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ToggleUm tribunal de Tegucigalpa, capital das Honduras, declarou culpados de homicídio sete dos oito réus julgados como autores do assassinato de Berta Cáceres, professora e co-fundadora do Conselho Cívico das Organizações Populares e Indígenas das Honduras (Copinh).
Berta Cáceres tornou-se conhecida pela firmeza com que se opôs, ao longo de vários anos, ao projeto hidroelétrico de Água Zarca, da empresa Desarrollos Energéticos Sociedade Anônima (Desa), pelas graves consequências que traria para o seu povo
Dos sete réus declarados culpados – cujas penas somente serão conhecidas no dia 10 de Janeiro de 2019 –, três foram identificados como mercenários e quatro tinham ligações à Desa e ao Exército hondurenho.
Para além disso, quatro deles foram também declarados culpados da tentativa de homicídio do ativista mexicano Gustavo Castro, única testemunha do crime e que ficou ferido durante o ataque -perpetrado no dia 3 de Março de 2016-, à casa de Cáceres, na cidade de La Esperanza, no departamento ocidental de Intibuca.
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Berta Cáceres, dirigente do Conselho Cívico das Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), foi assassinada em março de 2016
Luta pela dignidade e pela verdade continua
“O veredito que foi divulgado no final da semana passada não satisfaz as nossas exigências de justiça enquanto vítimas do assassinato de Berta Cáceres e da frustrada tentativa de assassinato de Gustavo Castro”, afirmaram através de um comunicado conjunto assinado pelos familiares de Berta Cáceres, por Gustavo Castro e seus representantes legais e também pelo Copinh, segundo informou o portal ara.info.
No comunicado conjunto, seus subscritores defendem que esta sentença, -que declara a culpados apenas os três mercenários e os quatro outros participantes do assassinato diretamente relacionados `a DESA-, “não implica que se tenha feito justiça, já que não condena, nem pune os mandantes que pagaram os sete criminosos para assassinar Berta Cáceres”. Neste contexto, os mandantes vão continuar impunes e livre para continuar a praticar crimes como estes”.
No documento, a família de Berta e o Copinh acusam “os administradores da Desa de serem os verdadeiros responsáveis pelo assassinato de Berta”, acrescentando “que os Atala Zablah –membros da família que detêm a maioria das ações da DESA– são os verdadeiros responsáveis pela perseguição, ameaças e ataques que culminaram no assassinato de Berta”.
“Está também muito claro que, sob a direção desta família, a DESA, além do assassinato de Berta, cometeu muitos outros crimes contra o Copinh, o povo Lenca e até mesmo, contra a administração pública e o Estado hondurenho”, denunciam os subscritores do comunicado. E perguntam as autoridades e instituições Governamentais: “Quais interesses estão em jogo e sustentam a proteção dos verdadeiros responsáveis, cujos nomes não são um segredo?”
“Com o capítulo que agora se encerra, […] o Estado hondurenho pretende silenciar a exigência de justiça, mas a luta pela justiça para Berta Cáceres e para o povo Lenca não está finda; pelo contrário, (os resultados) aumentam ainda mais os nossos esforços”, frisam.
A Justiça hondurenha está em dívida conosco, com todo o povo hondurenho
O comunicado sublinha que “a impunidade de que gozam até hoje os autores intelectuais deste crime faz parte da rede de corrupção e violência alimentada pelo modelo extrativista, que saqueia as nossas terras”.
Diante de um cenário marcado pela intensificação dos ataques aos territórios indígenas –sobretudo após o golpe de 2009, apoiado pelos EUA–, com a multiplicação das concessões às empresas privadas para a exploração, o Copinh afirma que as vítimas da violência, juntamente com organizações e comunidades, se comprometem a continuar a enfrentar esses criminosos, “com a mesma força e intensidade dedicada por Berta Cáceres, até que a dignidade, a verdade e a justiça prevaleçam”.