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Benedito Tadeu César*
Aparentemente, o bom senso começa a ser restabelecido no país. A direita e a esquerda brasileiras precisam entender uma verdade histórica: quem mantém ou não qualquer governo no capitalismo é sempre, em última instância, o capital. Ainda que, para isto, ele precise semear sua posição junto à opinião pública.
Todos nós, cidadãos comuns, podemos esbravejar a favor ou contra qualquer governo, mas quem manda mesmo no resultado final é o humor do capital.
Se ele fica contrário, o governo cai. Se ele admite que a democracia deve ser respeitada e que a vontade popular, manifestada nas urnas, deve ser considerada, o governo se mantém.
Neste momento, o primeiro a se manifestar foi o capital local com notas da Fiesp, em São Paulo, e da Firjan, no Rio de Janeiro, alertando que a deposição de uma presidenta legitimamente eleita, sem motivos juridicamente comprovados, provocaria mais males do que bens.
Depois, veio o recuo das grandes redes de comunicação no país.
Na semana passada, publicações norte-americanas já davam conta da posição de importantes setores do capital internacional. Nesta semana, o New York Times, dos EUA, e o Financial Times, da Inglaterra, deixaram claro que depor Dilma é produzir o caos na economia brasileira. Afinal, o Brasil, hoje majoritariamente urbano e com uma economia que ocupa a sétima posição no cenário internacional, não é qualquer republiqueta. Há muitos interesses em jogo.
No ambiente de polarização política em curso no país, a direita tupiniquim passou dos limites. O desvario dos golpistas fez com ela caísse no ridículo internacional.
Fernando Henrique Cardoso, numa posição que causou surpresa a muitos, perdeu o time e, com seu pronunciamento contra a maré do recente posicionamento do capital, comprometeu sua biografia perante o mundo.
A extrema-esquerda brasileira, por seu turno, tem dificuldade de entender que o desejo de melhoria das condições de vida da maioria da população, ainda que justo, não é o único fator imediato decisivo na definição das posições políticas.
Pressionar para que o governo faça ajustes que prejudiquem menos a população e comprometam menos o desenvolvimento nacional é fundamental, mas alimentar ilusões de que se possa agir de forma totalmente independente do mercado, nos marcos do capitalismo e sem uma revolução social (que, aliás, não está colocada no panorama político em país nenhum do mundo), é alimentar fantasias descabidas.
As manifestações e as pressões à direita e à esquerda, dentro dos padrões constitucionais e no limite dos princípios democráticos, são necessárias e bem-vindas.
Até Dilma Rousseff, que combateu nossa última ditadura e buscou construir um Brasil socialista pela via revolucionária, já compreendeu que a construção de um país mais justo e com equidade social precisa ser feita na luta social, no respeito às instituições democráticas, na aceitação e no respeito à vontade popular e na negociação entre os diversos interesses e forças políticas, ainda que ela não tenha se mostrado tão habilidosa na arte da negociação com as diferentes forças políticas.
É preciso, neste momento, que a direita e a esquerda mais extremadas compreendam a mesma verdade: o sonho de um país nos moldes que cada uma delas considera mais justo precisa ser sonhado em conjunto. Corações e mentes precisam ser ganhos para as causas que defendem.
Esta construção, no entanto, só se faz com o respeito aos instrumentos democráticos. No Brasil, hoje, a luta fundamental precisa ser, de um lado, o combate à corrupção, mantida a normalidade jurídico-democrática, sem excessos, inclusive os eventualmente cometidos por aqueles que devem aplicar a lei e zelar pelo seu cumprimento.
De outro lado, torna-se prioritária uma ampla e profunda reforma política, que elimine o financiamento e o resultante poder excessivo do grande capital sobre a escolha dos representantes e dirigentes políticos.
E, tão fundamental quanto, coloca-se a necessidade de democratização da comunicação social: o fim do monopólio na propriedade das redes e o estabelecimento de limites que imponham o respeito à verdade factual e à sua divulgação. Sem impor restrições à liberdade de expressão e de imprensa, é preciso estabelecer rígidos limites à ditadura do monopólio da imprensa, que se tornou, de fato, o quarto poder, capaz de desestabilizar governos eleitos, sob controle apenas de seus proprietários e aliados políticos, sob uma falsa imagem de neutralidade.
* Cientista Político – Colabora com Diálogos do Sul
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Revista Diálogos do Sul
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