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Em 2010 foram registrados 22 feminicídios, em 2012 o número subiu para 97 mulheres assassinadas e até o dia de hoje se contam 67 mortes violentas de mulheres “e continuam sendo ignorados os desaparecimentos e as mortes das migrantes que viajam da fronteira sul – Chiapas – até Chihuahua, no norte”, comentaram hoje as integrantes da campanha numa entrevista coletiva que teve início com uma original apresentação em que várias mulheres e um homem cobriram o rosto com um véu vermelho e caminharam lentamente entre as pessoas presentes, em sinal de luto pelas mulheres desaparecidas e assassinadas no México, dando a elas, de forma simbólica, o corpo e a memória que lhes foram arrebatadas.
Em um esforço por reorganizar e estreitar vínculos entre todas e todos que lutam contra a violência, os objetivos da campanha – que durará até o dia 8 de março, dia internacional da mulher – são informar sobre a natureza e a origem dos feminicídios, os riscos da violência feminicida, bem como promover a mudança das relações de gênero para que as mulheres possam viver sem violência. Para prevenir e conscientizar a população sobre os riscos da violência contra a mulher e sua culminação nos feminicídios também pretendem organizar brigadas informativas, representações nas ruas e equipes de mulheres que irão de “porta em porta” explicando e até testemunhando a origem e as consequências da violência contra as mulheres em Chiapas que, em muitas ocasiões, acaba com um feminicídio.
Ao mesmo tempo, parte da campanha continuará centralizada em continuar exigindo que o Estado cumpra com as obrigações estabelecidas nas leis nacionais e internacionais para proteger a vida das mulheres contra todas as formas de violência.
Para dar a conhecer o dia a dia da campanha, buscar apoios e compartilhar materiais, as organizações criaram uma página nas redes sociais :
“Pintem com as cores da terra, contra o feminicídio”
Carolina e Yahir são um casal, têm 19 anos e passavam por acaso pelo Parque dos Heróis, no centro de San Cristóbal de Las Casas, Chiapas. É a primeira vez, comentaram, que vêm uma apresentação em um espaço público que tenta explicar o que acontece com as mulheres que são violentadas e até assassinadas em Chiapas, o estado em que eles vivem. Com a sua idade já puderam acompanhar pela imprensa e pelo rádio quase todos os dias a brutal quantidade de episódios de violência contra as mulheres, mas nunca tinham encontrado alguém que “fizesse algo contra isso, ou para que isso não continue acontecendo e ficando impune”. “Já são muitas, nós vivemos com esse tipo de notícias todos os dias e tememos de verdade que possa acontecer algo a alguém próximo”, comenta Carolina.
Hoje, um grupo de mulheres, precisamente preocupadas pelo alto índice de feminicídios em Chiapas lançaram uma campanha que contempla esse tipo de ações teatrais na rua para sensibilizar a população sobre a violência contra as mulheres e sua culminação em feminicídios.
Dois túmulos de mulheres, duas cruzes, muitas flores e os elementos que a terra vê nascer em forma de plantas, minerais e pedras foram o cenário simbólico a partir do qual chamaram quem passava pelo Parque dos Heróis para pintar, com esses elementos, uma tela já iniciada por outros artistas, contra o feminicídio. “Pintem com as cores da terra contra o feminicídio”, conclamou uma das protagonistas da atuação, enquanto dava um pedaço de carvão a um homem convidando-o a pintar o quadro com os elementos que agora compartilham a terra com os corpos das assassinadas.
* Marta Molina é colaboradora de Diálogos do Sul. Está em San Cristóbal de Las Casas, Chiapas