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Benedito Tadeu César*
Começou agora, de fato, a campanha eleitoral de 2014. Tudo o que aconteceu antes do início do Horário Eleitoral Gratuito no Rádio e na TV foi, como já costuma ocorrer em todos os pleitos, apenas o aquecimento para a disputa. Neste momento, porém, a morte de Eduardo Campos e sua substituição por Marina Silva impõe um recomeço na disputa, uma redefinição do posicionamento dos candidatos frente a seus adversários.
Com consequências nacionais profundas, a ascensão de Marina Silva provoca alterações também no cenário eleitoral no Rio Grande do Sul. Beto Albuquerque assume a candidatura a vice-presidente da República e, com isso, abre vaga na chapa da coligação PMDB/PSB para o Senado, provocando grande reviravolta no cenário eleitoral local.
Pedro Simon, avalista e mediador da aproximação entre Marina Silva e Eduardo Campos, quando da filiação de Marina ao PSB, depois da frustrada tentativa de fundação da Rede Sustentabilidade, surge como nome natural para substituir Beto Albuquerque na disputa ao Senado e será pressionado pelo PMDB a fazê-lo. Senador por quatro mandatos, no entanto, Simon já havia desistido de disputar a reeleição em decorrência de sua idade avançada e resiste, ao menos em seus pronunciamentos públicos até agora, em retornar à cena eleitoral.
Germano Rigotto, outro nome lembrado, também já se manifestou refratário a aceitar o convite, alegando que o “momento [de sua candidatura] já passou”. Expressando mágoa, Rigotto foi taxativo na sua manifestação para a imprensa: “Eu estava preparado para ser candidato, acho que tinha condições de ganhar a eleição. … Se a minha candidatura tivesse surgido naturalmente, como era vontade incrível na base há coisa de três, dois meses, seria diferente. Hoje, não. Essa possibilidade não existe mais. Não tem possibilidade. Zero chance. Não tem possibilidade nenhuma, nenhuma.”
Qualquer que seja o candidato, no entanto, enfrentará uma disputa acirrada e, muito provavelmente, se verá emparedado entre dois grandes oponentes. De um lado Lasier Martins, pelo PDT, e de outro Olívio Dutra, pelo PT, os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto até o momento. Com cerca de 10% nas pesquisas, Beto Albuquerque aparecia em terceiro lugar e com pouca chance de romper a polarização. Seu substituto, entrando na disputa depois de o horário eleitoral já ter se iniciado e depois de a estrutura de campanha de todos os candidatos já ter sido montada, dificilmente terá condições de inverter o quadro estabelecido.
A menos que as candidaturas de Marina Silva, à Presidência da República, e de José Ivo Sartori, ao Governo do Rio Grande do Sul, se firmem a ponto de impulsionarem a candidatura do substituto de Beto Albuquerque, a tendência será de que Olívio Dutra se beneficie e acabe herdando boa parte dos votos que anteriormente iriam para Beto. Lasier Martins, que antevia uma vitória fácil antes da entrada de Olívio Dutra na disputa e que já se via acossado por ele, será o grande prejudicado pela saída de Beto Albuquerque e poderá ver a chance de sua vitória se esvair.
Beto Albuquerque, por seu lado, decola do Rio Grande do Sul para um grande voo nacional. Ele, que atuou com empenho na viabilização da candidatura de Eduardo Campos, na costura da chapa com Marina Silva e na arquitetura dos palanques estaduais da chapa Eduardo/Marina, poderá acabar eleito vice-presidente da República. Artífice de uma candidatura sem grande chance eleitoral neste ano e que mirava mais intensamente as eleições de 2018 do que as de 2014, Beto Albuquerque sai do fundo do palco e assume o primeiro plano, passando a desempenhar um dos papéis principais na disputa eleitoral.
Beto Albuquerque não será apenas o candidato a vice-presidente de Marina Silva, mas será a voz e a consciência do PSB na coligação, posto que Marina tende a continuar atuando como Rede Sustentabilidade, partido para o qual deverá se transferir tão logo consiga o registro no TSE. Será Beto Albuquerque quem garantirá os acordos político-eleitorais firmados por Eduardo Campos e nem sempre referendados por Marina Silva, como em São Paulo e no Rio de Janeiro, estados com o primeiro e o terceiro maiores colégios eleitorais e imprescindíveis para uma vitória na campanha à presidência da República. Será Beto Albuquerque o negociador e o fiador da candidatura frente ao agronegócio e outros setores econômicos com os quais Marina Silva tem atritos. Sem Beto Albuquerque, a candidatura de Marina Silva fica sem chão, apoiada apenas nos “sonháticos” e naqueles que se desiludiram com a política.
Beto Albuquerque, aliás, pode ser o álibi perfeito para Marina Silva. Ele assume o lado “feio” dos acordos políticos imprescindíveis para a vitória e liberta Marina Silva para os aplausos e para a colheita dos votos dos que se julgavam até aqui “não representados” pela política real. Será Beto Albuquerque, além disso, quem dará fundamento de realidade nos projetos de governo de Marina Silva, até aqui pouco concretos e pouco alinhavados, transformando-os em projetos de governo da chapa Marina Silva/Beto Albuquerque. Ele terá a imensa tarefa de conciliar as duas Marinas necessárias para que sua candidatura se viabilize eleitoralmente e tenha chances reais de vitória: a Marina dos “sonháticos” e dos desiludidos e a Marina dos acordos políticos e do programa real de governo. Tarefa hercúlea, sem dúvida. Resta saber se ela será realizável.
* Cientista político e colaborador da Diálogos do Sul
Fonte: Sul21