Segundo reportagens e denuncias de moradores, mais de dez bairros da cidade do Rio de Janeiro podem estar desde sexta feira (03) sem fornecimento regular de água potável. Moradores apontam que água da torneira não sai mais incolor, tendo, muitas vezes, uma espuma amarela e um odor ruim.
Segundo reportagem do jornal O Dia, os bairros de Campo Grande, Ricardo de Albuquerque, Deodoro, Santa Cruz, Pedra de Guaratiba, Jacarepaguá, Costa Barros, Anchieta, Paciência, Piedade e Brás de Pina seriam os principais afetados. Combinados, esses bairros possuem uma população de mais de 1,1 milhão de pessoas.
Habitantes da região denunciam as condições insalubres. “Quando a gente abre a torneira, vem aquele cheiro podre, que dá nojo. Nem parece água, está mais para esgoto” relata Jaqueline Leocadio, estudante de Serviço Social de 37 anos, moradora de Paciência. Segundo Jaqueline, a opção para quem não pode pagar por água engarrafada é ferver a água da torneira. “Quem tem condições, compra (água mineral). Quem não tem, ferve a suja. A gente precisa de ajuda, e a Cedae tem que resolver”, denuncia. Várias pessoas já ficaram doentes devido ao consumo da água suja, como é o caso da copeira Raquel Alves, de 32 anos, cujas duas filhas ficaram com febre e dores de barriga após consumirem a água que chega em sua casa. “O gosto da água não mudou, mas quando abrimos a torneira, vem com uma espuma e amarela. As minhas filhas, de 7 e 12 anos, ficaram doentes. Nos primeiros dias do problema, comprei água mineral. Mas não dá para ficar comprando sempre. Passei a ferver a água da torneira antes de usar”, conta.
Gilvan de Souza
Moradora do bairro de Paciência, mostra a diferença entre a água mineral e a que está saindo das torneiras
Trata-se de só alguns exemplos da perspectiva de abandono e desespero em que vive grande parte da população da cidade do Rio de Janeiro. A população pobre e periférica da cidade do Rio mais uma vez sofre o descaso dos governos e sistemática desvantagem estrutural proveniente da segregação socioespacial de uma cidade construída de acordo com os interesses capitalistas de uma elite financeira e política.
Sem acesso ao fornecimento de água limpa, com um sistema de saneamento muito aquém das necessidades básicas da população pobre, e assistindo a Cedae – sua única fonte consistente de água – ser crescentemente sucateada, os moradores das zonas norte e oeste do Rio lutam para se sustentar sem sequer poder arcar com os custos de comprar água limpa – uma necessidade vital, elevado ao patamar de bem de luxo, do ponto de vista dos mais pobres.
Infectologistas e sanitaristas alertam para os riscos iminentes ao consumo da água, prevendo um risco de saúde que pode acometer uma população já deixada à deriva com o sucateamento dos serviços de saúde a nível municipal.
A Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) até agora não identificou publicamente uma causa para a sujeira da água, e afirmou, em nota de sua assessoria, afirmou que, em uma análise preliminar feita em uma unidade de abastecimento do macrossistema do Rio, a água se encontrava “dentro dos padrões de potabilidade, atendendo aos indicadores estabelecidos pelas normas do Ministério da Saúde”. Mais 150 amostras foram feitas posteriormente pela empresa e levadas para testes laboratoriais, mas nenhum resultado foi divulgado ainda.
O constante e reiterado desrespeito aos mais fundamentais direitos a uma vida digna, boa saúde e bem estar da população mais pobre são marcas de um país, uma economia, e uma infraestrutura urbana construídos com base na máxima exploração e precarização da vida de amplas camadas da população, enquanto enriquecem os poucos que, compondo historicamente a elite política e econômica do país, gozam como privilégio dos direitos básicos negados às grandes maiorias. Esse projeto, sobretudo, é representado hoje pela extrema direita e pelos setores herdeiros do golpismo, que avançam com sangue nos olhos contra as condições de vida da população, que já se encontram em declínio, com metade da população vivendo com bem menos de meio salário mínimo por mês, destes, mais de 10 milhões vivem com uma média de R$51 mensais.
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