Pesquisar
Pesquisar

Sergio Moro abandona o barco: grande artista ou não, um rato continua sendo um rato

Que não passe pela cabeça de ninguém convidar o referido para compor uma destas frentes amplas de salvação nacional de que se está a falar tanto
Valter Pomar
Diálogos do Sul Global
Campinas (SP)

Tradução:

Conteúdo da página

O pronunciamento de Moro, ex-juiz e agora ex-ministro, merece ser estudado com atenção. Estudado, especialmente, pelos estudantes de artes tragicômicas. 

Em primeiro lugar, porque o referido é um grande artista. Contribuiu para um golpe de Estado contra uma presidenta honesta.

Garantiu a condenação e a prisão de um inocente. Foi, assim, fundamental para a eleição de um bandido.

Saiba+
“Você olha para Sergio Moro e não vê a cara da Justiça”, afirma o escritor Tariq Ali

Aceitou ser nomeado ministro “da justiça e segurança pública” de uma quadrilha. Durante sua gestão como ministro, não incomodou nenhum dos bandidos que o cercavam.

E agora pede demissão por que não aceita “interferência política” na nomeação do Diretor Geral da Polícia Federal? E ainda afirma que tem uma biografia a zelar?

Que não passe pela cabeça de ninguém convidar o referido para compor uma destas frentes amplas de salvação nacional de que se está a falar tanto

Reprodução
Um ponto alto da interferência foi a nomeação do próprio Moro, que manipulou o processo judicial para interferir nas eleições de 2018

Rule of law?

Há muitas coisas a dizer, sobre a performance recém concluída do referido. Falemos, por enquanto, do momento mais engenhoso: a referência aos governos petistas. Disse que naqueles governos, que ele considera corruptos, não houve interferência política na Polícia Federal.

Por tabela, sugeriu que o cavernícola estaria se comportando pior do que a petralha.

Ocorre o seguinte: o cavernícola interferiu na PF e no MJ, com várias finalidades, entre as quais podemos citar:

a) proteger os crimes de seu clã;

b) facilitar as negociações de uma nova maioria congressual;

c) ter maior controle sobre a Polícia Federal nos “tempos de guerra”, etc.

Sobre o tema
A milícia judicial de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol é publicamente desmascarada

Aliás, um ponto alto da interferência foi a nomeação do próprio Moro, que manipulou o processo judicial para interferir nas eleições de 2018 (um exemplo disto foi citado na coletiva à imprensa: a obstrução da justiça contra o habeas corpus de Lula).

O que o “presidente” fez e faz, portanto, não pode ser denominado de “interferência política”. O que o cavernícola fez e faz é manipulação criminosa.

Já a presidenta Dilma Rousseff e o presidente Lula deixaram de interferir na PF e no MJ, quando isto era necessário para defender a democracia e o Estado de Direito contra um golpe em marcha.

Foram prisioneiros de um republicanismo ingênuo.  A comparação feita por Moro não cabe, portanto.

Sobre o tema
Wikileaks: Os EUA criaram curso para treinar Moro e juristas

Mas precisava ser feita, porque o ex-juiz precisa reconstruir sua imagem, agora como anti-petista e pós-bolsonarista.

Seja para 2022, seja a qualquer momento, pois sua saída do ministério aumentará a pressão contra o governo Bolsonaro.

Curiosamente, a coletiva é muito reveladora do esforço que o ex-juiz fez para continuar no ministério.

Assim, só os acontecimentos poderão confirmar ser ou não verdade que certo tipo de animal abandona navios, porque percebe com antecipação que estão a afundar. E saberemos também (aproveitando a dica de um colega de trabalho) se o rato é mais ou menos perigoso que antes.

Seja como for, espero que não passe pela cabeça de ninguém convidar o referido para compor uma destas frentes amplas de salvação nacional de que se está a falar tanto.

Afinal, grande artista ou não, um rato continua sendo um rato.

Valter Pomar, professor de relações internacionais na UFABC e membro do Diretório Nacional do PT – Partido dos Trabalhadores


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Valter Pomar

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Apec Peru China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Apec no Peru: China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha (4)
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha