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Num jogo de suposições, usemos a imaginação.
Carolina Vásquez Araya*
“O tráfico de pessoas com finalidade de exploração sexual é um drama humano e social, uma violação aos direitos humanos e um delito. É uma prática ilegal que afeta especialmente meninas e meninos e adolescentes, roubando-lhes a inocência e a dignidade. Constitui um crime inaceitável que transgride direitos fundamentais, enquanto os criminosos se beneficiam, lucram, torturam e truncam vidas a costa do sofrimento de outros mais vulneráveis”. Iván Velásquez, Cicig, 2016. Informe sobre o Tráfico de Pessoas com objetivo de Exploração Sexual na Guatemala.
As características do tráfico de pessoas são bem variadas, dependendo das finalidades para as quais se obriga a uma pessoa a submeter-se à escravidão. As redes criminosas dedicadas a essa atividade geralmente preferem como vítimas crianças, dos dois sexos e adolescentes para explorar sexualmente ou para trabalho forçado, dentro ou fora do território.
O impacto emocional, psicológico e físico para uma menina ou uma adolescente, derivado da separação de sua família, do seu lar e de seu ambiente cotidiano é difícil de imaginar. A sensação de impotência, pânico e a dor de saber a impossibilidade de escapar do cativeiro haverá de desembocar em uma enorme e prolongada crise emocional. Se isso é duro para um adulto, imaginemos por um momento como será para uma menina de 5 ou 9 anos destinada a servir de brinquedo sexual a homens que a cobiçam, carentes de escrúpulos e de qualidade humana.
O descrito no parágrafo anterior é, ainda que pareça difícil de digerir, um dos destinos mais recorrentes do tráfico de meninas e adolescentes. Servidoras sexuais em antros de prostituição em que as obrigam a trabalhar também nos serviços domésticos e lhes impedem todo e qualquer contato com o mundo exterior. Enquanto isso, seus pais enfrentem a um sistema insuficiente de busca de pessoas desaparecidas e a uma atitude muitas vezes negligente por parte de agentes policiais pouco empáticos com a família das vítimas e mal capacitados para cuidar desse tipo de situação.
Guatemala é um dos países mais afetados da região, com cerca de 50 mil vítimas de tráfico sexual. Porém, mesmo quando há algum avanço na abordagem do problema, são milhares de meninas, meninos, adolescentes e mulheres cujo paradeiro se desconhece. As organizações criminosas dedicadas ao mercado de venda e exploração de pessoas estabeleceram sua fortaleza no tráfico de influências, a violência homicida e a intimidação, especialmente em comunidades das regiões mais distantes do país, onde não existe a presença do Estado.
Se pensar no quão dramático é o desaparecimento de um familiar, agora suponha que essa menina de 5, 7 anos é sua filha e um dia, estando a jogar com amiguinhos da mesma rua, desaparece. Suponha que você, em estado de absoluto desespero, acode à polícia. Prometerão que farão a busca. Pedirão paciência, porque seu caso é um a mais entre muitos outros parecidos ou idênticos, de meninas e meninas ausentes de seu lar porque alguém os levou enganosamente ou pela força.
Suponhamos, finalmente, que essa espera se converta numa angústia permanente e sem esperança de nunca mais saber, como ocorre com tantas mães e pais cujos entes mais queridos foram arrebatados pelas redes de tráfico para convertê-los em escravos sexuais, submetê-los a trabalho forçado ou tirar deles órgãos vitais para vender. Como parte dessa sociedade, você pode deixar a indiferença de lado para provocar uma mudança e salvar a vida de milhares de meninas e meninos que precisam ser salvos, inclusive os seus.
*Colaboradora de Diálogos do Sul, de Ciudad de Guatemala.