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Entenda a importância de Cuba no processo libertador dos países da América Latina

Somente nos países onde produziu-se uma Revolução, tem sido realmente possível defender os interesses dos povos
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Entre 29 e 31 deste mês terá lugar em Havana um importante evento relativo à incidência de Cuba no processo libertador da América Latina. Em uma circunstância como esta, quando os povos de nosso continente se levantam combatendo vigorosamente o “modelo” neoliberal e buscam uma saída mais justa e mais humana que responda às demandas da cidadania, refletir em torno deste tema constitui quase um dever. 

Temos sido testemunhas nas últimas semanas de dois acontecimentos de singular importância continental: a rebelião popular gestada no Equador contra um governo que traiu os postulados para os quais fora eleito; e a batalha de massas travada no Chile contra o regime de Sebastián Piñera que finalmente recorreu ao fascismo para enfrentar a ira das massas. 

O cenário boliviano que projeta a figura de Evo Morales confirmado por seu povo e uma assonada golpista atiçada pela reação interna e pela administração norte-americana, complementa um convulso cenário continental e ajuda a esboçar uma ideia básica para nosso tempo. 

É claro que em amplos setores do movimento popular, vive-se um clima crescente de descontentamento diante das iniquidades da sociedade capitalista. Pode-se assegurar que todos estamos contra o que constitui a essência da sociedade capitalista: a exploração do homem pelo homem. Recusamos a injustiça social, condenamos a guerra, rechaçamos as desigualdades que fluem da sociedade em nosso tempo e nos declaramos inimigos de todos os abusos e maldades das quais se orgulha a classe dominante em cada um de nossos países. Em tudo isso – e talvez em muito mais – temos unidade de critério e – o que é mais importante – a possibilidade de somar forças para combater estas expressões horrendas.

O problema, que alude no fundo à crise do sistema mundial de dominação vigente pode dar lugar a uma primeira diferença substantiva, que se estriba na formação de como fazer para terminar com isso.  A partir dessa interrogante, assomam sempre dois enfoques. E este tema não é novo. Em nosso país foi colocado descaradamente por José Carlos Mariátegui em 15 de junho de 1923 na primeira palestra que fez referente à crise mundial. Ali nos disse que as forças proletárias europeias se achavam divididas em dois grandes bandos: reformistas e revolucionários.

Somente nos países onde produziu-se uma Revolução, tem sido realmente possível defender os interesses dos povos

Wikimedia Commons
Símbolos revolucionários

Revolução Social

Para uns, – e entre eles estava Mariátegui e estamos nós – é possível construir uma nova sociedade só demolindo a atual, mudando de raiz as estruturas de dominação vigentes e forjando uma nova ordem social, mais humana e mais justa. Esta tarefa só será possível mediante uma Revolução Social que nos permita começar de baixo a tarefa de forjar o futuro. Por isso, nós nos definimos como revolucionários. 

Mas a nosso lado, há outras forças que creem que essa é uma posição extrema. Incubam a ideia de transformar a sociedade de outra maneira, modificando suas expressões mais equívocas, sanando suas injustiças flagrantes. Convertem-se assim em porta-bandeiras das posições evolucionistas, reformistas, sem que o termo seja usado de modo pejorativo. 

Do nosso ponto de vista, as reformas podem ajudar e ser úteis. Pensamos que as reformas podem ocorrer antes de uma revolução, durante uma revolução ou inclusive depois de uma revolução. O que não poderá ocorrer é que as reformas substituam uma Revolução. Nesse marco, nos parece profundamente errado considerar que mediante reformas podem ser feitas mudanças radicais na sociedade capitalista, de modo que já não seja necessária uma Revolução. 

Dilema latino-americano

O processo social latino-americano hoje está colocado nesse dilema. Forças avançadas, progressistas, interessadas genuinamente na luta por atender as necessidades dos povos, agem convencidas de que sim, que é possível fazer mudanças no marco da sociedade capitalista, sem recusar sua essência. No fundo, alternativas tão sugestivas como o processo brasileiro de Lula Da Silva e Dilma Rousseff, sustentaram esse ideia. Também o fizeram Néstor e Cristina Kirchner na Argentina. E o Presidente Rafael Correa, no Equador. Essa mesma opção, sem dúvida, a encarnaram os expoentes da Frente Ampla do Uruguai, José Mujica e Tabaré Vásquez. 

Seu empenho principal no governo foi – com a melhor intenção – diminuir os índices de pobreza, acabar com a desnutrição infantil, amparar os mais necessitados. E investiram imensos recursos em programas orientados ao cumprimento dessas metas. Nesse marco, “pactuaram” com setores da burguesia comprometendo-se a não afetar seus interesses, em troca de seu apoio ou, no máximo, de sua neutralidade diante de suas políticas de governo. 

A intenção que os levou a essa ideia, não é má. Nem tampouco é, em si mesma, má a ideia de andar por esse caminho. O que acontece é que esse caminho se esgota, termina, e não consegue seus propósitos. Salvo no caso do Uruguai, as forças que impulsionaram essas mudanças perderam o poder, e foram excluídas de um processo de definições. Suas posições foram afetadas por Golpes de Estado efetuados de uma ou outra maneira, como ocorreu em Honduras, no Paraguai, ou mesmo no Brasil, no caso de Dilma Rousseff.

A falta de preparação política das massas, a carência de uma organização que lute no terreno concreto, a divisão do movimento popular resultaram elementos fatais em cada um desses casos. Eles explicaram o desenlace ocorrido, mas na verdade eludiram o tema de fundo: é realmente possível fazer essas mudanças no marco da sociedade capitalista?

Os que acreditam que sim, são muitas vezes forças sadias que merecem o maior apoio e a mais franca solidariedade; mas no fundo, foram vítimas dos limites que eles mesmos se impuseram. A vida lhes demonstrou que esse caminho está fechado; que as reformas não mudam a essência da sociedade; e que os povos do nosso continente não têm outro caminho, a não ser a Revolução Social.

Defesa dos interesses dos povos

Definitivamente, nos países nos quais se marcharam por esse caminho, onde produziu-se uma Revolução, tem sido realmente possível defender os interesses dos povos. Isso é confirmado pela subsistência de Cuba, da Nicarágua Sandinista e da Venezuela de hoje, que está fazendo seu caminho revolucionário enfrentando com heroísmo e destreza as mais duras agressões do Império. 

As reformas ajudam, mas não resolvem. Essa é uma das primeiras lições que se pode extrair da Revolução Cubana. Sustentar isso, não significa alentar a ideia de que aqui se há de fazer “como em Cuba”, ou “como na Nicarágua” ou “como na Venezuela”. Não! Significa simplesmente dizer que aqui há que se fazer uma Revolução e não alentar a ideia de que as reformas serão suficientes.  Elas poderão abrir um caminho, mas em uma ou outra circunstância será indispensável “dar o salto” e pegar o touro pelos chifres. Acreditar nisso é ser consciente de que nesta parte do mundo, vive-se um período revolucionário. Assim sustentou o Amauta. 

 *Gustavo Espinoza M*, Colaborador de Diálogos do Sul desde Lima, Peru.

**Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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