O presidente Gustavo Petro denunciou, na última quarta-feira (30), “que há aqueles que sonham com derrubar o governo”, recolhendo dinheiro de grandes empresários espanhóis para tal propósito, e lhes advertiu que desistam “porque estariam iniciando uma nova era de violência na Colômbia”.
Ante um auditório de camponeses aos quais o governo entregou terras no município de Carmen de Bolívar, o chefe de Estado recordou vários episódios da história nacional que desembocaram em décadas de violência e chamou de “brutos” aqueles “vão embora à Espanha para ver como se derruba o governo da mudança”.
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Depois de insistir que há setores da oposição política e do empresariado que buscam dar um “golpe suave”, Petro fez um apelo às bases populares que contribuíram à sua vitória em junho de 2022: “o campesinato já sabe o que tem que fazer, a juventude popular já sabe o que tem que fazer, o povo trabalhador já sabe o que tem que fazer”.
Sem mencioná-los pelo nome, o presidente exortou aos presumidos conspiradores a abandonar sua estratégia, recordando que “já o provaram quando bombardearam cooperativas campesinas nos Andes, já o provaram quando assassinaram Jorge Eliécer Gaitán e – quanto custou esse assassinato?”
Em meio a uma atmosfera festiva, na qual se entregaram títulos de propriedades a centenas de famílias campesinas sem terras em uma das regiões mais golpeadas pela violência, o mandatário colombiano defendeu seu programa de reforma agrária e declarou que se os donos de latifúndios improdutivos não acatarem o preceito constitucional de que a terra tem uma função social, “o Estado deve fazê-lo cumprir”.
“Se o proprietário não quer cultivar a terra, se ajuda, se compra, ou inclusive, diz a nossa constituição, se expropria”.
Foto: Reprodução/Facebook
“Ideia do golpe contra Petro tem estado presente nos planos da ultradireita desde o início do governo", afirma especialista
Reforma agrária
O espinhoso tema da reforma agrária, junto ao frondoso pacote de iniciativas governamentais para transformar o sistema de saúde e de aposentadoria, assim como os códigos trabalhistas vigentes hoje, geraram um clima de extrema tensão em que as agremiações patronais e os setores políticos tradicionais, com microfone aberto nos grandes meios de comunicação, não cessam de alertar sobre “os perigosos caminhos que o governo está tomando”.
Com a lupa posta sobre cada movimento, cada palavra e inclusive até cada silêncio de Petro, seus adversários anunciam o apocalipse e apelam a conhecidos recursos, já utilizados em outros países, como o de propagar uma suposta loucura do presidente, duvidando das suas capacidades mentais e físicas para governar.
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Até um projeto de lei para que o chefe de Estado seja obrigado a submeter-se a exames médicos e psiquiátricos foi impulsado no parlamento pelo ultradireitista partido Centro Democrático, que é liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe.
Segundo o analista político Horacio Duque, as denúncias de Petro fazem pensar que o que está em marcha é um golpe duro, não suave, “pois se refere a uma rede de empresários espanhóis aliados com as oligarquias tradicionais da Colômbia para interromper o mandato do presidente Petro, um plano que envolve a direita internacional”.
Em declarações ao La Jornada, Duque comentou que “a ideia do golpe contra Petro tem estado presente nos planos da ultradireita desde o início do primeiro governo progressista na história recente do país”.
Agregou que a conspiração também tem um componente jurídico no qual participam altos funcionários do Estado de origem conservadora, como o Promotor-Geral, Francisco Barbosa, “dedicados a bloquear o governo e a manchar com golpes midiáticos seu desempenho”.
Pôs como exemplo o espetáculo que a Promotoria armou recentemente em volta de um assunto conjugal de Nicolás Petro, filho do presidente, acusado por sua ex-esposa de ter recebido altas somas de dinheiro, supostamente destinadas à campanha eleitoral do então candidato Petro, que terminaram nos bolsos do filho.
Segundo Duque, o melhor que pode fazer o presidente é aprofundar as alianças com outros setores políticos e fortalecer o movimento popular para garantir a governabilidade e levar adiante as reformas que prometeu aos colombianos durante a campanha.
Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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