Donald Trump, em seu informe à nação no Congresso, na terça-feira 5 de fevereiro, declarou ser o melhor presidente e insistiu em que a chamada “crise” na fronteira com o México só pode ser enfrentada com um muro; justificou sua intervenção na Venezuela como um grande resgate da democracia, e por alguma razão decidiu ser necessário reafirmar que “Estados Unidos nunca será um país socialista”.
O segundo Informe anual sobre o Estado e a Nação ao Congresso, antes mesmo de começar já era uma paródia, posto que anunciou que sua mensagem seria, uma, promovendo “a unidade” e o “bipartidarismo”, isso dito pelo presidente mais divisionista na história moderna do país. Vale recordar que essa manifestação foi postergada por um semana enquanto Trump provocou a mais longa paralisação da história do governo por insistir na aprovação pelo Congresso de verbas para seu muro fronteiriço.
Declarou que desejava apresentar não uma agenda partidária, mas sim “a agenda do povo estadunidense”. De imediato se auto-elogiou afirmando que com dois anos de seu governo o país desfruta de um auge econômico “sem precedentes” , tem as forças militares mais poderosas do planeta e “América (EUA) está ganhando a cada dia todos os dias”.
Não obstante advertiu que para construir sobre essas conquistas no bipartidarismo não poderia haver “investigações ridículas partidárias”, aparentemente referindo-se às múltiplas investigações sobre sua eleição e seu governo desencadeadas desde o dia em que tomou posse na Casa Branca.
Dedicou amplo espaço ao tema migratório que qualificou como uma “crise nacional urgente” na fronteira sul. Advertiu que mais caravanas organizadas estão vindo em direção aos Estados Unidos e que, para não tê-las no território as cidades mexicanas ajudam transportá-las à fronteira norte. Por causa disso ordenou o deslocamento de mais 3.750 soldados à fronteira.
“Temos o dever moral de criar um sistema de imigração que proteja as vidas e os empregos de nossos cidadãos… Esta noite, peço a todos que, por amor e devoção a nossos cidadãos e a nosso país, defendam nossa fronteira sul, muito perigosa”.
Reiterou suas frases sobre a violência e as ameaças que significam os migrantes criminosos e as drogas lícitas que cruzam a fronteira, das “incontáveis” vítimas estadunidenses e solicitou a aprovação de série de medidas, incluindo o projeto para o muro. Insistiu que “simplesmente, os muros funcionam, os muros salvam vidas”.
Sobre política exterior, destacou que seu governo reconheceu “o governo legítimo de Venezuela” de Juan Guaidó em apoio ao “povo” venezuelano em sua “busca pela liberdade e condenou a brutalidade do regime de Maduro, cujas políticas socialistas transformou essa nação que era a mais rica da América do Sul num estado de pobreza abjeta e desesperadora”.
Foi nesse ponto que Trump, com visível saudades da guerra fria, afirmou que nos Estados Unidos “estamos alarmados pelas novas manifestações para adotar o socialismo em nosso país. América (EUA) foi fundada sobre liberdade e independência, não coerção, dominação e controle governamental. Nascemos livres e permaneceremos livres. Esta noite renovamos nossa determinação de que Estados Unidos nunca será um país socialista”. Isso fez com que vários legisladores republicanos se levantassem a gritar “USA, USA”.
Mudando o foco destacou os êxitos em promover conversações com a Coreia do Norte e anunciou uma nova reunião de cúpula ainda neste mês de fevereiro. Disse que está cumprindo com o compromisso que terminar com as “guerras sem fim”, reiterou fidelidade absoluta para com Israel, ao mesmo tempo em que ameaçou de novo o “regime radical” do Irã e celebrou ter liquidado com o tratado com a Rússia de limitação de mísseis intermediários. Também exaltou a substituição do tratado de livre comércio com o agora chamado USMC (Estados Unidos, México e Canadá).
Para o pública interno convocou para um maior esforço para controlar os preços no sistema de saúde e dos medicamentos, promover mais projetos de infraestrutura e outros temas em que será preciso buscar o consenso bipartidário.
“Optemos pela grandeza” apelou no discurso transmitido ao vivo à toda nação, que soe ser mais um espetáculo político que um informe. Como é o maior do ano e de grande projeção, a coreografia também corresponde ao show midiático-político.
Apesar disso, muitas legisladoras do partido Democrata estavam vestidas de branco, homenagem ao movimento pelo direito de voto das mulheres diante dos esforços por limitar esse direito e de suprimir outras conquistas das mulheres como a da livre opção pelo aborto.
Pela primeira vez o presidente pronunciou seu discurso com uma mulher, a democrata Nancy Pelosi, na presidência da Câmara de Deputados, e diante de uma plenária mais diversa e progressista na história contemporânea, integrada por gente jovem eleitos pelos movimentos de oposição e resistência detonados pela posse de Trump na presidência.
Os democratas tinham como convidados especiais a jovens indocumentados e outros migrantes diretamente afetados pelas políticas anti migratórias de Trump, jovens ativistas a favor do controle de armas que foram vítimas de tiroteio e defensores de direitos LGBT e das mulheres.
Como de costume o presidente também tinha seus convidados: heróis de guerras, vítimas de criminosos indocumentados e Joshua Trump, um menino que tinha sofrido assédio por seu sobrenome, entre outros, sentados ao lado da primeira dama Melania Trump, que se propõe ser arauto da campanha contra o assédio.
Ainda não se tem o número exato para aquela noite para saber se Trump bateu seu recorde de afirmações falsas ou enganosas em seus dois anos de presidência. Segundo o Washington Post, da posse até aquele dia foram mais de 8.459 falácias, uma média de 16,5 pronunciamentos por dia enganando o povo com mentiras.
*Do correspondente de La Jornada em Nova York – Direitos exclusivos.