oceanos de soja e pastagens.

A culpa é dos índios?

Essa gente é mesmo pusilânime. Miguel Reale Jr. em artigo editorial no Estadão (5) qualifica de vergonha o discurso do Bolsonaro na ONU, em que pretendeu culpar os indígenas e os caboclos pelos incêndios na Amazônia. 

Há, circulando pelos meios, vários manifestos traduzindo o descontentamento com o comportamento do governo de ocupação. Há, inclusive, um manifesto assinado por 600 juristas pregando “o fim da noite de terror que cobre o país”. Essa gente é mesmo pusilânime. 

Miguel Reale Jr. soube muito bem argumentar para a quebra da institucionalidade e derrubar o governo legítimo de Dilma Rousseff. Conseguiu fazer que vissem crime onde não havia, e perpetraram o golpe com o beneplácito de todo o Judiciário e dos senhores 600 juristas.

Agora, estamos diante de um governo produto de uma fraude a cometer crimes seguidos, por que não argumentam para a quebra da institucionalidade? O próprio Reale cita várias irregularidades cometidas pelo presidente, e todos sabemos que se o Judiciário for municiado com os fatos concretos da fraude eleitoral e dos crimes cometidos no exercício do mandato, tem tudo para anular a eleição.

Paralelamente ao artigo de Reale, o Estadão afirma, em editoria,l que é óbvio que o governo não consegue articular nenhuma política concreta, seja sanitária, econômica ou política. E agora? Falsos argumento serviram para quebrar a institucionalidade e derrubar um governo legítimo. Por que argumentos verdadeiros não são utilizados para derrubar um governo ilegítimo?

Essa é a questão. Essa é a hipocrisia dos jornalões e seus áulicos. Elite de fancaria que se veste de democrata mas não passam de bundões, lacaios do capital financeiro e servis ao imperialismo.

O caminho para derrubar o governo é a Frente Ampla de Salvação Nacional. Nela cabem os responsáveis por isso que está aí e todos os que são contrários. Não é hora de revolução. A hora é de recuperar a soberania, livrar-se do jugo do capital financeiro e libertar-se das amarras do imperialismo ianque.

O correto seria fazer o mea culpa e tomar as medidas constitucionais necessárias, formar um governo provisório, de salvação nacional que num prazo relativamente curto convocaria novas eleições. O novo governo a ser eleito teria o compromisso de chamar a um novo pacto social, chamar a uma constituinte popular exclusiva e soberana.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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