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O economista político e sociólogo brasileiro Theotônio dos Santos morreu nesta terça-feira (27), aos 81 anos, vítima de um câncer no pâncreas. Foi um dos formuladores da Teoria da Dependência, e um dos principais formuladores da Teoria do Sistema Mundo.
Redação
Natural de Carangola, interior de Minas Gerais, militou na Polop (Organização Revolucionária Marxista Política Operária). Foi um dos fundadores da Revista Diálogos do Sul e colaborou com a publicação até o fim de sua vida. (Leia aqui os artigos de Theotônio). Escreveu 38 livros, foi co-autor ou colaborador de 78 livros. Seus trabalhos foram publicados em 16 línguas.
A seguir, compartilhamos a homenagem publicada pelo professor Carlos Eduardo Martins, professor do Programa de Estudos sobre Economia Política Internacional (UFRJ), coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ) e coordenador do Grupo de Integração e União Sul-Americana do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso): “Se Theotônio se vai fisicamente deste mundo, o sonho de um socialismo democrático e a continuidade de sua obra permanecem como desafio aberto para as novas gerações e para os muitos que diretamente ou indiretamente influenciou”.
Leia a nota na íntegra:
Prezados, acabo de saber da morte de Theotônio dos Santos. Theotônio, que foi meu professor na graduação da PUC nos anos 1980, e com quem trabalhei 20 anos, entre 1991-2011, deixa um legado importante para as ciências sociais e para a esquerda brasileira.
Sua obra é referência indispensável para se compreender as grandes tendências e contradições do capitalismo contemporâneo, sua crise civilizatória, assim como as mazelas do capitalismo dependente, que transforma este Brasil, com tanta potencialidade e vocação democrática, num país tão persistentemente desigual e injusto, cuja vida é violada pela reemergência estrutural de tendências fascistas que se entrelaçam com as liberais. Lamentavelmente, a tragédia política brasileira que estamos vivenciando e o parentesis democrático que foi a Nova República, só ressaltam a agudeza crítica e a pertinência de sua obra.
Junto com Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra, Theotônio foi fundador e grande expoente da Teoria Marxista da Dependência e, dos três, o que mais conseguiu ultrapassar o bloqueio que sofreram do pensamento institucionalista — desenvolvimentista ou neoliberal — no Brasil.
Theotônio foi quem mais internacionalizou a teoria marxista da dependência, concebendo-a como uma primeira etapa da construção de uma teoria marxista do sistema mundo, dialogando com Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi, Samir Amin, Andre Gunder Frank, Beverly Silver e tantos outros que trouxe ao Brasil.
Theotônio e Vânia não tiveram tempo para viver o que mais queriam: a época em que a teoria da dependência fosse peça de museu. Mas se Theotônio se vai fisicamente deste mundo, o sonho de um socialismo democrático e a continuidade de sua obra permanecem como desafio aberto para as novas gerações e para os muitos que diretamente ou indiretamente influenciou.