O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que a economia latino-americana crescerá 1,4% este ano, seis-décimos a menos que a estimativa de sua previsão anterior.
Por sua vez, o Banco Mundial (BM) calcula que o Produto Interno Bruto desta região nem sequer chegará a um porcento, ficará em 0,9, uma queda sensível em comparação aos prognósticos prévios que conferiam à área 1,6 pontos percentuais.
Os números não são exatamente parecidos mas ambos organismos concordam em indicar a Venezuela como uma das causas fundamentais dos decréscimos esperados. A primeira destas entidades evoca a nação bolivariana como um 'lastre considerável' e a segunda lamenta 'o colapso da economia' do país.
O que nenhuma destas entidades revela, no entanto, é a verdade do que está acontecendo na Venezuela; não é o que efetivamente divulgam mas o que a propósito calam.
De acordo com a economista venezuelana Judith Valencia, as perdas econômicas causadas pelo bloqueio dos Estados Unidos contra o território bolivariano desde 2014 chegam a 114,3 bilhões de dólares.
Segundo dados do Centro de Estudos Latino-americanos de Geopolítica do país, a Venezuela perdeu mais de 350 milhões de dólares em produção de bens e serviços entre 2013 e 2018 devido à guerra econômica que a administração estadunidense mantém contra ela.
Somente a retenção de divisas da nação venezuelana, afirmou seu chanceler Jorge Arreaza, chega a mais de quatro bilhões dólares em ativos do país imobilizados em bancos internacionais, entre outros prejuízos da política punitiva norte-americana contra um povo que elegeu seu governo legitimamente.
Em agosto de 2017, o presidente Donald Trump emitiu um decreto que proíbe realizar novas transações de dívida emitidas pelo governo da Venezuela e sua petroleira estatal, Pdvsa.
A Casa Branca proibiu os estadunidenses, no dia 19 de março de 2018, de negociar com o petro, a criptomoeda que o governo venezuelano tinha lançado em fevereiro daquele ano.
Depois da reeleição do presidente Nicolás Maduro em maio, um novo decreto de Washington vetou todas as transações de dívida com entidades oficiais como a Pdvsa e o Banco Central.
A ordem executiva proscreveu a venda de ações ou participações de qualquer entidade em que o governo venezuelano possua 50% ou mais, como Citgo, filial da Pdvsa nos Estados Unidos.
Washington sancionou, no último dia 19 de março, a mineradora estatal Minerven e, pouco dias mais tarde, o estatal Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (Bandes) e três filiais na Venezuela; bem como a Prodem, com sede na Bolívia, e o Bandes no Uruguai.
As medidas, que congelam todos os bens e ativos que estas instituições possam ter nos Estados Unidos ou em posse ou controle de norte-americanos, proíbem toda transação com indivíduos ou entidades estadunidenses ou em trânsito no país.
No dia 12 de abril, Trump decretou como 'propriedade bloqueada' 34 embarcações da Pdvsa e sancionou duas companhias de navegação por enviarem combustível da Venezuela a Cuba.
E, em menos de uma semana, vetou todas as transações estadunidenses com o Banco Central da Venezuela, o que limita consideravelmente seu acesso a dólares. Antes disso, desde 28 de janeiro, os Estados Unidos proibiram as operações com petróleo venezuelano através de seu sistema financeiro.
É um cerco cruel e sustentado por parte da nação mais poderosa do mundo, o que pretende provocar carências e sofrimento na população
Prensa Latina
Ambos organismos concordam em indicar a Venezuela como uma das causas fundamentais dos decréscimos esperados
Aplicação de medidas neoliberais
Para o Brasil, que se recupera de uma dura recessão entre 2015 e 2016, segundo estimou o Fundo, e onde em 1 de janeiro assumiu a presidência o ultra-direitista Jair Bolsonaro, a previsão é de um fortalecimento do crescimento de 1,1% em 2018 a 2,1% em 2019 e 2,5% em 2020.
Bolsonaro, quem ainda não conseguiu se acomodar no assento presidencial, anunciou a privatização de 12 terminais aeroportuários do Brasil por um valor de 945 milhões de dólares.
Mas seu verdadeiro objetivo é mais ambicioso, pois segundo o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o atual governo analisa 'privatizar ou liquidar' uma centena de empresas estatais para aliviar a volumosa dívida pública.
O BM considera que o Brasil, depois de viver uma crise sem precedentes entre 2015 e 2016, crescerá cerca de 2,2% em 2019.
E em vista de um déficit fiscal de 7,2% do PIB e de uma dívida pública de quase 80%, as reformas fiscais no Brasil são essenciais, de acordo com a entidade, que considera as aposentadorias como o maior peso, ao representar quase 12% do PIB, e por isso recomenda 'mudar' o sistema de pensões.
No entanto, o que mais agrada o Fundo na América Latina é a 'estabilização financeira e a recuperação' que espera para a Argentina.
Sim, falamos do mesmo país onde a moeda morre um pouco a cada dia, a inflação avança olimpicamente e onde o mercado vive uns sobressaltos que matariam o coração mais saudável. Tudo isso sem que ninguém empreenda contra eles uma perseguição como fazem os Estados Unidos e seus aliados contra a Venezuela.
Na Argentina, segundo o FMI, a economia se contrairá no primeiro semestre de 2019 mas, 'à medida que a demanda interna se desacelerar com políticas mais estritas para reduzir os desequilíbrios', o país recrescerá.
Tudo, graças a uma recuperação da renda real e da produção, após a seca do passado ano.
As projeções de abril do FMI também são esperançosas em relação à inflação, ao passar de 47,6% de 2018 a 30,5% em 2019 e até 21,2% um ano mais tarde.
E é que, por força, depois do crédito de 56 bilhões de dólares (valor recorde) que o FMI emprestou ao país para enfrentar uma crise financeira, em troca de um severo ajuste fiscal, as transformações na Argentina 'devem ser exitosas'.
Estes empréstimos, como já se sabe, costumam ter um custo evidente para o povo que supostamente deveriam beneficiar.
Em junho do passado ano, o governo argentino incluiu no Memorando de Políticas Econômicas e Financeiras e no Memorando de Entendimento Técnico com o FMI certas medidas de séria repercussão social.
Entre elas, a redução dos subsídios à energia e ao transporte mediante um aumento da proporção do custo produtivo destes serviços pagos pelos consumidores; redução de obra pública e reformas no sistema de aposentadorias.
Também estavam ali outras disposições como a racionalização do emprego público para que a despesa em pessoal se reduzisse, de 3,2% do PIB em 2017 para 2,7%; e a contenção dos gastos em assistência social, com um limite do 1,3% do PIB.
Assim são os contrastes que o FMI e o BM desenham para a América Latina.
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