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Jorge Mansilla Torres*
Por acaso não se obriga a um sacerdote citar autores e/ou fontes em seus escritos ou sermões?
Já respirei profundamente e contei até dez antes de soltar isto: o jesuíta Francisco Dardichón cometeu plágio ao publicar como seu o conteúdo de meu livro “Arriscar a pele”, uma biografia do oblato Mauricio Lefèbvre, em um folheto editado pelo consórcio Verbo Divino.
Não sou mencionado como autor e se pretende legalizar o delito com uma ficha de depósito legal e o ISBN 999051-173-X. Para maior INRI, se mascara o plágio com um gerúndio: “Arriscando a pele”. O folheto de Dardichón é vendido desde 2006 em www.ventas@verbodivino-bo.com.
Sinais: Escrevi o livro “Arriscar a pele” no México. Ninguém me pagou um centavo por esse trabalho. Enviei os originais ao oblato Jorge Wavreille em 1983 e a Editorial Burillo publicou-o no mesmo ano. O reitor Pablo Ramos, autor do prólogo, fez o lançamento na Universidade San Marcos – UMSA em 28 de setembro de 1983.
Contei a chegada de Lefèbvre a Llallagua em fevereiro de 1953, a sua solidariedade com minha família quando da morte de meu amado pai em 1956, sua venturosa adesão à Teologia da Libertação e sua execução por franco-atiradores fascistas no golpe de 21 de agosto de 1971. Essa notícia foi transmitida pelos jornalistas e locutores que nesse dia estávamos entrincheirados na Radio Illimani para chamar à resistência popular.
A frase “Arriscar a pele” é do Che, escrita em uma carta ao iniciar a guerrilha em Ñancahuazú e foi recuperada por Mauricio em uma mensagem enviada ao Canadá, em 12 de outubro de 1967, dando conta do assassinato do chefe guerrilheiro, três dias antes, pela CIA e seus asseclas. Nesse informe, Lefèbvre pergunta a seus pares: “Quantos de nós, padres bem alimentados, poderíamos arriscar a pele como o Che para cumprir o que pregamos?”
Questionamentos: Por acaso não se obriga a um sacerdote citar autores e/ou fontes em seus escritos ou sermões? Ou Dardichón redigiu esse folheto como seu testemunho pessoal? E mais: quem protege os direitos autorais na Bolívia? Como se sancionam os plagiadores? A Lei do Livro me dirão. Um advogado me comentou em La Paz que “uma forma de resolver esses abusos é tratar com o abusivo” Para que? E se o plagiador disser que quero dinheiro como “reparação”?
—Você tem razão, já vi casos assim – me disse o jurista ao repetir o mantra de que vale mais um mal acordo que um bom processo.
—Tome cuidado, me aconselhou outro advogado. “Você vai se meter com os jesuítas, que são todo o poder na terra e no céu”. E eu disse que também no Vaticano, onde está o jesuíta Bergoglio, a quem, dito seja de passo, enviei uma carta no dia 19 de março de 2013 sugerindo um gesto de Roma para reivindicar “espinalmente” a dimensão heroica do padre Luis Espinal. Continuo esperando uma resposta papal ao meu papel.
A propósito de Espinal, outro benemérito do plágio na Bolívia apropriou-se de meu poema As espinhas de Espinal e o publicou em um diário de La Paz no dia 22 de março do ano passado. Insisto: a forma mais infame de admirar um autor é plagiá-lo e ficar rico.
Então, o que digo, o que exijo de Dardichón? Não tenho a graça dos que ouvem um pecador confessando sua culpa e lhe concedem o perdão de Deus (!) com um suficiente “vá e não plagie mais”.
O folheto traz a foto do autor de “Arriscando a pele” com um texto laudatório: “Francisco Dardichón, familiarmente Dardi é um jesuíta de longa e tripla trajetória: No nível social (…) No nível educativo (…) No nível pastoral (…)”.
Em que “nível” estaria sua adição aos plágios que envolve em gerúndios? É a pergunta.
*Do núcleo de colaboradores de Diálogos do Sul