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Coronavírus e barbárie capitalista: na Itália, escolhe-se quem vive e quem morre

No que constitui uma virtual sentença de morte, no norte da Itália se discute a possibilidade de não se atender as pessoas com mais de 80 anos de idade
Eduardo Castilla
Esquerda Diário
Lisboa

Tradução:

No domingo à noite, recebemos um “tapa na cara”. Sentados na frente do computador ou olhando para a tela do celular, o golpe teve a mesma aspereza. Não foi a conferência de imprensa do governo argentino, que teve um final quase cantado. As notícias ocorreram a milhares de quilômetros da residência de Buenos Aires, no norte da Itália.

Ali, na região do Piemonte, as autoridades sanitárias apresentaram uma espécie de sentença de morte para os maiores de 80 anos. O que eles chamam de “colapso da saúde” tornaria impossível cuidar daqueles que têm “poucas chances de sobrevivência”.

Como essas chances são determinadas, por quem, e quem define quão baixas elas são? A vida e a morte das pessoas fica nas mãos de uma burocracia que, respondendo às hierarquias do Estado capitalista, decide sobre a continuidade ou interrupção de um ciclo de vida. De muitos. De centenas ou milhares.

Mas o “colapso da saúde” não é um evento natural. É o resultado de uma deterioração progressiva e constante dos sistemas de saúde. Deterioração imposta pelas políticas de ajuste que foram criadas e recriadas desde a crise do Lehman Brothers, continuando essa tarefa iniciada há décadas, com o ciclo neoliberal.

No que constitui uma virtual sentença de morte, no norte da Itália se discute a possibilidade de não se atender as pessoas com mais de 80 anos de idade

La Isquierda Diário
Como essas chances são determinadas, por quem, e quem define quão baixas elas são? A vida e a morte das pessoas fica nas mãos da burocracia?

Os Estados que correram para salvar os grandes bancos ficaram “sem recursos” para atender à saúde de milhões de pessoas. Essa opção política impõe hoje a decisão assustadora e condenável dos que vivem e dos que morrem.

Na Itália que condena à morte os maiores de 80 anos, este colapso parece quase planejado. Na última década, o sistema de saúde perdeu 37 bilhões de euros no orçamento. Também perdeu dezenas de milhares de médicos e enfermeiros.

A vida dos idosos é há muito apresentada como um “fardo” sobre as contas públicas dos estados capitalistas. Uma ofensiva contra os sistemas de pensões recorre o mundo há pouco mais de cinco anos. O aumento da esperança de vida funciona como um argumento para trazer à tona cortes, modificações e várias reformas. Atrás deles esconde-se – embora não tanto – a eterna reivindicação liberal contra o “gasto excessivo” dos governos.

O aforismo Rosaluxemburguista do “socialismo ou da barbárie” está recuperando toda a sua força, e está se renovando a cada momento. O coronavírus e a crise econômica nos lembram que o capital só pode oferecer um mundo de privação, miséria e decadência para a grande maioria do globo.

Na sua luta contra a pandemia, o estado burguês só tem a oferecer um marasmo que combina um caótico descontrole organizacional com uma severa vigilância sobre o povo. Quando esse menu falha, a barbárie emerge de forma desprezível.

Esta segunda-feira uma enorme rebelião varreu o estado espanhol. Como seus irmãos e irmãs na Itália há alguns dias, a classe trabalhadora daquele país recusou-se a ser “carne de matadouro”. Suas vidas foram colocadas acima dos interesses dos grandes negócios, colocando um freio na busca ilimitada de acumular mais-valia.

Os trabalhadores que se rebelam hoje contra a ânsia de riqueza do capital são os mais velhos de amanhã. Com suas rebeliões, mesmo inicialmente, eles mostram uma maneira de superar o limiar de decadência de um sistema que torna a grande maioria da humanidade miserável. Isso lança uma sombra sobre o futuro de quase todos os seres vivos. Em suas mãos – e nas mãos da classe trabalhadora e dos pobres do mundo – está explodir um sistema que só pode oferecer morte e miséria.

Eduardo Castilla é jornalista de Esquerda Diário


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Eduardo Castilla

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