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Já se vão trinta dias de mais uma prisão injusta no Brasil. Seria apenas uma estatística, afinal, isso é mais regra que exceção. Mas, para os lutadores sociais do Pará e de toda a região Norte, o preso em questão não é só um número. Ele tem nome, sobrenome e trabalho junto aos empobrecidos. É o padre Amaro, cujo pecado cometido não tem nada a ver com o do romance do Eça de Queirós.
Elaine Tavares, no Iela
Seu “crime” é atuar ao lado dos camponeses, exigir justiça no uso da terra e ser uma das principais lideranças da equipe da Pastoral da Terra (CPT) da Prelazia do Xingu, na paróquia de Santa Luzia do Anapu, Pará.
Amaro era o braço direito da missionária estadunidense Dorothy Stang, que foi assassinada em fevereiro de 2005, justamente por enfrentar os fazendeiros da região.
Pois padre Amaro foi preso no dia 27 de março, também na lógica de prisão preventiva, por conta de uma investigação sobre supostos crimes de extorsão, ameaça, assédio sexual e ocupação violenta de terras.
Quem conhece o trabalho do padre junto aos camponeses e empobrecidos afirma, com certeza, que essas acusações não passam de um grande golpe dos latifundiários locais, para tirar o padre da luta pela terra.
“A gente acredita que é armação, porque ele é um exemplo de vida inquestionável, com seu compromisso histórico em defesa da justiça e do povo. Sabemos do contexto de conflito de interesses onde ele trabalha e querem criminalizá-lo como líder e a sua luta”, afirma Tiago Valentim, da coordenação da CPT do Pará.
Amaro trabalha desde 1998 na Paróquia Santa Luzia, onde é líder comunitário e coordenador da CPT. Nessa segunda-feira completam-se 41 dias que ele está encarcerado no Centro de Recuperação Regional de Altamira/PA, onde também está o assassino de Irmã Doroty.
Segundo a Irmã Irene Lopes, secretária executiva da Rede Eclesial Pan Amazónica-Brasil, a prisão do padre Amaro faz parte de um longo processo de perseguição de agentes de pastoral e de direitos humanos que cotidianamente são criminalizados, sofrem ameaças ou são mortos na região.
No final de abril, os advogados do padre tentaram uma liminar para garantir sua soltura, uma vez que ele é conhecido na região, tem residência fixa, não havendo qualquer necessidade de prisão preventiva, num caso de uma investigação que não foi concluída ainda, mas a liminar foi negada pela desembargadora Vânia Lúcia Carvalho da Silveira, do Tribunal de Justiça do Estado do Pará/TJE.