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Perseguição, violência física, psicológica e cultural, criminalização de lideranças indígenas, judicialização das lutas, desrespeito as culturas e povos, preconceito, genocídios, crimes contra a natureza, violação de direitos, falta de políticas públicas, descumprimento e ataques a direitos constitucionais duramente conquistados, foram alguns pontos abordados na Caravana de Direitos Humanos que aconteceu nos dias 30 e 31 de maio de 2014, na Aldeia Serra do Padeiro, município de Buerarema.
Tendo como tema: “Violação dos direitos indígenas, uma dura realidade no sul da Bahia” ,o evento que contou com a presença de mais de 100 pessoas, representando diversas instituições do campo do judiciário, universidades, movimentos de luta pela terra, pastorais da Igreja católica, quilombolas, pescadores, movimentos estudantis, povos indígenas da região, ONGs, antropólogos, mídias alternativas.
Nesta oportunidade os participantes puderam visitar alguns pontos da aldeia, e perceberam todo o processo de organização, produção e autossustentabilidade dos Tupinambá da Serra do Padeiro e a enorme riqueza que motiva tanta cobiça e ódio dos seus inimigos. As mata preservadas, os rios despoluídos, os animais andando livremente.
Os presentes também tiveram a oportunidade de conhecer um poderoso instrumento de luta do povo, que desnorteia toda a compreensão de luta frente aos seus algozes. A alegria dos Tupinambá em meio às diversidades, o sorriso solto e contagiante do povo apesar de toda a perseguição sofrida deve deixar seus inimigos totalmente furiosos. Suas lutas e perseguições foram narradas de forma muita detalhada pelos indígenas, pescadores, quilombolas, pequenos produtores, empobrecidos pelo sistema. Mas ao mesmo tempo, os processos de resistência, lutas coletivas, espiritualidades encarnadas e uma clareza de direitos e da luta que atordoa aqueles que os atacam.
Relatos emocionantes que nos remetiam ao passado, a suas ancestralidades, que evocavam os seus “encantados” e ao mesmo tempo faziam com que fincássemos os pés no presente, nas novas gerações, nas novas “lutas” e no enfrentamento. Um encontro cheio de simbologias e “significados”.
Na visita a uma ponte construída pelos Tupinambá, ficou claro que ali não era uma simples ponte construída de pedras, ferro, cimento e areia, ali haviam outros elementos, tais como: esperança, determinação, confiança, auto estima, liberdade, entre outros. A ponte também não é uma simples passagem para as pessoas e nem para o escoamento da produção, ela nos transporta para uma outra dimensão e nos abre outros “caminhos”, outras possibilidades. Ela nos abre perspectivas novas de luta, de organização, de unificação da luta, de solidariedade constante.
Algumas propostas para encaminhamento foram: o investimento na formação da juventude, a capacitação das lideranças, o fortalecimento da espiritualidade tradicional, a aposta numa educação alicerçada num “mourão cívico” de cidadania, a interação campo x cidade, ações mais efetivas no campo jurídico, o exercício continuo do controle social sobre as políticas públicas e sobre os direitos conquistados, lutar pelo controle popular do judiciário e sua democratização interna, criar novos espaços e fortalecer os já existentes de: diálogos, troca de experiência, e de formação; Pensar e executar estratégias de enfrentamento a mídia que estar a serviço do grande capital, a exemplo da ação da Serra do Padeiro contra a Rede bandeirantes; Pleitear junto as universidades a inclusão das questões sociais nas grades curriculares, bem como a participação popular na construção e concepções dos conteúdos; Ampliar para outras regiões as experiências do Tribunal Popular do Judiciário, Plebiscito Popular. Apoio incondicional e divulgação a Campanha Nacional de Regularização do Território das Comunidades Tradicionais Pesqueiras. Luta constante contra os instrumentos jurídicos e legislativos que tentam deslegitimar as lutas e retirar os direitos constitucionais (PEC 215, PEC 038, PEC 237, Portaria 303, PLP 227, PLS 499, entre muitos).
Voltando a falar de simbologia do encontro, rico em relatos de tempos imemoriais, da presença dos encantados, e da união dos povos negro e indígena ao longo da história, não haveria maneira melhor de encerrar o evento, que aos pés da enorme pedra sagrada da Serra do Padeiro todos em volta do pé de Baobá, trazido de Guiné Bissau e fincado em solo dos Tupinambá. Na cosmologia dos povos africanos o Baobá surge como o principio da conexão entre o mundo sobrenatural e o mundo material, testemunha de um tempo imemorial. Arvore do Povo Negro plantado em solos indígena.
Enquanto o evento acontecia de forma tranquila na aldeia, dois indígenas da região da Serra das Trempes foram violentamente agredidos na cidade de Buerarema, por aqueles que “executam” a política de agressão e ataques aos Tupinambá.
Conselho Indigenista Missionário