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Toggle“Deus faz crescer nos campos ervas com o poder de curar e o homem sábio deve saber usá-las (Eclesiástico 38,4)”.
O senhor deve conhecer o histórico de Hildegarda de Bingen, Santa reconhecida pelo Papa Alexandre III e doutora da Igreja! Pois ela foi naturalista, teóloga e médica prática que viveu 81 anos, falecendo em 1179. Somente 50 anos após, surgiria outro santo que a suplantaria em influência na Igreja, Tomás de Aquino!
A santa Monja da pequena cidade alemã foi uma revolucionária dos costumes rompendo com o patriarcalismo reinante. Ela não somente defendeu o direito das mulheres ao prazer sexual, como tinha êxtases e visões.
O que Zanin deveria saber sobre a maconha, a descriminalização e o Brasil
A respeitabilíssima Hildergarda, que hoje deve estar pelo menos no sétimo céu próxima ao Criador (a acreditar em Dante), deixou por escrito diversas de suas experiências, quer pessoais, quer comunitárias.
Numa de suas lições, ela prescreve o consumo da semente da erva canábica faz bem ao estômago. E alertou: seu azeite diminui o mau estar e reforça o bom humor!
A santa detinha conhecimento aprofundado a respeito da cannabis. Tanto que alertou para não se usar a maconha quando a pessoa não esteja se sentindo bem (provavelmente para não mascarar outras enfermidades), “mas se estiver um pouco doente, nunca fará mal”.
Dr. Zanin, cuidado com seus votos no Supremo! Rezo para que sua excelência estruture melhor, mesmo dentro da ortodoxia religiosa, seus conhecimentos!
Foto: jcomp/Flickr
Não existe nenhuma comprovação científica que a maconha seja “porta de ingresso” para outras drogas
O cânhamo é uma planta pertencente à espécie “Cannabis sativa”
Veja doutor, o cânhamo, pai da folha e semente da canabis, é originário do continente asiático. Escavações arqueológicas no Japão confirmam que, no mínimo 10 mil anos atrás, seres humanos já coletavam suas sementes para uso.
Foram também encontrados resquícios pré-históricos na Índia, Tailândia e Malásia.
Cannabis, poderia substituir a “matéria milagrosa”?
Achados arqueológicos no território da atual China provam que, mais tardar, desde 4000 a.C., já se fabricavam têxteis com fibras de canabis. Também chineses são os primeiros registros de seu emprego na medicina: o saber a respeito é atribuído ao mítico imperador Shennong.
O livro Běn Cǎo Jīng, do primeiro milênio antes da era cristã, contém indicações sobre a cura com ervas. Nele, a ação do cânhamo é descrita explicitamente: a planta não só permitiria comunicar-se com os espíritos como relaxa o corpo. Ao mesmo tempo, alerta-se que doses excessivas poderiam levar a alucinações!
Dr. Zanin, será que Deus indicou canabis a Moisés?
O historiógrafo Heródoto, no século 5º a.C., descreveu que o povo equestre dos citas, atuais ucranianos, em seus ritos fúnebres se reuniam numa tenda, lançavam sementes da planta sobre pedras em brasa e se purificavam num banho de vapor. “Os citas se alegram com a sauna e uivam de prazer”, conta Heródoto. A palavra latina cannabis, aliás, provém do idioma cita.
Já chegamos ao monte Sinai!
A canabis tem uma longa história no judaísmo e no cristianismo. No Velho Testamento, Deus instrui Moisés para fabricar um óleo de santa unção: além de canela, mirra e azeite de oliva, ele deve usar “kaneh bosm”. Segundo a teoria da antropóloga Sula Benet (1903-1982), mais tarde o termo foi erroneamente traduzido para o grego: em vez de cálamo aromático, ele se referiria ao cânhamo, à maconha!
Em 2020, pesquisadores encontraram pelo menos um indício para essa teoria: no altar do tempo judaico de Tel Arad, em Israel, detectou-se canabis, contendo a substância tetra-hidrocanabinol (THC) que, aquecida, tem ação entorpecente.
A história continua!
Quando a Santa a abadessa Hildegard von Bingen (1098-1179) descreveu as propriedades benéficas do uso das sementes de cânhamo, a planta era empregada sobretudo na navegação e na fabricação de têxteis e papel.
Na Suécia, durante a reforma de uma igreja, em 1909, descobriu-se uma tapeçaria de 3 mil anos, datando da época dos vikings, fabricada com cânhamo! Também nas sepulturas de vikings abastados encontraram-se, como tributos funerários, roupas finas feitas com fibras da planta. Folhas de cânhamo foram igualmente decisivas na história da impressão de livros.
Uruguai enfrenta problemas com multinacionais após legalização da maconha
Johannes Gutenberg tornou a maioria de suas bíblias impressa em papel produzido com trapos de roupas e fibras de cânhamo. Cuidado nobre Ministro! Pois foi uma sorte! O papel de cânhamo é mais resistente que o de hoje em dia. Sem ele talvez a Bíblia não houvesse chegado aos dias de hoje!
E, quem sabe, sem a canabis talvez nem Cabral tivesse chegado ao Brasil. Pois, como em todos os navios da época, as velas, redes e cordas de sua frota eram feitas com cânhamo, que não apodrece nem mofa com a umidade. E aí, estas terras todas seguiriam pertencentes aos povos originais!
Vou lhe dar um exemplo: no último século, o cânhamo foi sendo substituído pelos combustíveis fósseis. Por fim, a indústria do cânhamo definhou.
Interessante notar que um dos promotores da vitória do petróleo, que aniquilou com o plástico a indústria do cânhamo foi Harry Anslinger que, como chefe do Departamento Federal de Narcóticos dos Estados Unidos, durante 30 anos se empenhou pela demonização da canabis – para felicidade da indústria petroleira!
Ministro, por favor, atualize-se!
A guerra contra a Cannabis sativa fracassou. Não só cada vez mais países legalizam o seu consumo, como numerosas empresas apostam nela, para além dos negócios com a maconha medicinal ou como droga recreativa.
Afinal de contas, a queima dos combustíveis fósseis que substituíram a venerável planta é responsável pelo aquecimento do clima global. A redescoberta e desenvolvimento de antigas tecnologias, pré-petróleo, podem não ser a cura para tudo, mas o cânhamo tem grande potencial, pelo menos como um componente de uma economia mais sustentável.
Por outro lado, nunca ocorreu no mundo overdose pelo consumo de maconha, ao contrário do álcool! Estudos científicos incontestes afirmaram que a dose mortal é de 4 quilos, com consumo ininterrupto.
E não existe nenhuma comprovação científica que a maconha seja “porta de ingresso” para outras drogas. Nada nos campos farmacológico, químico, psicológico e neurofisiológico.
Não dê ouvidos a “fake news”, Excelência!
Vale recordar. No âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas), aprovou-se, no enfrentamento às drogas, a Convenção de Nova York de 1961. Ela entrou em vigor em 1964 e estabeleceu o prazo de 25 anos para a erradicação, em todo o planeta, dos plantios de drogas proibidas: maconha, coca, papoula (heroína), etc.
O que sucedeu o senhor deve possuir noção, não?
Ainda é tempo, reveja o seu voto, purifique-se, cuide de sua alma, AMÉM!
Carlos Russo Jr. | Colunista da Diálogos do Sul em Florianópolis.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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