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Não brinque de roleta russa com a Covid-19: "Eu sobrevivi. Mas 39 mil pessoas não"

Nailson Costa, 30 anos, é morador do Capão Redondo e editor da Capão News, página de notícias sobre essa região periférica na Zona Sul de São Paulo. Saudável e sem doenças crônicas, ele foi infectado pelo coronavírus e passou 14 dias isolado
Nailson Costa
Periferia Em Movimento
São Paulo

Tradução:

Eu sobrevivi. Mas 39 mil pessoas não. É muito louco pensar que estamos numa guerra em 2020 contra um vírus. Uma guerra silenciosa. Não há barulho de tiros, bombas ou explosões. Apenas um vírus que invade seu corpo sem pedir licença. Não é uma gripezinha ou resfriadinho. É muito pior.

É uma roleta russa.

Você teria coragem de colocar uma bala calibre .38 no tambor de um revólver, girar, fechar, apontar o cano pra sua cabeça e puxar o gatilho? Creio que não.

Então não me venha com esse papo de “todo mundo vai pegar o vírus ou prefiro pegar agora enquanto ainda tem leito”. Prefira não pegar, imbecil. Não use esse argumento para relaxar o distanciamento social e correr risco de morte.

Nailson Costa, 30 anos, é morador do Capão Redondo e editor da Capão News, página de notícias sobre essa região periférica na Zona Sul de São Paulo. Saudável e sem doenças crônicas, ele foi infectado pelo coronavírus e passou 14 dias isolado

Reprodução: Facebook
Nailson Costa, 30 anos, é morador do Capão Redondo e editor da Capão News

Eu peguei COVID. Minha mãe pegou COVID. Minha irmã pegou COVID.

Todos nós seguíamos à risca o isolamento social quando essa merda aconteceu. Dos três, eu fui o que mais sofri. Jovem, sem doenças crônicas, 30 anos de idade.

Por diversas madrugadas, com corpo dolorido, fraco, suado, imerso na minha cama, pensei que morreria. Tive muito medo. Medo por mim, por minha família. É uma luta do seu corpo contra um vírus desconhecido. Mas também é uma luta sua contra sua mente, essa bastante conhecida.

Confesso que quase perdi.

No alto da doença, com uma febre de 39 graus, senti medo de nunca mais sentir coisas boas, me emocionar com uma música, com um filme, com coisas simples. O medo da morte nos faz pensar em tudo que ainda gostaríamos de fazer na vida.

Senti falta da brisa do vento soprando meu rosto enquanto ando de moto, do sol queimando minha pele na tarde de um domingo. Em vez disso, senti uma febre me transformar em labareda sem fogo, que me fez delirar, me fez gemer de dor.

Céus, como tive medo!

Foram cerca de 14 dias em que me desliguei do mundo externo. Não via mais notícias sobre a doença, cenário político, protestos ou qualquer outra coisa. Meu foco era apenas ficar bem. Sobreviver. Me desligar, me fez bem. Me ajudou a lidar com o que tinha que lidar.

Namorada, amigos, família e alguns vizinhos foram essenciais nesse período complicado. Sem eles, eu surtaria. Sou eternamente grato por me ajudarem.

Hoje me sinto muito melhor. Não 100% ainda, pois o coronavírus debilita muito a saúde. Mas, porra, me sinto bem como há muito não me sentia.

Já chorei ouvindo João Gilberto, Adoniran Barbosa, Cartola. Já chorei olhando para o céu azul e até assistindo Footloose, 2011. Inclusive, chorava ao mesmo tempo que dançava de forma tosca na minha cadeira.

É muito bom estar vivo. Mas 36 mil pessoas não tiveram a mesma sorte que a minha. E isso, meus amigos, isso é algo que me machuca todos os dias. Conseguem sentir o mesmo?

Não brinque de roleta russa com essa doença. Leve o isolamento a sério. Um dia tudo isso vai passar e de alguma forma tentaremos levar a vida dentro de uma possível normalidade, mesmo sabendo que nada mais será como antes.

Precisamos ficar bem.

Cuide-se. Proteja sua família e faça o possível para ficar bem.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Nailson Costa

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