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Gustavo Espinoza M*
Nesta quarta-feira (20/8), o Congresso da República do Peru deve outorgar um voto de confiança ao Gabinete presidido por Ana Jara, ou questionará sua adesão gerando um novo grau de confronto existente entre o governo de Ollanta Humala e a oposição liderada por Keiko Fujimori e Alan García Pérez.
Há que recordar que a designação de uma jovem parlamentar situacionista como presidenta do Conselho de Ministros, foi precipitada devido a saída do ministro Cornejo, que, por sua vez, viu dificultada sua ação tanto pela intransigência dos partidos mais reacionários quanto pela incapacidade de um Poder Executivo que não acerta na busca de formas concretas de ação, apesar dos três anos de gestão do presidente Humala.
Desde o início da crise que gerou a queda desse Gabinete, os grande meios e os mais tonitruantes porta-vozes da máfia se empenharam em assegurar que a instabilidade do governo e a precariedade dos titulares dos diversos ministérios tinha como origem a arbitrária vontade de Nadine Heredia, a esposa do presidente Humala, detestada e temida ao mesmo tempo.
A campanha contra Nadine Heredia já tem algum tempo. Na realidade começou em 2011, quando os grupos mais reacionários vislumbraram a possibilidade de que a esposa do hoje presidente pudesse ser – em 2016 – uma candidata que arrasasse nas urnas acabando com as pretensões de Keiko e Garcia.
Na verdade, não é propriamente um questionamento político que esgrimem contra a primeira dama da Nação, mas um rechaço instintivo, que deriva do medo da eventualidade de uma prolongação do mandato do presidente Humala através de interposta pessoa, mais precisamente, sua esposa.
E não é este um questionamento político, porque em termos formais, tanto porta-vozes dos partidos reacionários como sustenta Nadine Heredia – pelo menos publicamente – mais ou menos a mesma coisa. Ambos rendem honrarias ao “modelo” neoliberal, expressam sua identificação com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial e aspiram –no melhor dos caos- a administrar a crise nacional, sem mudanças reais nem sobressaltos.
Qual, então, a diferença? Basicamente dois temas: o da corrupção e o de uma política exterior que possa responder às exigências de nosso tempo. Vejamos.
No tema da corrupção, ha diferenças inequívocas. Não tanto por não ter ocorrido o fenômeno sob a administração atual, mas porque, objetivamente, não é hoje a máfia tradicional a que tem em suas mãos os recursos da administração pública. E mais, a máfia a que pertentem Keijo e García, não somente hoje não governa mas foi em boa medida descoberta e colocada na defensiva pelo próprio desenrolar dos acontecimentos.
A Comissão Tejada, que viu as acusações constitucionais contra o ex presidente García, encontrou motivos mais que suficientes para processá-lo em foro comum. E a fundada denúncia de um professor universitário sobre a falsa formação acadêmica de García, completou. Hoje o líder aprista está sob risco de ser processado, apesar de ter em suas mãos uma boa dose de poder, com vínculos no Ministério Público e no Sistema Judiciário peruano.
Keiko Fujimori, por sua vez, procura escapar de qualquer responsabilidade mantendo artificialmente um “perfil débil” que não combina com a turbulenta agressividade de sua bancada. Tem fundada esperança de que o tempo passe e a gente apague da consciência o risco contido no retorno da máfia japonesa nas altas esferas do poder.
É esse o esquema. Ambas as forças buscam enlamear o governo atual propagando a ideia de que no país a corrupção é generalizada, compromete a todos, e ninguém escapa dela. E que, como na lenda bíblica, aqui também “ninguém pode atirar a primeira pedra”, porque fazê-lo seria como cuspir para o alto. Uma maneira de dizer que aqui tudo está podre, e nada tem salvação.
O segundo elemento que se ventila com alguma frequência, tem qu ver com a política exterior. Se bem antes a diferença se expressava abertamente pelo trato dado ao “caso venezuelano”, hoje o que chama a atenção é a crise no Oriente Médio e, mais precisamente, na Palestina.
Em torno do tema se tem embaralhado argumentos subalternos: trata-se, dizem alguns, de “um conflito distante de nossas fronteiras, e que ,por isso mesmo, não nos compete. Por que teríamos que condenar a Israel por “uma guerra que interessa só a seu povo e afeta apenas a seus vizinhos?” Por que se meter em um pleito que não é de nossa competência? Soem dizer arrebatados os áulicos do império.
Mais agressivamente, outros da mesma trincheira, esboçaram a tese de que “a guerra de Israel” é contra o terrorismo. E partindo disso, ousam comparar o Hamas com o Sendero Luminoso, assegurando que Tel Aviv se defende, como teríamos que nos defender se as hostes de Abimael Guzmán lançassem mísseis sobre nós, ou construíssem túneis para minar nossa democracia”.
Os argumentos se orientam não certamente para persuadir a cidadania que se horroriza diante da matança de crianças em Gaza e a mal chamada Cisjordânia. Só para sugerir que por sua política exterior o governo de Humala “apoia terroristas”. E que isso tem que ver com a Alba, Chávez, Venezuela, Unasur e tudo o que cheira a resistência ao domínio ianque.
Por essa via se empenham em alentar –já não tanto neste momento, mas no futuro- uma mudança de rumo na política exterior peruana para distanciar-nos do processo libertador que vive América Latina.
Como sabem que a peça principal – por seu rol orientador e claro exemplo – a simbologia de Cuba. Promovem ações contra a pátria de Martí e de Fidel, cumplices das vilanias do império.
Isso explica a recente descoberta: a ingerência sediciosa de EUA, através da Usaid, com o propósito de “forçar uma mudança em Cuba”, utilizando para isso a jovens peruanos e de outros países.
No fundo buscam gerar um confronto que possa ligar os dois países irmãos: Cuba e Peru. Fizeram antes, em 1960, e em 1980, e tentarão conseguir agora, aproveitando a precária fragilidade do regime peruano.
Estas duas são as correntes submarinas que se movem sob o oceano de reuniões e promessas que são tecidas hoje no cenário legislativo.
A máfia sabe que não tem argumento para desmoralizar o reconhecimento parlamentar ao gabinete em funções. Inventam temas, especulam com suposições, aludem a fantasmas e sobretudo, buscam minar a base do governo utilizando a ofensiva dos grandes meios a seu serviço.
Através desses métodos, buscam alentar a vaidade ainda latente do presidente a fim de que reaja em defesa de seus foros. Debilitar alo extremo a imagem de Nadie Heredia, apresentado-a como uma figura de mulher descontrolada e inconsciente. E desqualificar o máximo possível o regime de Humala para que não tenha condições de tentar dar continuidade a sua gestão. Ainda que seja remota a possibilidade de triunfo desse propósito, ao impedir o voto de confiança ao Gabinete Jara no próximo 20 de agosto, a máfia pode ainda manipular a consciência de certos peruanos, fazendo com que se debilite a possibilidade de resistência a seus planos de dominação.
O alerta é pouco neste contexto em que as confianças e as desconfianças se nutrem de enganos e manobras.
*Do núcleo de colaboradores de Diálogos do Sul