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Vergonha do jornalismo nacional

Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

Vergonha do jornalismo nacional. Chegar a quase 60 anos de profissão e assistir o massacre da ética no jornalismo é demasiado triste.

Paulo Cannabrava Filho
unnamedEm nome de uma pretensa liberdade de imprensa cometem as mais deslavadas violações da ética profissional, de preceitos constitucionais, de direitos cidadãos.
Estão cometendo um verdadeiro linchamento mediático e isso é crime. Pré Julgaram e julgaram a cidadãos violando preceito constitucional da presunção da inocência e isso é crime. Detrataram cidadãos sem oferecer a contrapartida do direito de resposta e isso é crime.
PIG-free_reproductionE não há como punir essa gente? Há sim. É possível para as entidades da sociedade civil fazer um pronunciamento condenando moralmente o comportamento da mídia corporativa. A punição viria a reboque, com o descrédito, o desprezo da sociedade. A Fenaj e a OAB poderiam iniciar esse movimento-ação contra a improbidade da imprensa e do judiciário.
Não é possível construir uma democracia com o arbítrio da mídia e do judiciário. É urgente neutralizar a ação dessa mídia e isso é possível criando novas mídias, reforçando as mídias alternativa e valorizando a advocacia democrática e ética.
Graças à mídia alternativa fracassou a intenção da mídia corporativa de invisibilizar o movimento popular em apoio ao ex presidente ocorrido em Curitiba. Tudo foi transmitido e visto até mesmo pelos celulares.
Viu-se que na cobertura dos fatos ocorridos em Curitiba as televisões comerciais mostraram só a movimentação das tropas (mil e quinhentos soldados armados) sob o pretexto de garantir segurança. Em contrapartida, o réu chegou nos braços do povo.
Foi um lindo espetáculo o acampamento e a marcha dos Sem Terra pelas rua de Curitiba. Um show de disciplina e organização. Ali não cabia e realmente não coube provocadores. Sete mil camponeses pedindo que se faça Justiça com J maiúscula.

Uníssona na burrice

Incrível, realmente incrível, mas aconteceu: os três maiores jornais do país, Estado, Folha e Globo, com uma mesma manchete, incriminando agora a esposa do Lula, a ex primeira dama Letícia. Como se o Lula tivesse dito, não é comigo é com a que já não está conosco.
Nos autos do processo se vê que realmente o casal foi cotista da cooperativa dos bancários com intenção de comprar o apartamento. Intenção que não se concretizou, a cooperativa faliu, o prédio passou para a construtora e não se realizou a compra. Os documentos comprovam que a propriedade é da construtora mas a mídia e o judiciário querem que o Lula seja o proprietário e ponto.
Ganhou o apartamento como gorjeta, dizem. Ora, por favor, como comissão pelos serviços prestados poderia ter um apartamento de milhões de euros em Paris, como tem certo ex presidente, ou em Miami como têm certos juízes.
Deu pena, além de cansaço, ver as cinco horas de mediocridade da inquirição ao ex presidente. Mas valeu a pena porque Lula deu um show. Show de sabedoria, sobretudo de paciência.
Quantas vezes o juiz fez a mesma pergunta? Não contente com as respostas perguntava coisa que nada tinha a ver com os autos do processo. Com que intenção?
Claro que todo esse tsunami mediático e judicial contra Lula tem uma dupla intenção: primeiro fazer que a opinião pública aceite ser ele um criminoso e o repudie como líder. Isso é necessário para justificar o golpe com que derrubaram o governo de Dilma. Segundo levar o réu à exaustão, quebrar-lhe a espinha, a resistência, anula-lo politicamente.
Estão fracassando nos dois objetivos. Quanto mais batem parece que mais o Lula cresce no imaginário do povão.
Nunca votei no Lula ou no PT no primeiro turno. No segundo turno sim, pois sem outra alternativa, fazer o que? Amigo de Brizola, Darcy Ribeiro, Neiva Moreira, próceres do trabalhismo, entendi, desde as primeiras campanhas da década de 1980, que o de Lula se tratava de um projeto de poder enquanto Brizola tinha um projeto nacional de desenvolvimento, o retorno do trabalhismo getulista nacionalista y desenvolvimentista.
Lula diz que ninguém foi tão massacrado como ele midiaticamente. Talvez tenha razão, pois a mídia hoje está mais consensualmente dominada pelo capital financeiro. Mas a verdade é que tanto Estados Unidos como a mídia (e o Roberto Marinho confessou isso) não admitiriam uma vitória eleitoral de Brizola. Não só o demonizaram como até tentaram fraudar uma eleição.  Contra ele puseram todo o dinheiro do mundo e, o Lula.
Que falta faz o engenheiro. Que saudades da mente fértil do Darcy. Mas, não adianta chorar sobre o leite derramado. O que temos hoje é o Lula. E o Lula tem que se convencer que só um projeto desenvolvimentista, nacionalista, livre da ditadura do capital financeiro salva este país.
Lula tem que entender que a questão chave é a recuperação da soberania e liderar uma ampla frente de salvação nacional.
*Jornalista editor de Diálogos do Sul, maio de 2017


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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