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ToggleKenneth Carleton Frazier, presidente da farmacêutica Merck, alerta para dois grandes problemas nessa fase. “Em primeiro lugar, estamos vivendo em um tempo de ultranacionalismo em que os países querem pegar o que está disponível e dizer: ‘Vou usá-lo primeiro na minha própria população’, em vez de usá-lo primeiro nas populações globais que estão em maior risco”, disse o executivo em entrevista ao portal de notícias da Universidade de Harvard.
A segunda dificuldade é alcançar escala na produção para dar conta de uma população mundial de 7,5 bilhões de pessoas no menor tempo possível, além de atender regiões do mundo onde as pessoas não podem pagar pela vacina.
O biólogo Miguel Garay-Malpartida, professor da Universidade de São Paulo (USP), lembra que a Sars-Cov-2 é a doença mais infecciosa dos últimos 100 anos e talvez o maior problema de saúde pública, medido pelo impacto social, econômico e político causado.
Diante do quadro atual, as soluções precisam ser elaboradas respeitando o tempo das pesquisas, até a etapa final, e de distribuição, antes de fazer qualquer anúncio de fabricação em larga escala e aplicação de forma maciça.
“Essa é a única forma de garantir o nível de qualidade exigido pelas normas técnicas, amparando-se na legislação, mesmo que signifique a extensão dos prazos e o aumento dos custos nas diversas fases do seu desenvolvimento. Desde o início da pandemia, a ciência tem sido demandada pela identificação de soluções abrangentes, eficientes e imediatas. Tudo aquilo que não pode, nem deve fazer, pela própria natureza do método científico”, alerta Malpartida.
FioCruz
Quando o produto estiver liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a distribuição será gratuita
Brasil
No Brasil, a unidade de Manguinhos, da Fiocruz, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), possui capacidade instalada para o processamento de até 40 milhões de doses mensais.
A instituição firmou parceria com o Laboratório AstraZeneca, da Universidade de Oxford, para a fase 3 da etapa clínica, que compreende a aplicação de testes em milhares de pessoas para verificar sua eficácia.
Quando o produto estiver liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a distribuição será gratuita, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde e Sistema Único de Saúde (SUS).
Valorizar a ciência
Malpartida defende mais recursos para que o Brasil ganhe autonomia nessas situações.
“A ciência precisa de apoio e investimento, do governo e do setor privado, para que no futuro não dependa desse tipo de parcerias, que torna o País dependente da tecnologia desenvolvida no exterior. Do ponto de vista da América Latina, infelizmente, nenhum país tem estrutura, nem recursos para o desenvolvimento de uma vacina própria e competitiva.”
Para além dos grandes desafios envolvidos no processo de desenvolvimento da vacina, ele chama a atenção para obstáculos adicionais na luta para vencer a pandemia, como a visão anticientífica que ganha adeptos no mundo.
“O movimento negacionista, alimentado pelas pseudociências, tem aumentado descontroladamente. Constitui parte dessa onda o fortalecimento do movimento antivacina”, lamenta.
Deborah Moreira / Comunicação SEESP
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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