A Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos divulgou o Instrumentum Laboris, Documento de Trabalho que vai nortear o Sínodo da Amazônia no Vaticano. Apontado como “ameaça à segurança nacional” por Brasília, o trabalho traz denúncias de invasão de terras indígenas, uso da floresta pelo tráfico de drogas, perseguições políticas e agricultura desregrada.
O Documento é um dos últimos frutos de um processo iniciado com a convocação do Sínodo, ainda em 2017 e a visita do papa Francisco a Puerto Maldonado, no Peru. Na ocasião, o grupo de bispos que organizam o encontro enviou um questionário com 30 questões a comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas na Amazônia. O tom crítico deu indícios de como será o encontro marcado para outubro no Vaticano.
“Tráfico de droga, tráfico de mulheres, violência no campo, conflitos, massacres, disputas pelas terras, são todos esses problemas e muitos outros que abordamos no documento de forma bem geral e fiel à realidade. Ele foi baseado em um questionário com 30 perguntas distribuído para comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas na região e foi muito amplo. O assunto está na mesa, é um debate amplo, aberto e um diálogo que precisamos estabelecer”, pondera o bispo membro do Conselho Pré-Sinodal do Sínodo da Amazônia, Dom Neri Tordello em entrevista à Sputnik Brasil.
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O encontro entre os bispos de todos os países que abarcam a floresta deve acontecer em Roma, entre os dias 6 e 27 de outubro.
O religioso conta que Francisco já vinha sinalizando interesse na região, sobretudo a partir da encíclica sobre o meio-ambiente em que se dirige de forma especial à Amazônia e aos povos originários (índios). O Sínodo, porém, é na visão de Dom Neri um evento inserido em um contexto de maior proximidade da Igreja com as comunidades da região desde 1971, quando o papa Paulo VI escreveu em um documento que “Cristo aponta para a Amazônia”.
“Pretendemos discutir esse projeto chamado 'desenvolvimentista' que vem invadindo o território dos índios, seja pelo desmatamento, seja para a expansão da lavoura, do agronegócio sem escrúpulo nenhum. Há o uso indiscriminado de agrotóxicos, a mineiração e a construção de hidrelétricas previstas para os próximos anos, projetos que vão atingir os ribeirinhos e os indígenas. Comunidades inteiras serão transferidas e dizimadas”, denuncia o religioso.
Dom Neri diz que o propósito é promover “uma relação do ser humano com a floresta de maneira mais respeitosa e sustentável”, além de superar na noção de que é preciso “produzir o máximo, consumir tudo e lucrar tudo que dá”.
“Queremos valorizar a culturalidade, a diversidade, o respeito aos povos. Nossa proposta é salvaguardar essa casa comum e ajudar o mundo a repensar este modelo desenvolvimentista”.
O evento vem sendo acompanhado de perto por Brasília. Em fevereiro, o governo chegou a discutir o assunto em uma reunião ministerial e destacou oficiais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar a atividade de religiosos.
O encontro entre os bispos de todos os países que abarcam a floresta deve acontecer em Roma, entre os dias 6 e 27 de outubro.
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