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Que venha a Primavera brasileira

Marli Gonçalves

Tradução:

Marli Gonçalves*

brasilHá de chegar a nossa primavera, para que os dias possam voltar também a ser mais normais, que possamos realizar as coisas, com mais perspectivas, e não tenhamos mais de perder tanto tempo só cortando prazeres das nossas vidas, nem mais discutindo e pensando nas pragas que devassaram esse nosso imenso jardim. Eles não são flores que se cheirem.

Pensa só há quantos anos, de novo, a gente não tem calmaria real, não relaxa, fica só vendo o país ir para a cucuia. Nos últimos meses aconteceu que a coisa se acelerou, não dá mais para eles esconderem nas propagandas. Tanto tentamos alertar que não era bem assim, mas caiam bolsas em nossas cabeças. Bolsa Família. Bolsa Casa. Bolsa Bolsa. Embolsa bolsa. Agora vemos e sentimos bem perto de nossos narizes e olhos a tal da miséria que tanto insistiram que haviam exterminado. A gente aplaudia a parte boa, apoiava, mas sempre mostrando que não havia planejamento entre as muitas notas de populismo, que a jurupoca ia chiar. Não quiseram ouvir. Aliás, ainda tentam se fazer de moucos, nos chamando de golpistas.

Transbordou.

Se muitos movimentos políticos foram chamados de primaveras, porque não a Primavera Brasileira, bonita, colorida, diferente, divertida? Quem sabe não poderemos aproveitar a estação e fazer florescer uma nova cultura, mais ampla, solidária, construtiva? Nas ruas, com alegria, em paz, vamos tentar buscar a solução, a que seja melhor, que possa agregar e reunir o maior número de pessoas e representações. Houve a Primavera dos Povos, a Primavera de Praga, a Primavera Árabe, e até em Portugal, se não foi primavera, tinha flor no meio, a Revolução dos Cravos.
Mas tem de ser nessa estação que começa agora, 23, desta semana de setembro. Pensa que temos três meses, que não nos resta muita alternativa. Temos de parar de andar em círculos, onde todos os dias parece que lemos a mesma edição do jornal, cheias de achismos, chutes, previsões plantadas, diz-que-disse. Essa xingação mútua não tem sentido algum nem ajuda a desempacar. Vamos atarracar uma mangueira nesse Lava Jato para adubar novas ideias e perspectivas.
Pega a primavera, a fina flor, as pessoas na flor da idade, as flores raras, as flores que já desabrocharam e perderam espinhos, vamos cultivar as flores da retórica do convencimento por um projeto decente, de retomada de rumo. Revolução de comportamento, com a marca da personalidade brasileira. Pensamentos dogmáticos tradicionais não têm cabimento agora.
Já dá para ouvir o canto dos pássaros assobiando, rebolando bonito as suas asas, atrás de penas para se coçar e procriar. O acasalamento é a cara da primavera, das cores e das flores, das pessoas. Vê se me entende e ajuda: puxa mais gente e sementes.
Senão, olha que eu vou chamar a Comadre Florzinha para aterrorizar e puxar o pé de vocês de noite. Conhece a história dela, lenda do folclore pernambucano? Foi uma menina que se perdeu na mata, morreu, mas seu espírito ficou perdido na floresta e com o tempo ela passou a aterrorizar vilas e fazendas, com suas aparições. Dizem, e ela vive aparecendo, que é parecida com aquela outra assustadora garota de O Chamado, que mora em um poço.
Florzinha tem longos cabelos negros. Mas à noite eles, os cabelos, pegam fogo e viram chicotes ardidos para cima do lombo de quem não lhe dá as coisas de que mais gosta, fumos, mel e mingau. Arteira, adora dar nós nos rabos dos cavalos. Ela também ataca quem não trata bem as árvores e protege a natureza como fada – pode ser menina-moça boazinha também. Comadre Florzinha.
“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento”, escreveu a grande poetisa portuguesa Florbela Espanca.
São Paulo, 2015, tenso.
Marli Gonçalves, jornalista — – Reconhece essa estrofe de canção? …”Pelos campos a fome em grandes plantações /Pelas ruas marchando indecisos cordões/Ainda fazem da flor seu mais forte refrão /E acreditam nas flores vencendo o canhão”… Pois é. Nervos à flor da pele …”Vem, vamos embora que esperar não é saber /Quem sabe faz a hora não espera acontecer”…


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Marli Gonçalves

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