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EUA querem petróleo da Venezuela para manter máquina de guerra, diz sociólogo

Há 4 meses Trump diz que “todas as opções estão sobre a mesa”. Trata-se de um plano midiático e econômico de desestabilização, diz o argentino Atílio Borón
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
São Paulo

Tradução:

O sociólogo e cientista político argentino Atílio Borón, um dos maiores intelectuais latino-americanos da atualidade, afirmou que o interesse dos Estados Unidos pelo petróleo venezuelano é de longo prazo e tem como objetivo manter ativa sua máquina de guerra como a única capaz de operar em escala planetária. 

As declarações de Borón foram dadas na abertura do 1º Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa na América Latina, que teve início nesta segunda-feira (6) e vai até sexta-feira (10). O evento é realizado pelo Programa em Integração da América Latina (Prolam) da Universidade de São Paulo (USP). Mais informações sobre a programação podem ser conferidas no site do evento

Há 4 meses Trump diz que “todas as opções estão sobre a mesa”. Trata-se de um plano midiático e econômico de desestabilização, diz o argentino Atílio Borón

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Sociólogo e cientista político argentino Atílio Borón

Petróleo

A produção petrolífera dos Estados Unidos aumentou consideravelmente nos últimos anos, por isso, alguns analistas desconsideram este fator como propulsor do cerco realizado ao governo de Nicolás Maduro. Para Borón, no entanto, a prática do fracking, tecnologia que permite a extração do petróleo de xisto, já está em decadência no país e em breve não poderá mais ser usado. 

“Os EUA querem se apropriar de todo o petróleo do mundo porque não querem que chineses, russos e indianos tenham acesso ao mineral. No dia em que acabar o petróleo, eles serão os únicos capazes de operar os instrumentos de guerra em escala planetária. Esses aviões, por exemplo, que andam a 1.500, 1.600 quilômetros por hora não anda com energia eólica.”

Eleições nos EUA

Outro fator importante para entender a escalada das tensões na região é a eleição de 2022, na qual Donald Trump tentará uma reeleição. No pleito, como no anterior, o voto da Flórida terá um peso importante para definir o novo presidente dos Estados Unidos e o republicano precisa deste voto, explica Borón. 

Guerra

Para ele, no entanto, Trump está usando a retórica quando afirma que “todas as opções estão sobre a mesa”. “Há um grande ataque econômico, midiático, diplomático contra a Venezuela, mas quando ele diz isso, já está falando isso há mais de quatro meses”, ressalta para complementar que os estadunidenses não vão aceitar financiar mais essa guerra, então essa ação teria um custo tremendo para Trump. 

Envolvimento regional

O mandatário estadunidense esperava que Brasil e Colômbia entrassem no conflito, mas na região há um consenso — ao menos por parte dos militares — de que isso não é o melhor a se fazer. “A Venezuela não tem tecnologia nuclear, mas tem capacidade retaliatória e pode atacar as sete bases dos Estados Unidos na Colômbia e as bases em Aruba e Curaçao”, explicou.

Queda de Maduro

“Em quanto tempo Maduro vai cair? Todos os prognósticos davam conta de que ele cairia e até agora não caiu. Por quê? Porque ele é resultado de um processo que teve como condutor um educador freiriano, Hugo Chávez.” 

Desestabilização

O ex-presidente venezuelano educou o povo. Há, conta o pesquisador, um cansaço das pessoas que estão sem água, comida, sem luz, mas hoje são capazes de entender que os erros do governo e as dificuldades econômicas, financeiras e de estrutura que estão passando neste momento não podem ser atribuídas a Maduro e sim à agressão do império ao país. 

Nosso governo

“A perseguição dos EUA reacendeu a chama anti-imperialista nos venezuelanos. As pessoas olham e dizem: não é um bom governo, mas é nosso governo. Isso me faz lembrar de um senhor que estava em um protesto no Chile no período anterior ao golpe que derrubou [Salvador] Allende. Nele se lia: ‘este é um governo de merda, mas é o meu governo. Foi uma grande aula de sociologia’”.

Confira a íntegra da intervenção de Atílio Borón durante o evento:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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