Pesquisar
Pesquisar

Rússia e Turquia articulam novo acordo para garantir envio de grãos a países pobres

As possíveis propostas e condições, que dependem do parecer da Ucrânia, devem ser discutidas na próxima semana
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Conteúdo da página

Os chanceleres russo, Serguei Lavrov, e turco, Hakan Fidan, se reunirão nesta quinta-feira (31) em Moscou para tentar um acordo mínimo que permita aos presidentes Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan reunirem-se na próxima semana para afastar o risco de crise alimentar que pende sobre os países mais pobres, no caso de não se alcançar um entendimento que permita exportar cereais tanto da Ucrânia como da Rússia.

Moscou e Ankara mantêm sérias diferenças em torno à Ucrânia, à Síria e ao conflito de Nagorno-Karabakh entre Armênia e Azerbaijão, mas apesar disso há indícios para considerar que os mandatários russo e turco compartilham o interesse de encontrar uma solução que poderia beneficiar a ambos, se não forem capazes de retirar os obstáculos que dificultam que os cereais e os fertilizantes cheguem àqueles que mais necessitam ao padecer da fome na África, Ásia e América Latina.

Assista na TV Diálogos do Sul

A julgar pela informação disponível, Putin e Erdogan terão sobre a mesa duas propostas: a primeira – sob garantias de que se levantarão as restrições à exportação de seus fertilizantes, acordo anterior que, na opinião da Rússia não se cumpriu – é retomar a chamada Iniciativa Alimentar do Mar Negro, que foi firmada em 2 de julho de 2022 com a mediação da Turquia e das Nações Unidas.

No entanto, não é claro, por mencionar só duas controvérsias nas quais Erdogan teria que fazer Putin mudar de opinião, que Moscou aceita desbloquear os portos ucranianos ou que renuncia à sua demanda de incorporar o RoszelJoz Bank, o banco agrário da Rússia, ao sistema de transferências internacionais SWIFT.

Continua após o banner

E a segunda – se fracassar a ideia de restabelecer o pacto dos cereais, suspendido por Moscou a partir de 18 de julho e que permitiu a Kiev exportar seus grãos a partir de três portos –, seria uma solução parcial que dificilmente agradaria à Ucrânia, a menos que inclua garantias de que a Rússia não mais atacaria seus silos na zona do Danúbio nem as infraestruturas portuárias do mar Negro, deixando-lhe a via livre para exportar seus cereais pela via fluvial e terrestre. 

As possíveis propostas e condições, que dependem do parecer da Ucrânia, devem ser discutidas na próxima semana

Foto: MRE da Rússia
Os chanceleres turco, Hakan Fidan, e russo, Serguei Lavrov

Ação conjunta

A iniciativa turca – a chancelaria russa sustenta que Putin o propôs a Erdogan em sua conversa telefônica do passado 2 de agosto – consiste em adquirir um milhão de toneladas de grãos russos a preço reduzido para moer em empresas turcas e enviar a farinha aos países mais necessitados, com o apoio financeiro do emirado do Qatar. 

Das conversações dos chefes das respectivas diplomacias depende a data em que os mandatários se reúnam para selar um dos dois itens do acordo. 

Após acordo nuclear, Rússia e Turquia decidem doar grãos para África, Ásia e América Latina

A Turquia, cujo chanceler viajou na semana passada a Kiev para informar ao presidente Volodymyr Zelensky suas gestões, quer que o encontro entre Putin e Erdogan seja levado a cabo na próxima semana, em 4 de setembro, no balneário russo de Sochi. 

Assim o informou o governo turco ao canal de televisão Habertürk, data e lugar que o Kremlin não confirmou, cujo porta-voz, Dmitri Peskov, se limitou a dizer no começo desta semana que “a reunião dos mandatários terá lugar em um futuro próximo”. De modo extra oficial, se comenta que a Rússia preferiria que a reunião de Putin e Erdogan se produza em 8 de setembro ou pelo menos perto do dia 9, quando começará em Nova Delhi a cúpula do G20.

Continua após o banner

A única certeza é que Erdogan terá que vir à Rússia, pois Putin declinou seu convite para viajar a Turquia, da mesma forma que recusou ir ao encontro na Índia com seus colegas do G20, depois que tomou a decisão de reduzir ao máximo suas viagens a outros países enquanto a Corte Penal Internacional de Haia mantém a ordem de apreensão contra ele por supostos crimes de guerra, que o Kremlin rechaça de maneira enfática.

Grande ataque

Entretanto, a Ucrânia efetuou nesta quarta-feira, tanto na madrugada como no resto do dia, o maior ataque com drones contra a península da Criméia e outras seis regiões da Rússia desde que começou a guerra há um ano e meio. 

O aeródromo militar de Pskov, a 700 quilômetros de Moscou e próximo à fronteira com dois países da aliança norte-atlântica, Estônia e Letônia, recebeu cerca de 20 aparatos não tripulados, ataque que destruiu um Ilyushin-76 e danificou pelo menos outros quatro aviões de transporte desse tipo, segundo a agência TASS e autoridades regionais. 

Rússia: Único objetivo da “fórmula de paz” de Zelensky é prolongar conflito

Aleksandr Bogomaz, governador de Briansk, a 350 quilômetros da capital russa, informou que a defesa antiaérea derrubou na madrugada seis drones e um a mais pela tarde. Seu colega da região de Oriol, a 300 quilômetros de Moscou, Andrei Klichkov, disse que durante a madrugada caíram dois drones e outro mais de dia “neutralizados com recursos rádio eletrônicos que os desviaram de sua trajetória”. 

Da mesma forma, as autoridades de Kaluga, a 200 quilômetros de Moscou, e Voronezh, na fronteira com a Ucrânia, reportaram ataques com um número não especificado de drones que “não causaram vítimas nem danos materiais”.

Continua após o banner

O ministério da Defesa russo, por sua vez, deu a conhecer que durante a madrugada destruiu “alvos militares” com mísseis de cruzeiro e drones em Kiev e outras regiões ucranianas, enquanto o comandante-chefe do exército da Ucrânia, general Valeri Zaluzhny, assegurou que derrubaram os 28 mísseis e 15 de 16 drones. 

O porta-voz militar russo, Igor Konashenkov, também afirmou que aviões russos afundaram duas lanchas rápidas da armada ucraniana perto da Ilha das Serpentes, no Mar Negro, que a Rússia ocupou em fevereiro de 2022 e a Ucrânia recuperou em 30 de junho do mesmo ano.

Neste momento, os combates mais ferozes entre as tropas russas e ucranianas estão localizados na frente Sul, na região de Zaporizhia. Os russos buscam controlar a cidade de Verbovoe, e os ucranianos, encorajados por terem libertado a vizinha Rabotino, concentram seus ataques no ponto da primeira linha de defesa na estrada para Tokmak, um entroncamento rodoviário e ferroviário crucial para a logística do exército russo na área.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado; Musk é o maior beneficiado
Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado dos EUA; maior beneficiado é Musk
Modelo falido polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso (2)
Modelo falido: polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso
Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito