Frente ao mal manejo do coronavírus por Trump, que foi quem primeiro declarou que tudo estava “sob controle” e se autoelogiou por seu conhecimento de epidemias e ainda proclamou que foi por sua audaz decisão de “fechar fronteiras” que limitou o impacto, e enquanto seu regime acusava especialistas e a mídia que se atrevem a contradizer o presidente de usar o temor da epidemia como arma política para afundar o comandante em chefe, cada vez mais especialistas, políticos e analistas sinalizam que um dos maiores perigos desta crise médica é o presidente. O governador Andrew Cuomo, de Nova York, entre outros, solicitou publicamente a seus cidadãos não escutarem a Casa Branca e seus sócios no que se refere a esta crise.
Portanto, talvez seja necessário enfrentar um fechamento da fronteira com os Estados Unidos até que suas autoridades demonstrem capacidade para manejar esta crise de saúde pública.
Por outro lado, depois que Trump exonerou vários criminosos de colarinho branco há umas duas semanas – incluindo o ex-governador de Illinois que tentou vender uma curul do Senado ao melhor comprador, Michael Milken, que cometeu fraudes financeiras e o ex-chefe de polícia de Nova York, que cometeu fraude em seus impostos – o New Yorker relatou que o México estava impondo maiores controles em sua fronteira e que o Presidente López Obrador pôs em alerta seus agentes fronteiriços para evitar o ingresso destes criminosos exonerados, declarando que “estão trazendo subornos, evasão de impostos, crime organizado”. Também informou que tinha se comunicado com Trump para adverti-lo de que não enviasse estes criminosos ao México: “disse-lhe que encontrasse lugares para eles em seu gabinete”.
Facebook López Obrador / Reprodução
O Presidente López Obrador pôs em alerta seus agentes fronteiriços para evitar o ingresso destes criminosos exonerados por Trump
A reportagem do comediante Andy Borowitz é satírica, mas talvez esta medida devesse ser levada a sério já que no círculo de sócios de Trump cada vez há mais pessoas judicialmente acusadas ou sob investigação, incluindo seu velho amigo Roger Stone, seu ex advogado pessoal Michael Cohen e seu atual advogado privado Rudy Giuliani -todos com antecedentes internacionais em atividades suspeitas e possivelmente corruptas que poderiam ameaçar outros países.
Em outra latitude, um editorial recente do New York Times relata como Trump provocou uma deterioração de ordem constitucional do império ao impor-se como árbitro supremo da lei. “Isto está no perfil de autocratas por todo o mundo: usam a lei como arma para ajudar a si mesmos e a seus amigos e prejudicar seus inimigos”, adverte o jornal. Diante disso, talvez seja necessário que se enfrente o fechamento da fronteira diante de uma possível crise da democracia no país vizinho (talvez se devesse enviar uma missão da OEA?)
Por outra parte, as ações anti-migrantes por forças de segurança pública armadas põem em risco, às vezes mortal, conacionais por todo o país. Um turista mexicano em Nova York foi recentemente baleado na cara por um agente federal. Além de ver fecharem-se fronteiras por estas ações, talvez seja urgente emitir um alerta a todo turista latino americano que deseje viajar ao norte dizendo-lhes que as condições nos Estados Unidos neste governo implicam em riscos a seus direitos e até a suas vidas.
A onda de ódio racial, expressões xenófobas e luz verde implícita a forças direitistas por esta Casa Branca também geram um clima perigoso para todos dentro dos Estados Unidos e deveriam ser tomadas medidas para assegurar que isso não cruze a fronteira dos Estados Unidos com o sul.
E nem falar do fluxo descontrolado de armas de fogo, de norte a sul.
Tudo isto representa um perigo para a segurança pública e nacional do México e de outros países latino americanos e talvez seja a hora de enfrentar o fechamento da fronteira com os Estados Unidos até que Washington demonstre avanços no controle da saúde pública, corrupção, defesa de instituições democráticas, violência oficial e respeito pleno aos direitos humanos, liberdades civis e ao império da lei.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
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Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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