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ToggleA Conferência Episcopal Boliviana, a União Europeia e a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovaram nesta semana propostas de pacificação que “demandam respostas efetivas em favor da vida e da defesa dos direitos humanos de todos os habitantes” no país andino.
O comunicado das três instituições conclama ao “levantamento de toda medida de pressão indevida no marco de uma sociedade que queira viver em paz e respeitar as regras do jogo democrático”, cuidando para não “pôr em perigo a convivência pacífica, democrática e institucional entre todos os bolivianos”.
Para deixar claro que esta não é a intenção da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez, o ministro de Governo, Arturo Murillo, confirmou com todas as letras que “o politicamente correto seria meter bala” nos manifestantes, conforme declarou em entrevista na última segunda-feira à CNN. “Não caberá outra maneira que atuar com a mão mais dura”, enfatizou.
Desde que Áñez e seus asseclas tomaram o poder de assalto, em novembro de 2019, a linha foi correr sangue. Isso já aconteceu nos massacres de Sacaba, em Cochabamba, em 15 de novembro, ou em Senkata, em El Alto, quatro dias depois. Por conta deste novo padrão de “Justiça”, inocentes foram mortos, processados ou inundam as prisões. Tudo pelo simples fato de serem oposição ao governo Áñez, defensores dos 14 anos de governo de Evo Morales ou da candidatura de Luis Arce, do Movimento Ao Socialismo (MAS), à presidência.
“De todos os lados, sem argumentos, Murillo busca cassar direitos armado com mentiras, justificando sua atuação para fascistas e lacaios que estão embolsando dinheiro com a privatização dos nossos recursos naturais”, denunciou Severina Baltazar, secretária-executiva da Federação das Mulheres Camponesas Indígenas Originárias de Cochabamba Bartolina Sisa.
Severina relembrou que como mulher aimará e heroína indígena, companheira de Túpac Katari, Bartolina Sisa organizou e liderou o cerco a La Paz contra os espanhóis, sendo assassinada em 5 de setembro de 1782. A data tornou-se símbolo da resistência, da luta anticolonialista e anti-imperialista.
Whipala
Mobilização em El Alto exige eleições em lei, com prazo fixo e supervisão internacional
Eleições limpas e data fixa
O momento tem um simbolismo muito similar, ressaltou a dirigente das Bartolina, “já que estamos mobilizados e organizados para garantir eleições limpas, com data fixa e com supervisão internacional, a fim de recuperarmos de uma vez por todas a democracia da Bolívia do desgoverno de Jeanine Áñez e dos grupos fascistas e entreguistas”.
Severina frisou que não só nos nove departamentos (estados), como nas 16 províncias de Cochabamba, se encontram militantes para garantir a paz, mas em pé de guerra. “Queremos recuperar nossos direitos que foram desrespeitados, discriminados, pisoteados e humilhados. Lutamos para defender o presente e o futuro das novas gerações”, lembrou a líder.
Esta é também a compreensão do pesquisador e cientista social Porfirio Cochi, que também alerta para a forma com que Áñez busca se utilizar de grupos fascistas, da Polícia Militar e das Forças Armadas para a confrontação aberta com o povo, subordinados ao estrangeiro.
Porfirio alertou que “o governo joga na manipulação e no confronto, usando os bloqueios como uma desculpa. Porque é o governo de Áñez que não está entregando os tubos de oxigênio, não garante reagentes químicos para tratar o coronavírus, não paga as empresas subcontratadas pelos serviços complementares, não entrega insumos clínicos nem equipamentos de biossegurança para o pessoal de saúde”.
O pesquisador esclareceu que da mesma forma, “por meio do golpe de Estado de novembro também ativaram um movimento neofascista, promovido pelo governo por meio de organizações como a União Juvenil Cruzenhista (de Santa Cruz) e o Orgulho Juvenil Kochala, de jovens de classe média e alta.
Estão saindo às ruas para desbloquear e enfrentar às organizações e movimentos sociais que estão nos 100 pontos de bloqueio”. “A promoção, o apoio e a provisão logística a esses grupos neofascistas é realizada pela polícia boliviana e pelas Forças Armadas, que apostam no enfrentamento”, sublinhou Cochi.
O próprio vice-ministro de Descolonização, Máximo Gallego, reconhecendo que “o governo Áñez é um fracasso”, pediu a renúncia da presidenta e disse que estava em vias de se somar às mobilizações da oposição.
Segundo denunciou textualmente às câmeras de televisão, foi adquirido pelo governo “um caminhão de oxigênio e liberada uma parte, para que falte, e isso não se pode fazer”. “Por isso eu estou me distanciando”, acrescentou.
Leonardo Wexell Severo, colaborador da Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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