Pesquisar
Pesquisar

Primárias na Argentina: quais candidatos têm chances de triunfar neste domingo (13)?

As duas chapas mais votadas para presidente e vice-presidente participam da primeira instância, ou seja, das gerais
Bruno Beaklini
Monitor Do Oriente Médio
Porto Alegre (RS)

Tradução:

A República Argentina já entrou em um ciclo eleitoral, com eleições nas províncias e em várias municipalidades. Agosto é mês das primárias nacionais e vai culminar com a lista vitoriosa nas eleições para assumir dia 10 de dezembro.

O calendário nacional é concomitante aos dois mais emblemáticos colégios eleitorais, o da Cidade Autônoma de Buenos Aires e da Província de Buenos Aires.

Argentina: juventude precisa abraçar política para salvar país da beira do abismo

Proporcionalmente, equivalem ao primeiro e quarto maior colégio eleitoral do país. O número e as proporções do eleitorado são:

Distrito Eleitorado % do eleitorado nacional

Buenos Aires 12.704.518 37,00%

Córdoba 2.984.631 8,69%

Santa Fe 2.768.525 8,06%

Capital Federal 2.552.058 7,43%

Mendoza 1.439.463 4,19%

Tucumán 1.267.045 3,69%

Entre Ríos 1.112.939 3,24%

Salta 1.051.142 3,06%

Chaco 967.147 2,82%

Misiones 948.500 2,77%

Corrientes 894.376 2,61%

Santiago del Estero 778.455 2,27%

San Juan 579.913 1,69%

Jujuy 573.326 1,67%

Río Negro 560.880 1,63%

Neuquén 526.441 1,53%

Formosa 468.299 1,36%

Chubut 448.149 1,31%

San Luis 393.472 1,15%

Catamarca 327.478 0,95%

La Rioja 294.509 0,86%

La Pampa 293.790 0,86%

Santa Cruz 256.388 0,75%

Tierra del Fuego 141.548 0,41%

Total 34.332.992 100,00%

As duas chapas mais votadas para presidente e vice-presidente participam da primeira instância, ou seja, das gerais

Reprodução/Facebook
Qualquer semelhança com dezembro de 2001 não será nenhuma coincidência

Regras eleitorais na Argentina

Em 1995, um ano após a reforma da lei maior, o segundo turno foi implementado na Argentina. Na Carta Magna, os artigos 97 e 98 indicam que um presidente toma posse quando sua fórmula alcança:

* mais de 45% dos votos afirmativos;

* pelo menos 40% dos votos e uma diferença percentual superior a 10 pontos em relação à fórmula a seguir.

Manifestações na Argentina mostram força do movimento popular no país, diz líder sindical

Caso nenhuma dessas condições seja atendida, será realizado segundo turno, que deverá ser realizado nos 30 dias seguintes à última eleição, nos termos do artigo 96 da Constituição. Mas, quem participa do segundo turno?

As duas chapas mais votadas para presidente e vice-presidente participam da primeira instância, ou seja, das gerais. Para chegar nas eleições gerais, a Argentina tem o estatuto das primárias obrigatórias (PASO), que se realizam trinta dias antes do primeiro turno. Para chegar ao segundo turno, as duas candidaturas mais votadas vão decidir o pleito. Nesse caso, o candidato vencedor não precisa atingir uma determinada porcentagem, mas sim conquistar o maior número de votos.

Continua após o banner

Na Argentina, a data já está confirmada no calendário eleitoral, caso seja necessário: a votação será no domingo, 19 de novembro. Mas antes serão necessárias outras duas datas: a das primárias (em 13 de agosto de 2023, próximo domingo) e o primeiro turno das eleições gerais (no quarto domingo deste mês, em 22 de outubro). Cada frente eleitroal realiza suas prévias (primárias, PASO) e a lista vencedora vai concorrer em outubro. Se os índices descritos acima não forem alcançados, as duas chapas mais votadas vão disputar o segundo turno em novembro.

As primárias da direita

A maior força política da direita argentina em 2023 conforma a frente eleitoral Juntos por el Cambio (JXC) que na prática congrega o histórico partido de centro-direita UCR (a União Cívica Radical) e o PRO (a legenda criada em torno do neoliberalismo portenho do século XXI.

No momento em que escrevemos esse texto, o prefeito da capital federal é Horacio Rodríguez Larreta, graduado por Harvard e que atuou como secretário de governo do ex-presidente Mauricio Macri (um homem de negócios que se fez político após ser presidente do popular Clube Atlético Boca Juniors na década de 1995 a 2007) na prefeitura da cidade. Larreta concorre nas primárias contra Patrícia Bullrich, a ex-ministra do governo Fernando de La Rúa, que renunciou em dezembro de 2001 após decretar Estado de Sítio em função da política de ajustes impostas pelo FMI.

Revolta na Argentina: constituição criada por governo de Jujuy ataca protestos e indígenas

O candidato a vice-presidente na fórmula com Larreta é Gerardo Morales, atual governador da província de Jujuy (no extremo norte argentino, fronteira com a Bolívia). Morales promulgou uma reforma constitucional provincial às pressas, praticamente criminalizou o protesto social, os sindicatos e as comunidades indígenas e está assegurando a exploração de lítio (mineral estratégico) para empresas privadas, poucas famílias poderosas e companhias dos Estados Unidos.

A meta é manter o lucro de apenas 4% na exploração do mineral do século XXI, fazendo diferente do Chile, que criou uma autoridade nacional para o minério. Mais distinto ainda é o caso boliviano, que com a criação da YLB (Yacimientos de Lítio Boliviano) está associada com capital chinês e procedendo com o ciclo industrial, chegando a produzir baterias e desenvolvendo um centro de medicina nuclear.

Continua após o banner

Já Patrícia Bullrich tem uma propaganda ainda mais agressiva, pregando ajuste, recorte de salários e diminuição de políticas públicas. O empréstimo assinado por seu governo (foi ministra de Segurança Interna de Macri – de dezembro de 2015 a dezembro de 2019 – e teve responsabilidade direta em dois desaparecimentos) implica na maior dificuldade para o Estado argentino funcionar e opera como uma permanente chantagem sobre a população.

O seu candidato a vice é o deputado e advogado da província de Mendoza Luis Petri, que compartilha com Bullrich o discurso de rigidez no sistema carcerário, repressão pelo aparato policial e criminalização do protesto social.

As prévias do peronismo

A maior parte das listas vinculadas ao peronismo moderno, representando a continuidade do atual governo (Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner), está agrupada na frente politica União pela Pátria.

Duas chapas vão concorrer nas prévias da centro-esquerda e do nacionalismo popular. Uma, a favorita absoluta e apoiada por Cristina agrupa o atual ministro da economia Sergio Massa (ex-prefeito do município de Tigre e com excelente trânsito tanto no empresariado como com autoridades dos Estados Unidos) e o chefe de gabinete do presidente atual, Agustín Rossi. É vista como dada a vitória de Massa e Rossi, indo ao confronto no primeiro turno contra a lista vencedora da direita.

Argentina: sem Kirchner e Fernández, quem vai representar a Frente de Todos?

A outra chapa concorrente dentro do peronismo, podendo se afirmar como uma exquerda peronista, é Juan Grabois e sua vice, Paula Abal Medina, filha do ex-assessor de Perón e laço de ligação com a Juventude Peronista, Juan Manuel Abal Medina. Podemos afirmar que Grabois e Paula vão marcar posição, indo à esquerda do kirchnerismo, o setor político representado pela herança política de Néstor e Cristina (que governaram a Argentina de maio de 2003 a dezembro de 2015).

O ultra neoliberalismo

O candidato da extrema direita mais midiática é o economista Javier Milei com sua candidata a vice, a advogada Victoria Villaruel. Em termos programáticos é a defesa da dolarização – a substituição do peso argentino pela moeda dos Estados Unidos – e também o fim da autoridade monetária pelo Banco Central.

Na tradição política argentina, em geral em momentos de crise, a direita e o empresariado se dividem entre os que defendem a dolarização e quem se posiciona pela desvalorização do peso diante da moeda estadunidense.

Continua após o banner

Milei não esta indo bem nas campanhas provinciais e sua candidatura sofre denúncias sérias de corrupção. Ao que tudo indica, as eleições gerais serão decididas entre “peronistas modernos” e a “coalizão da direita”.

Linhas conclusivas

A esquerda de envergadura eleitoral já forma a terceira força do país, embora o maior de seus espaços agregue 50% das forças socialistas do país. Essa capacidade pode ir para uma espécie de voto útil caso o país enfrente ao provável segundo turno para a Presidência.

O mesmo se dá no setor que representa Grabois; provavelmente os destinos da Argentina vão se decidir – nas urnas ao menos – em uma contagem voto a voto. Para além da urna, é praticamente impossível governar de forma soberana diante das pressões do FMI após os absurdos empréstismos assinados por Mauricio Macri quando era presidente.

Continua após o banner

Se vier uma inflexão por “mais ajuste” e diminuição do poder de compra dos salários vai implicar em repressão e criminalização do protesto social. Qualquer semelhança com dezembro de 2001 não será nenhuma coincidência.

Bruno Beaklini | Monitor do Oriente Médio


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Bruno Beaklini

LEIA tAMBÉM

Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Apec Peru China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Apec no Peru: China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha (4)
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha
Reeleição blinda Trump de processos e abre caminho para indulto a invasores do Capitólio
Reeleição blinda Trump de processos e abre caminho para indulto a invasores do Capitólio