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Doria mira no Planalto enquanto tenta favorecer Covas na disputa pela Prefeitura

Depois de tornar a cidade de São Paulo trampolim para presidência em 2018, governador investe na capital como base da nova tentativa de chegar a Brasília
Amaro Augusto Dornelles
Diálogos do Sul Global
Porto Alegre (RS)

Tradução:

João Agripino da Costa Doria Júnior, o João Doria governador SP, é empresário, jornalista, publicitário — além de tucano desde 2001. No alvorecer de setembro deste ano — a um ano da eleição municipal — o atual inquilino do Palácio Bandeirantes anunciou um “socorro” de R$ 550 milhões para Bruno Covas, seu herdeiro na Prefeitura.

O recurso já tem destino certo: “vai pra Zona Sul de São Paulo, Avenida M’Boi Mirim. E também para a Zona Norte, na rua Raimundo Pereira Magalhães”, aponta Alfredo Alves Cavalcante, o vereador Alfredinho (PT), natural de  Oeiras (PI) — morador da Zona Sul há 30 anos. 

Pra ele, o investimento anunciado é só eleitoral, de quem quer “levantar o prefeito” a fim de ter base sólida para o lançamento de sua candidatura à presidência da República.

Com a convicção de quem acompanha o dia-a-dia da administração, Cavalcante diz que o investimento só deve começar entre o final do ano e o início do próximo. As obras devem ficar para o próximo prefeito tocar. Mesmo com o sucesso “doriano” nos dois últimos pleitos, o petista diz que o ex-prefeito só recebe avaliação positiva no quesito marketing. Não há como negar: “ele investiu muito mais em publicidade, autopromoção e propaganda” do que as gestões anteriores, observa. 

Os paulistanos têm percebido que praticamente não há obras e ações efetivas na cidade. Doria assumiu a capital já preocupado em ser presidente da República. Depois, se conformou em governar São Paulo.

“Ele usou o cargo pra reforçar suas intenções e foi muito competente nisso. Passou a imagem de que a cidade vivia uma calamidade”, reconhece o vereador. Quem não se lembra dele vestido de gari, ciclista, ou pilotando cadeira de rodas? “Tudo fartamente noticiado nas redes sociais. A eficiência foi como comunicador. Tudo ilusão, história pura.”

Depois de tornar a cidade de São Paulo trampolim para presidência em 2018, governador investe na capital como base da nova tentativa de chegar a Brasília

Prefeitura de São Paulo
João Dória e Bruno Covas

Trampolim Paulistano

Para o sociólogo Américo Sampaio, especializado em gestão pública municipal e comentarista da rádio CBN, a gestão Doria tornou-se mero trampolim para os voos mais altos da ave de longo bico e curtas asas: “O estratagema fica muito evidente porque em toda a gestão dele como prefeito (1,4 mês) todas as políticas e posturas, tinham como objetivo abrir possibilidades dele disputar a presidência da República, deixando de lado a gestão da cidade”. 

Na prática, João Agripino Doria Júnior nunca foi, de fato, prefeito. Ele sempre buscou algum benefício na relação com a cidade. O objetivo — perseguido sempre — era abrir oportunidades pra disputar a poder central da União — deixando de lado a gestão da maior cidade Hemisfério Sul do planeta. O ex-prefeito se valeu da administração municipal para conseguir se cacifar no mundo político.

Evidências desta “distorção” seriam os dois carros-chefe do neotucano com planos de altos voos. “Seus temas prioritários sempre foram reforma na Previdência Municipal e Plano de Privatizações. Tanto um quanto outro são importantes, não podemos fugir do debate. Porém, isso não os torna prioridade”. Doria teria importado questões nacionais para o município justamente pra afinar o discurso local com o Brasil por razões óbvias, garante.

Sampaio observa que Doria trouxe tais temas para o âmbito local e mostrou resultado. Esta seria a forma dele se cacifar, mostrar que tem condições de resolver problemas: “Ele criou o Plano Municipal de Desestatização e Concessões e encaminhou a reforma na Previdência Municipal. Os temas, nacionais, não saem das manchetes”. O debate hoje no país é justamente sobre o papel do Estado, privatização ou estatização, assim como a reforma na Previdência Nacional, interpreta o especialista, para quem Doria aprendeu com seus erros na Prefeitura. Júnior agora parece governar o estado.

”Quando se elegeu prefeito, ele pôde prometer o que bem entendeu, pois não seria ele que iria entregar os resultados, mas Bruno Covas”, recorda. Já como governador, ele não tem para onde ir, pois precisa entregar o prometido. Doria está muito mais cuidadoso nas falas. Se mete menos em polêmicas, sabendo que vai ter de permanecer no cargo, posição contrária aos tempos na Prefeitura, quando era quase sempre polêmico para se manter na mídia. 

Na avaliação do analista, o ex-prefeito rodou o Brasil continental para ganhar prêmios de cidadão honorário, tentando nacionalizar a imagem e divulgar sua figura. Coisas que já não faria hoje. “Ele olhou a cidade de São Paulo como instrumento para entrar no mundo político”. E daí seu discurso de gestor, empresário self made man e anti petista histérico. Utilizou a capital de cerca de 20 milhões de paulistanos como mero trampolim político eleitoral.

Participação Social Cortada

O saldo dos 1,4 meses da gestão Doria — no balanço de Sampaio — foi absolutamente negativo. O pior de tudo teria sido o fim do sistema de participação popular na cidade.

O município tinha espaço e know-how de discussões em assembleias: “Eram conselhos transparentes, organismos que permitiam à população participar da administração pública.  Como o finado Conselho de Planejamento e Orçamento Participativo (CEPOP), por exemplo, que tinha representantes da sociedade civil eleitos diretamente, de todas as regiões da cidade. Eles consolidaram um organismo que acompanhava o orçamento público. A população fiscalizava o gasto e os resultados”, cita o sociólogo. 

Outro conselho, o Participativo, CP, foi reduzido a menos da metade: também eleito diretamente por todas as regiões da cidade, tinha  quase 1.300 integrantes. Hoje são cerca de 500, todos eles jamais foram remunerados. Segundo o especialista, o CP foi criado ao final da gestão Marta Suplicy. Depois José Serra acabou com ele. 

Em 2014, o Conselho voltou com o prefeito Haddad”. Outros órgãos importantes, como o Conselho do Programa de Metas e O Conselho da Cidade — que representavam toda uma estrutura de participação direta pra acompanhar orçamento e políticas públicas — foram “congelados”. Nenhum deles foi empossado. Houve extinção ou enfraquecimento, dos canais participativos da população na administração. 

Outro aspecto negativa apontado pelo sociólogo é a agenda ambiental. A política de meio ambiente de Doria teria sido “conjunto vazio”. O mesmo valeria pra Direitos Humanos e Assistência social: “Tínhamos a Secretaria Municipal sobre questões de Gênero, Mulher, Igualdade Racial. Todas elas foram extintas”, exemplifica ele, sem esquecer o conjunto de políticas na área da assistências social, com políticas importantes, como combate ao uso de drogas, operação na cracolândia: tudo desmontado. 

Covas na berlinda

Na opinião de Américo, Bruno Covas terá muita dificuldade para se mostrar como candidato viável no ano que vem. Em sua avaliação, ele não é capaz de se apresentar como cabeça de chapa ao Tucanato, nem pra seus aliados. “Não digo que ele não vá ganhar, apenas gera dúvidas”. 

Diante deste “fato” se criaria um clima de insegurança em relação a ele. Assim como ilações para uma série de suposições, comentários de bastidores na política, aventando a possibilidade de surgirem outros pré-candidatos. A começar por Joyce Hasselman (PSL), Luiz Datena, Felipe Sabará – do Partido Novo, mas que pode vir para o ninho tucano”.

Quando Covas assumiu a gestão Municipal, recorda Sampaio, 70% da população não sabia que ele era prefeito. Na política tudo pode mudar até as eleições, “mas ele não reúne as condições de ser um candidato com chances de vencer: não é carismático e não tem uma imagem forte”

*Amaro Augusto Dornelles é colaborador da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Amaro Augusto Dornelles

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