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Líder do ELN propõe que povo da Colômbia ajude a construir acordo de paz com governo

Pablo Beltrán destacou, durante 4º ciclo de negociações, que a mesa deu um salto qualitativo depois de que as partes acordaram um cessar fogo bilateral
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

No meio de uma escalada de violência gerada por ataques de grupos armados irregulares, com saldo de pelo menos quatro policiais mortos, o governo colombiano e o Exército de Liberación Nacional (ELN) iniciaram em Caracas, nesta segunda-feira (14), o quarto ciclo das negociações de paz iniciadas em novembro de 2022. 

A continuação das conversações entre as partes foi precedida de denúncia do promotor geral da Colômbia, Francisco Barbosa, sobre a descoberta de um suposto plano do ELN para atentar contra sua vida, o que foi desmentido pela direção dessa guerrilha e posto em dúvida por analistas locais diante da fragilidade das provas exibidas pelo alto funcionário. 

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Durante a instalação do quarto ciclo, o chefe da delegação do grupo insurgente, Pablo Beltrán, destacou que a mesa de negociações deu um salto qualitativo depois de que as partes acordaram um cessar fogo bilateral, assim como posto em marcha mecanismos que garantirão uma ampla participação da sociedade civil na construção de um acordo final. 

“As forças do governo e do ELN são poucas para pôr em marcha as mudanças que a Colômbia necessita”, disse Beltrán, sublinhando que a Comissão de Participação já tem 100 integrantes, representantes de muitos setores da sociedade. 

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Também interveio na inauguração do novo período de negociações a vice-presidenta da Venezuela, Delcy Rodríguez, que sublinhou que “a paz na Colômbia significa também a paz para a América Latina e o Caribe”.

Em nome do país anfitrião, Rodríguez instou a adotar medidas de alívio humanitário para as comunidades impactadas pelo conflito armado, qualificando este propósito como algo “inadiável e peremptório”. 

Pablo Beltrán destacou, durante 4º ciclo de negociações, que a mesa deu um salto qualitativo depois de que as partes acordaram um cessar fogo bilateral

Foto: Reprodução/Twitter
Líderes presentes em 4ª ciclo de negociações de paz, entre o Governo da Colômbia e o ELN, realizado em Caracas, Venezuela

Guerra e paz

No entanto, enquanto em Caracas se ouviam odes à paz, no território colombiano ainda se escutava o eco dos estrondos produzidos por cargas explosivas e disparos de fuzil que sacudiram vários municípios do departamento do Cauca durante o fim de semana. 

O presidente Gustavo Petro viajou nesta segunda-feira (14) pela manhã à cidade de Popayán para presidir um conselho de segurança com autoridades civis e militares desta atormentada região do Sul do país na qual operam duas dissidências das antigas Farc, grupos paramilitares e comandos do próprio ELN.

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Neste departamento, de população majoritariamente indígena e afrodescendente, é cultivada e processada a folha de coca, assim como papoula e maconha, aproveitando suas escarpadas montanhas andinas e suas costas sobre o oceano Pacífico. 

Segundo informes, as ações militares que hoje causam luto em Cauca foram executadas por frentes do denominado Estado Maior Central das Forças Armadas Revolucionários de Colômbia (Farc), organização que recebeu há alguns meses o reconhecimento de status político por parte do governo em busca de iniciar negociações de paz. 

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Fontes do governo e desta guerrilha, que opera em quinze departamentos do país, disseram ao La Jornada que as aproximações para instalar uma mesa de diálogos, similar à já existente com o ELN, pendem na atualidade de um fio, pois as partes se acusam mutuamente de ausência de vontade política. 

Assistentes ao conselho de segurança presidido por Petro em Cauca disseram ao La Jornada que se apresentou um desolador diagnóstico da situação social do departamento, derivada – entre outras coisas – da queda da produção da coca, diante do qual o governo anunciará um plano de choque com investimento social de emergência para “sufocar as economias ilícitas” e deslegitimar a ação das forças irregulares.

Na prisão, pai de crianças que sobreviveram 40 dias na selva

Manuel Ranoque, padrasto e pai das quatro crianças indígenas que estiveram 40 dias perdidas na selva depois de um acidente aéreo no qual morreram sua mãe e mais três pessoas, passou este domingo seu primeiro dia na prisão. 

Ranoque foi acusado pela Promotoria de acesso carnal violento agravado e atos sexuais abusivos contra a sua enteada mais velha, Lesly Mucutuy, considerada a heroína da odisseia que viveram os menores, encurralados durante quase seis semanas em uma espessa zona na selva situada entre os departamentos de Caquetá e Guaviare, no Sul do país. 

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María Fátima Valencia, avó de Lesly, confirmou que sua neta teve em dias passados uma reunião com promotores, depois da qual se decidiu expedir ordem de captura contra Ranoque, que já havia sido acusado de violência intrafamiliar e abuso sexual contra a menina desde que tinha dez anos de idade. 

Embora o sindicado tenha trabalhado junto ao exército e um grupo de indígenas, durante a busca, vendendo a imagem de um homem preocupado e decidido a encontrar os quatro menores, tão logo eles foram resgatados com vida, sua família materna se opôs rotundamente a que fosse entregue a ele a custódia de Lesly (13), Soleiny (9), Noriel (4) e Cristin (1), os dois últimos seus filhos. 

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As crianças começaram sua épica batalha pela sobrevivência na manhã do dia 1º de maio passado, quando o precário avião em que viajavam de Araracuara a San José del Guaviare, pilotada por um ex-taxista, caiu no meio da selva com um saldo de quatro mortos e quatro sobreviventes, as crianças. 

Depois de comprovar que sua mãe havia falecido, as crianças maiores fizeram uma provisão com a comida que alguns passageiros levavam em sua bagagem, assim como um par de telefones celulares, fraldas descartáveis para a bebê e outros objetos que consideraram úteis. 

Daí em diante começou sua alucinante travessia através de uma selva habitada por todo tipo de insetos, répteis e mamíferos carnívoros, o que fazia a equipe de resgate prognosticar que tinham os dias contados, especialmente a menina de um ano. 

Depois de localizar os restos da aeronave, homens do exército acompanhados de cães treinados, assim como 70 nativos da região, desafiaram os obstáculos naturais que tornam quase impossível caminhar, até encontrar rastros dos sobreviventes. 

O país inteiro esteve durante semanas seguindo minuto a minuto as notícias sobre o resgate, mas com o passar dos dias foram diminuindo as expectativas de que estivessem vivos, não obstante a persistência na busca.       

Quando já se falava das “crianças tragadas pela selva”, um dos pastores alemães que participavam da busca se perdeu, fazendo a equipe de resgate pensar que talvez houvesse encontrado as crianças. 

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Um par de dias depois foram encontrados em meio a um aguaceiro topical, sentados em uns plásticos, famélicos, com feridas em todo o corpo, mas vivos, em torno de uma improvisada barraca. 

Depois foram levados à capital e internados no Hospital Militar Central, onde estiveram totalmente isolados até que se considerou que haviam recuperado suas forças, e então foram transferidos a um refúgio do Instituto estatas de Bem-estar Familiar, onde ainda se encontram. 

O relato de Lesly sobre a odisseia não só confirmou que tiveram contato com o pastor alemão, mas sim que abriu novas hipóteses que deixaram estupefato o público. 

“Porque demorou tanto o resgate, se as crianças sempre estiveram perto do lugar do sinistro e a área foi examinada com helicópteros, megafones, sensores, com 120 comandos de elite e 70 indígenas?”, perguntou o colunista Julio César Londoño no meio da celebração coletiva.

E ele mesmo respondeu com esta frase estremecedora: “Porque a selva é áspera, dizem os especialistas. Selva espessa. É provável, mas há uma hipótese dolorosa: as crianças não se perderam, estavam escondidas”. 

Se escondiam, assegurou Londoño, dos uniformes camuflados que os aterrorizavam, e também dos indígenas que os procuravam, pois entre eles estava Manuel Ranoque, o macho que os moía de pancadas quando estava bêbado”. 

Desde sua chegada a Bogotá, Ranoque pediu infrutuosamente a custódia dos menores e inclusive ameaçou com milionárias demandas, ao mesmo tempo que desmentia as versões de abuso que a avó materna dos menores fazia. 

Este fim de semana, a história tomou uma inesperada reviravolta com a detenção do pai e padrasto, e agora os olhares se dirigem ao futuro das crianças. A diretora do Instituto de Bem-estar Familiar, Astrid Cáceres, declarou que sua tarefa é “garantir os direitos dos irmãos, o que vai requerer um tempo prudente que permita proteger sua integridade até que o entorno familiar seja seguro para seu crescimento”. 

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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