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“El revolucionário verdadeiro está guiado por grandes sentimentos de amor”
Ernesto Che Guevara
Winston Orrillo*
A epígrafe do Guerrilheiro Heróico é perfeitamente congruente com o início do comentário a “Todo depende del humor de tus ojos”, livro de poemas de Ernesto Montero Campos, um singular vate jovem -25 años-, gráfico e dirigente do Grêmio de Escritores do Peru.
A citação do Che se imbrica, idoneamente, com o começo de um de seus poemas mais representativos: “Quando um revolucionário se enamora/ a ternura fica pequena/ e se acende algo mais”: esta é, sem dúvida, a direção do texto que temos em mãos.
Montero é um escritor provido de uma rica panóplia de imagens, o que lhe permite saltar os tumultuosos encontros com a pérfida realidade que, definitivamente, é o que o poeta –e a maioria de nós- queremos demolir.
Mas é claro que suas figuras literárias se inserem na intenção – inalcançável – de definir essa nova –sui generis– forma de amar à qual o mundo de hoje o conduz, mas sempre, permanentemente, com um manejo da sensibilidade que resulta paradigmática: “Permita-me saborear a noite de teu corpo/para acender tua luz/caminhar/caminhantes dedos/para a ternura de teu peito/que alimenta vida e outorga pão”.
Como se pode apreciar, o lírico, sim, claro, mas vinculado ao tema, ao leitmotiv, do livro todo que – há que dizê-lo – é analisado por esse notável poeta e muito bom ensaísta que é Julio Carmona que, desde a caliginosa Piura, continua nos alimentando com seu pensamento e seus versos.
Julio é o autor de una “Reflexão liminar” cuja leitura se torna necessária para um primeiro intento de esclarecimento desta poética difícil pelos anfractuosos temas que aborda e pela intenção – muitas vezes conseguida – de apreender a volúvel e hostil realidade.
É, sobretudo, válido o esclarecimento do enigmático título do livro. Escreve Julio: “O amor é o que primeiro se ensina o homem a crer no mundo objetivo fora dele” (escreve esse outro poeta visionário que foi Carlos Marx, na Sagrada Família). E ‘el humor de tus ojos’ é a consideração que se reserva para o ser amado. Não é a imposição daquele que ama. É outorgar a aquele a liberdade de fazer com o mundo – incluso o que amá-lo – que seu humor decida, o que sua vitalidade aguarde….Mas Ernesto sabe que esses olhos não são alheios a aquilo que aguarda o grande fazedor de tudo; o povo, especialmente o povo trabalhador, que é o máximo criador. E é nele em que se realizam a poesia e o amor e a luta social”.
Deste modo, assim, esta poesia –segue escrevendo Julio Carmona- é “definitivamente de protesto e protesto social. Não pode ser de outra maneira. Porque se ama com a vida íntegra ou não se ama. É amor tudo o que faz digno o ser humano, ou não é amor”.
O anterior nos permite apreender que estamos ante o crescimento, a evolução, em certos vates, do Peru entranhável, – diríamos – de uma poesia distinta e distante da ad usum: “..a estas altura/ amar-te é tão fácil como atirar una pedra ao presidente de plantão/ como pintar de cores o porvir/como desafiar o partido e suas eleições/ como apoiar-me no povo / acompanhando seu coração”.//É tão fácil amar-te a estas alturas/ que já sei que não sou somente eu/ agora/somos inteiramente os dois // Me acompanhas, coração?/ Há una massa que nos espera// Te amo com aquela adaga para defender teu passo// Inédito para guardá-lo no coração”.
É esse o sentimento que propugna o poeta: “…é teu amor de mulher que desafia o poente/ e te amo/como aquele cordão umbilical/que detesta o espaço/mas amo teus seios/como aquela vida que recolheste/ assim te amo/considera isto como uma dependência absoluta…//E sim/te amo/como para pedir-te licença para tudo”.
Este último verso poderia parecer una contradição, mas não é: o poeta se entrega, totalmente, ao amor, porque esse é sua seiva, seu líquido vital mais entranhável, sem o que não poderia cumprir sua missão sobre a terra. Amor absoluto? Sim. Por que não? Se isso, para o autor, é o signo mais esclarecido e esclarecedor de seu novo modus vivendi.
Esta obra é tão original que no seu final afirma: “O livro de poesia Todo depende del humor de tus ojos, do autor Ernesto Montero, foi impresso nas oficinas gráficas de Gato Viejo Ediciones, por encargo do Partido da Ternura do Peru…”
*Da equipe de colaboradores de Diálogos do Sul