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Paul Graig Roberts*
Desencadear o mal no mundo. Esta é a conseqüência das intervenções irresponsáveis e imprudentes dos EUA em vários países, a saber: Iraque, Líbia e Síria, entre outros. Sob o governo Saddam, Gadaffi e Assad as várias seitas existentes no Oriente Médio viviam em paz. Hoje, massacram-se uns aos outros, enquanto um novo grupo, o DAASH, ou EIIL, ou ISIL ou ISIS, está em pleno processo de criação de um novo Estado, com pedaços do Iraque e da Síria. Milhões de mortes já acontecidas e mortes incalculáveis no futuro são o que fizeram o regime de Bush e Obama pela turbulência causada no Oriente Médio. Neste exato momento em que escrevo, 40.000 iraquianos estão presos no topo de uma montanha, sem água, a esperar a morte nas mãos do ISIS, que vem a ser uma criação da intromissão dos EUA.
A realidade atual no Oriente Médio está em enorme contradição com o pronunciamento de George W. Bush no Porta Aviões Abraham Lincoln, dos EUA, quando declarou: “Missão Cumprida”, em maio de 2003. A verdadeira missão realizada por Washington foi destruir o Oriente Médio e a vida de milhões de pessoas, destruindo também, no processo, a reputação dos Estados Unidos. É graças ao regime demoníaco e neoconservador de Bush que os Estados Unidos são hoje considerados universalmente como a maior ameaça à paz mundial.
O padrão foi fornecido pelo regime Clinton, com o ataque à Sérvia. Bush apenas incrementou a barbárie com a agressão nua de Washington contra o Afeganistão, travestindo-a, em linguagem orwelliana, de “Operação Liberdade Duradoura”.
Para o Afeganistão, Washington não trouxe a liberdade, mas a ruína. Depois de treze anos explodindo o país, os EUA estão em retirada. O “superpoder” foi derrotado por alguns milhares de talibãs levemente armados, porém Washington larga para trás um deserto para o qual não quer assumir qualquer responsabilidade.
Outra interminável fonte de sofrimento no Oriente Médio é Israel, cujo roubo da Palestina foi permitido e apoiado pelos Estados Unidos. No transcorrer dos últimos ataques de Israel a civis em Gaza, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução em apoio aos crimes de guerra de Israel e votaram pelo fornecimento de mais centenas de milhões de dólares para pagar as munições gastas por Israel. Estamos neste momento testemunhando a Moral Americana, que apóia 100% a indefensáveis e inegáveis crimes de guerra, cometidos essencialmente contra civis desarmados e impossibilitados de se defender.
Quando Israel assassina mulheres e crianças, os Estados Unidos denominam isso como “o direito que Israel tem de defender o próprio país”. O mesmo país ao qual Israel roubou dos palestinos. Mas se os palestinos retaliam, Washington os chama de “terroristas”. Apoiando Israel, os EUA declaram seu apoio a um Estado Terrorista. Porque ainda existem alguns governos morais, Israel foi acusado de crimes de guerra pelo Secretário Geral da ONU, e os Estados Unidos violam suas próprias leis ao apoiar esse Estado Terrorista.
Mas não há surpresa nisso, tendo em vista que os EUA são os líderes entre todos os Estados Terroristas e, portanto, sob a Lei dos EUA, Washington está exercendo ilegalmente o poder. Mas é sabido que os EUA não aceitam, nem leis nacionais, nem internacionais, nem qualquer restrição às suas ações. Washington é “excepcional, indispensável”. Ninguém mais será levado em conta. Nem lei, nem Constituição, nenhuma consideração humana tem autoridade para contrariar Washington em suas vontades. Washington chega a superar o Terceiro Reich com suas afirmações.
Por mais temerária e horrível que seja a imprudência dos EUA em relação ao Oriente Médio, a que ostenta atualmente em relação à Rússia está vários pontos acima. Os EUA acabaram por convencer a Rússia de que Washington está planejando um primeiro ataque nuclear. Em resposta, a Rússia está reforçando suas forças nucleares e ao mesmo tempo, testa as forças nucleares americanas, assim como as reações de seu sistema de defesa.
É muito difícil imaginar ato mais irresponsável que levar a Rússia a acreditar que os EUA pretendem lançar contra os russos um primeiro ataque nuclear preventivo. Um dos conselheiros de Putin explicou à mídia russa as intenções de Washington de um primeiro ataque preventivo e um membro da Duma (Parlamento) russa fez uma explanação documentada do que seria esse primeiro ataque preventivo dos EUA.
Pela acumulação de provas, eu tenho salientado em minha coluna que, para a Rússia, é impossível deixar de chegar a essa conclusão.
A China está consciente de que enfrenta a mesma ameaça da parte de Washington. A resposta da China aos planos de guerra de Washington foi a demonstração de como as forças nucleares chinesas seriam usadas no contra ataque, causando a destruição dos EUA. A China tornou tudo isso público, na esperança de criar uma oposição nos EUA aos planos de Washington contra a China.
Assim como a Rússia, a China é um país em ascensão e a última coisa de que precisa para ter sucesso é uma guerra.
O único país que necessita urgentemente de uma guerra são os EUA, e isso acontece porque o objetivo de Washington é o exercício de uma hegemonia neoconservadora estadunidense sobre o mundo.
Antes dos regimes de Bush e Obama, todos os presidentes anteriores dos Estados Unidos envidaram seus melhores esforços em prevenir uma ameaça de guerra nuclear. A doutrina de guerra nuclear americana sempre se limitou a uma retaliação caso os Estados Unidos fossem alvo de um ataque nuclear. O objetivo das forças nucleares sempre foi evitar o uso dessas armas. O regime imprudente de George W. Bush destruiu essa política de contenção elevando as armas nucleares a um patamar de primeiro ataque preventivo. O objetivo primordial da administração Reagan foi o fim da guerra fria e por consequência, o fim da ameaça de guerra nuclear. Os regimes de George W. Bush, juntamente com o regime de Obama, promovendo a demonização da Rússia, já derrubaram o feito único e brilhante do presidente Reagan, e acabaram por tornar novamente possível a guerra nuclear.
Quando o governo incompetente de Obama decidiu derrubar o governante democraticamente eleito da Ucrânia, trocando-o por um governo fantoche escolhido por Washington, o Departamento de Estado de Obama, que por sua vez é fantoche de ideólogos neoconservadores, acabou por se esquecer que o leste e o sul da Ucrânia são compostos por antigas províncias russas que foram alocadas à República Soviética Socialista da Ucrânia por líderes do Partido Comunista quando a Ucrânia e a Rússia eram parte de um mesmo país, a União Soviética. A seguir, quando os idiotas russófobos que Washington instalou em Kiev demonstraram não apenas por palavras, mas também por atos sua hostilidade agressiva em relação à população russa, as antigas províncias russas declararam seu desejo de tornar a fazer parte da mãe Rússia. Não há surpresa nisso, nem pode ser atribuída qualquer culpa à Rússia por esse fato.
A Criméia teve sucesso em retornar à Rússia, da qual fazia parte desde 1700, mas Putin, talvez na esperança de desarmar a propaganda de guerra manipulada que os EUA disparava contra ele, não aceitou a solicitação das outras antigas províncias russas. Em consequência, os fantoches de Washington em Kiev se sentiram livres para atacar as pessoas que protestavam nas províncias, copiando a política de Israel de atacar a população, as residências e a infraestrutura civil.
Os meios fazem o jogo do terror de Estado
A mídia prostituta do ocidente deixou os fatos de lado e prontamente acusou a Rússia de anexar partes da Ucrânia. Mentira absurda, só comparável com as mentiras ditas pelo Secretário de Estado, Colin Powell na ONU, quando falou sobre as supostas armas de destruição em massa do Iraque, tudo para favorecer o regime criminoso de Bush. Mais tarde, Powell pediu desculpas pela mentira, mas isso de nada adiantou ao Iraque e às centenas de milhares de vítimas, destruídas por suas mentiras.
Quando o avião da Malásia foi abatido, antes de se conhecer quaisquer fatos, a Rússia foi responsabilizada. A mídia britânica foi especialmente virulenta em culpar a Rússia quase no mesmo instante em que se soube que o avião fora derrubado. As deturpações grosseiras e mentiras deslavadas da BBC e da American National Public Radio só foram superadas como propaganda manipulada pelo Daily Mail. Tudo leva a crer que a “notícia” e sua propagação foi adrede orquestrada o que sugere, é claro, que os EUA estavam por trás de tudo.
As mortes provocadas pela queda do avião se tornaram armas propagandísticas importantes para Washington. Claro que se trata de uma infelicidade a morte de 290 vítimas, mas eles são apenas uma fração do número de palestinos mortos, no mesmo instante sem provocar qualquer rumor ou protesto nem de governos, nem dos povos ocidentais nas ruas, e os poucos que protestaram contra Israel foram convenientemente reprimidos pelas forças de segurança ocidentais.
A queda do avião, provavelmente provocada por Washington, foi usada como mais uma desculpa para nova rodada de “sanções e pressão” dos Estados Unidos, às quais se juntaram mais sanções de seus fantoches europeus.
Como os EUA dependem de acusações e insinuações, se recusa a liberar as provas a partir de fotos de satélite, porque tais fotos desmentiriam a versão dada pelos EUA. Fato. Não se permite qualquer tipo de interferência contra a demonização que Washington promove contra a Rússia, da mesma forma que não se permitiu que qualquer fato interferisse contra a demonização promovida por Washington contra o Iraque, a Líbia, a Síria, o Irã.
Vinte e dois senadores dos Estados Unidos, irresponsáveis e imprudentes, deram forma ao “Ato Preventivo 2014 sobre a Agressão Russa”. O projeto de Lei/2277 do Senado dos Estados Unidos patrocinado pelo Senador Bob Corker, representa bem a ignorância e estupidez que assola a maioria da população dos Estados Unidos ou da maioria dos eleitores do Estado do Tennessee. O Projeto de Lei de Corker é uma peça demente de legislação destinada a promover uma guerra que muito provavelmente não deixará sobreviventes. Aparentemente os eleitores imbecis dos Estados Unidos elegerão qualquer idiota para o poder.
A convicção de que a Rússia é responsável pela queda do avião da Malásia tornou-se verdade incontestável nas capitais do ocidente, mesmo sem qualquer farrapo de evidência de que tal afirmação é verdade. Convenhamos, mesmo que a acusação fosse verdadeira, a queda de um avião é motivo para deflagrar uma Guerra Mundial?
O Comitê de Defesa do Reino Unido concluiu que o reino quebrado e seu exército impotente devem “concentrar-se na defesa da Europa contra a Rússia”. Batendo os tambores das despesas militares, se não os da própria guerra, o Reino Unido quer levar todo o ocidente em sua companhia. Uma Grã-Bretanha impotente quer defender a Europa de uma ameaça que não existe, mesmo estridulamente proclamada, de ataque do urso russo.
Alertas são emitidos por dignitários militares da OTAN e dos Estados Unidos, assim como do chefe do Pentágono, tudo baseado na alegada, mas não existente presença de tropas russas na fronteira com a Ucrânia. De acordo com o Ministério de Propaganda Manipulada do ocidente, caso a Rússia defenda a população na Ucrânia dos ataques militares desfechados pelos fantoches de Washington em Kiev, isso se constitui em prova de que a Rússia é o vilão.
Mentira como política de Estado
A campanha de propaganda mentirosa de Washington teve sucesso em transformar a Rússia em uma ameaça. Pesquisas demonstram que 69% dos estadunidenses hoje vêem a Rússia como uma ameaça, e que a confiança dos russos nos líderes americanos desapareceu. Os russos e seu governo percebem uma demonização idêntica contra o seu país e seu líder, como observaram em relação ao Iraque e Saddam Hussein, contra a Líbia e Muammar Gadaffi, contra a Síria e Assad, e contra o Afeganistão e o Talibã, imediatamente antes de serem seus países tomados de assalto pelo ocidente. Para um russo, a conclusão óbvia, a evidência gritante é que Washington pretende fazer a guerra contra a Rússia.
A irresponsabilidade e a imprudência do regime de Obama não tem precedentes, em minha opinião. Nunca antes houve nos Estados Unidos ou em qualquer outra potência nuclear, um governo que fosse tão longe em seus esforços para convencer outra potência nuclear de que seu poder estava sendo preparado para um ataque. Imaginar ato tão provocativo e mais perigoso para a vida no planeta Terra é muito difícil. Indubitavelmente, o louco da Casa Branca duplicou esse perigo, convencendo ao mesmo tempo a Rússia e a China de que os Estados Unidos preparam um primeiro ataque nuclear preventivo contra ambos.
Os republicanos querem processar ou impichar (conforme Dicionário Aulete – NT) Obama por assuntos relativamente desimportantes como o ObamaCare. Por que os republicanos não impicham Obama por causa de um assunto tão crucial como submeter o mundo ao risco de um Armagedon?
A resposta está no fato de que os republicanos são tão insanos quanto os democratas. Seus líderes, como John McCain e Lindsay Graham, estão determinados a “levantar-se contra os russos!”. Para onde quer que se olhe para os políticos estadunidenses, só se vê gente louca, psicopatas e sociopatas que não deveriam estar ocupando um cargo político.
Washington mandou a diplomacia às favas há longo tempo. Os EUA baseiam-se na força e na intimidação. O governo dos Estados Unidos é totalmente desprovido de bom senso. Não é por outra causa que uma pesquisa efetuada no resto do mundo considera que o governo dos Estados Unidos é atualmente a maior ameaça à paz mundial. Hoje (8/8/2014) Handelsblatt, o Jornal de Wall Street da Alemanha escreveu, em um editorial assinado:
A tendência demonstrada pelos Estados Unidos de transformar uma escalada verbal em escalada militar – o isolamento, demonização e ataque aos inimigos – mostrou-se ineficaz. O último grande sucesso militar em ação dos Estados Unidos aconteceu na invasão da Normandia (em 1944). Todos os outros – Coréia, Vietnã, Iraque e Afeganistão – acabaram em claro fracasso. Mover unidades da OTAN através da fronteira Polonesa para perto da Rússia e pensar em armar a Ucrânia não passa da continuação da política de contar com os meios militares em detrimento da diplomacia.
Os Estados fantoches de Washington – toda a Europa, Japão, Canadá e Austrália – permitem um perigo inigualável ao mundo todo através de seu apoio à agenda dos EUA continuarem a exercer sua hegemonia sobre o mundo inteiro.
Acaba de acontecer o 100º aniversário da Iª Guerra Mundial. Hoje, repete-se a loucura que causou aquela guerra calamitosa. A Iª Guerra Mundial destruiu o mundo ocidental civilizado, e foi causado por um punhado de conspiradores. O resultado foi Lênin, a União Soviética, Hitler, o nascimento e crescimento do Império Americano, Coréia, Vietnã, intervenções militares que acabaram na criação do EIIL (ISIL, ISIS, DAASH) e agora está sendo recriado o conflito entre Rússia e Estados Unidos, que o presidente Reagan e Mikhail Gorbachev haviam sepultado.
Como já salientou Stephen Starr em meu site, se apenas 10% das armas nucleares do arsenal dos Estados Unidos e da Rússia forem usados, a vida na Terra acabará.
Caros leitores, perguntem a vocês mesmos, quando foi que Washington falou qualquer coisa que não fosse uma mentira? As mentiras dos EUA já causaram milhões de mortes. Você quer se tornar mais uma vítima dessas mentiras?
Você acha que vale a pena o risco de acabar com a vida na Terra por causa das mentiras dos EUA sobre a queda do avião da Malásia e sobre a Ucrânia? Existe alguém ingênuo o suficiente para acreditar que os EUA não mentem sobre a Ucrânia da mesma forma que mentiram sobre as armas de destruição em massa de Hussein, sobre as bombas iranianas e sobre o uso por Assad de armas químicas?
Você não acha que a influência noeconservadora que prevalece hoje em Washington, independentemente do partido político no poder, é muito perigosa para ser tolerada?
[*] Paul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939) é um economista norte-americano e colunista doCreators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business WeekeScripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que destruíram a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University