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ToggleA crise da democracia liberal é algo que tem provocado acalorados debates políticos e intelectuais. A América Latina é um ótimo objeto de estudo neste sentido. Temos assistido a uma série de protestos — à direita e à esquerda — nos últimos anos.
A imprensa corre para taxar os processos históricos e políticos e assim definir a narrativa hegemônica para os mesmos. É neste contexto que o jornal Folha de S. Paulo definiu, em 2017, que o presidente venezuelano é, na verdade, um ditador e o autoproclamado Juan Guaidó é o legítimo mandatário do país, quando nem os venezuelanos o reconhecem como tal.
Em entrevista concedida à ComunicaSul/ Diálogos do Sul, o politólogo e sociólogo argentino Atílio Borón, professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), é taxativo: “a ditadura mais importante que temos na América Latina hoje é a de Piñera”. Sobre o Brasil, ele observou que ainda não se trata de um regime de exceção, mas o governo Bolsonaro “está a caminho disso”.
Até o momento, cerca de 20 pessoas morreram, mais de cem perderam ao menos um dos olhos e outras centenas ficaram feridas devido à repressão de policiais chilenos, chamados de carabineiros. Os presos já ultrapassam os 5 mil. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicitou uma visita ao país para averiguar a situação in loco.
INDH RM
Carabineiros, no Chile, agridem manifestantes durante protestos populares contra presidente Piñera
Nesta conversa (cuja terceira parte publicamos hoje e você pode ler aqui e aqui), Borón considera que “Bolsonaro é um homem que está disposto a transformar o Brasil em uma colônia dos Estados Unidos” e manifesta contrariedade com o fato de que o país tem renunciado à “vocação” de exercer uma liderança “como um irmão mais velho” na América do Sul.
O farol do Chile
Voltando ao Chile, tema que tem provocado inflamados debates nas redes, ruas, escolas e bares, Borón avalia que onda de protestos no país sinalizam que nau capitânica do neoliberalismo naufragou. Assim, não será mais possível que intelectuais, políticos e escritores defendam o modelo chileno.
“Hoje, segundo dados do Banco Mundial, o Chile se tornou o oitavo mais desigual do planeta, juntamente com Ruanda, um dos países mais pobres da África”. Assim, “só muitas pessoas estúpidas podem comprar esse relato de que com o neoliberalismo se cresce, de que com o neoliberalismo a renda e a riqueza são distribuídas”.
Brasil
A aparecente inércia em que o Brasil se encontra, em termos de mobilização popular, é vista por Borón quase como a calmaria que antecede a tempestade. “Há um mar profundo que está se formando e que é importante, acho que pode produzir, digamos, algumas novidades. Por algum motivo mantêm Lula preso, porque se a situação estivesse tão boa, como eles dizem, teriam deixado ele concorrer”.
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