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Fernanda Pompeu*
Leio que o rei da Espanha Juan Carlos abdicou do trono em favor do filho Felipe. Parece que o papa Bento XVI anda fazendo escola. O que é uma ideia otimista. Há momentos e circunstâncias em que o mais honesto a fazer é ir-se. Deixar carta, e-mail, vídeo, áudio com um libertador: Fui! Verdade também que Bento e Juan pularam fora um pouquinho antes da casa cair.
Andavam severas às críticas ao Vaticano, notadamente à impopularidade do papa e sua displicência quanto a averiguar denúncias de padres pedófilos. O alemão saiu para a entrada de um argentino, com discurso e jeitão mais populares. Já o rei da Espanha andava desgastado, principalmente depois de ser flagrado caçando elefantes num safari, enquanto seus súditos amargavam uma crise econômica dos diabos.
Não vou discutir questões de pontífices, pois isso tem a ver com religião. Eu – que não tenho nenhuma – respeito todas. Espantoso para mim é que no mundo, aos quatorze anos dos século XXI, ainda existam reis, rainhas, príncipes e princesas. É claro que sei que a realeza sobrevive eterna nos contos infantis, na indústria de brinquedos, nas revistas e sites de fofocas, no carnaval brasileiro.
O real espanto é que o sangue azul siga correndo em muitos países. Inclusive nos chamados desenvolvidos. Países com boa educação e alguns com elevadíssimos índices de desenvolvimento humano (IDH). A enumerar: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Inglaterra, Noruega, Suécia. Mais um ou outro que devo estar esquecendo.
Olha só. Quem sustenta castelos, empregados, cozinhas, passeios, escolas, guarda-roupas, sapatos, joias dos monarcas e suas famílias numerosas? Se nenhum sangue azul pega no batente, uma vez que trabalhar é condenação para plebeus e plebeias, imagino que sejam todos bancados pelo dinheiro público. Quem pagou a festa de casamento do príncipe William com a duquesa de Cambridge? Será que os operários ingleses pagam as fraldas e o danoninho do bebê-herdeiro?
O que eu tenho com isso? A rigor, nada. Entre os mil males brasileiros, não figura manter nenhuma família real. Já superamos essa parte da infância coletiva. Mas como o mundo é um só, resguardo meu direito de criticar tamanha extemporaneidade. Fala sério! Por que alimentar tanto privilégio? Ou pode ser que essa seja uma fantasia que meu cérebro republicano e rude não é capaz de abarcar.
*Colaboradora de Diálogos do Sul – Imagem: Régine Ferrandis, Paris. Casa emprestada de Richard Greaves.