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Raul Longo*
Felizmente o complexo de vira-latas vem sendo superado por muitos brasileiros. Até em São Paulo, onde parte da população para se aproximar àqueles aos quais idealiza como superiores elege para governantes os ligados ao grupo do melhores amigos de Henry Kissinger e Bill Clinton, já se aperceberam que: ou modernizam a forma de pensar politicamente ou a cada gestão se perderão mais para trás na história do país.
Mas a cura do complexo de vira-latas iniciou-se mesmo a partir de um processo de choques sequenciais. Quando menos se esperava o Brasil, como estado e entidade sócio-político internacional, passou a ser respeitado. Nem mais exigem que se espere no capacho da porta de entrada ou que se tire sapatos para ser revistado em aeroportos.
Romper com tantas décadas de condicionamento não é mesmo fácil. Afinal, o desencanto é sempre traumático.
Desde sua independência os Estados Unidos sempre foram governados por um mesmo sistema de interesses de elites econômicas divididas em Democratas ou Republicanos. Sucedem-se políticos de dois únicos grupos a representar a ditadura de uma mesma classe social, mas todo mundo sempre acreditou naquele país e governo como padrão de democracia, mesmo quando promoviam golpes de estado contra governos realmente democráticos como os de João Goulart ou Salvador Allende.
Apesar de ali a vida de um negro não valer mais do que um assovio, criou-se o mito de que a civilização estadunidense fosse a mais livre e humana do planeta como se não fosse daquele governo e militares o maior genocídio já praticado em toda a história da humanidade, contra duas cidades civis de um país já derrotado e rendido: Hiroshima e Nagasaki.
E ha quem acredite piamente no heroísmo e na bondade de uma covardia a se repetir periodicamente, como no Vietnã, contra povos indefessos a usar bambu contra alta tecnologia bélica e bombas napalm.
O engodo do 11 de Setembro de 2001 despertou muita gente e mesmo que muitos ainda não consigam aceitar que aquele governo tenha sido capaz de ordenar um atentado contra o próprio povo, a certeza de que algumas horas de treino em teco-teco não habilitariam ninguém às manobras dos Boeing que atingiram o World Trade Center tem exercido forte impacto nas mentes de muitos.
Também houve a arrogância de decisão unilateral de invasão, a mentira das armas químicas do Sadam, a guerra desnecessária, o genocídio, as crianças esfaceladas, as humilhações de Abu Ghraib, as torturas de Guantánamo e todas essas realidades há muito sabidas, mas que só então se projetaram como intermitentes flashes da verdade antes velada, negada à própria consciência que forçosamente se viu obrigada a despertar, cada qual envergonhado do hipnótico condicionamento à que se expôs comportando-se como vira-lata.
Claro que ainda nem todos despertaram, mas são muito menos os adormecidos embora em determinadas classes sociais o condicionamento persista e em regiões onde essas classes compõem a maior parte da população.
Um caso típico de eleitores do DEM e do PSDB, por exemplo, que há muito tempo ocupam o topo do ranking da corrupção anualmente divulgado pelo STE, mas mesmo assim seguem elegendo prefeitos e até governadores aqui e ali. O DEM, que ocupa o primeiro lugar no ranking da corrupção é seguido pelo PMDB. E, logo depois, os tucanos.
Considerando que o PMDB é o maior partido político do Brasil, está presente em cada município e tem muito mais do dobro de integrantes que o PSDB, é até compreensível que conste como o segundo da lista com maior quantidade de corruptos… Mas o DEM?!!! Um dos menores partidos políticos do Brasil, integrado apenas pelo coronelato: latifundiários, banqueiros e empresários! A elite econômica e financeira desse país! Só gente rica! Campeão de corrupção todos os anos?…
Claro! De alguma forma essa gente tinha de ficar rica, não é? E não há forma mais fácil de ficar rico nesse país do que explorando o complexo de vira-lata daqueles que hoje até podem ser poucos no resto do Brasil, mas aqui em Santa Catarina, de recente colonização europeia, com todos os preconceitos que vão desde os éticos/raciais até os econômicos/sociais, o complexo de vira-lata é tão forte e a cada dois anos sempre se eleja o guarda caça preferido do dono.
Uma questão de cultura e para se entender as diferenças culturais entre Santa Catarina e demais estados do país, convém lembrar que em Pernambuco, que tem um dos menores PIBs do Brasil, o orçamento anual destinado às atividades cinematográficas é de R$ 13 milhões. Em Santa Catarina, que está entre os cinco maiores PIBs do país, o governo do estado destina anualmente R$ 3 milhões.
Mas um tal de Sistema Estadual de Incentivo à Cultura – Seitec, se orgulha ao anunciar a existência do Funcultural que investe entre 25 e 28 milhões no que eles chamam de cultura catarinense, mas que tem como instituição mais significativa o Balé de Bolshoi, da Rússia, ao qual se associa um festival que traz dançarinos e bailarinos para anuais expressões dessas artes nas culturas do hemisfério norte: balé clássico, jazz, street dance, break, hip hop, country, sapateado, etc..
Tudo muito bonito, mas jamais esperem algo como Antônio Nobrega ou qualquer coisa brasileira, pois que os nativos de “nossa terra, nossa gente” apesar de rosnarem para os “estrangeiros” do Brasil, pulam de alegria numa estreita identificação com os estrangeiros de fato.
Na sequência da relação do empregado pelo governo do estado de Santa Catarina para incentivo à cultura, o próprio Seitec cita meia dúzia de instituições de pouquíssima ou nenhuma significação pública, entre as quais alguns museus estáticos que se visitados duas vezes em uma década, na seguinte pode faltar luz que ninguém se perde.
E, por fim, segundo o Seitec o restante é empregado nas festas gastronômicas ítalo/germânicas como a Oktoberfest, a Festa do Marreco e a Festa do Pinhão. E pronto! Para a compreensão dos responsáveis pelo incentivo à cultura de Santa Catarina, isso é tudo e o suficiente para atrair os turistas para essa terra e essa gente tão fechada ao Brasil e tão aberta àqueles que pouco vêm para cá por preferirem o calor, a maior proximidade à Europa, e a cultura típica e popular de Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, etc.
Perante esse panorama e também considerando o monopólio de comunicações do Grupo RBS que se somado aos 600 milhões sonegados pela Rede Globo a quem representa neste estado e no de sua sede, o Rio do Grande do Sul, perfazem um calote de 1 bilhão de reais a cada brasileiro, inclusive catarinenses. Mas catarinenses são nativos e como nativos se distinguem dos demais brasileiros.
Talvez por esta distinção prefiram continuar elegendo os mesmos políticos que desde os tempos da ARENA da famigerada ditadura militar, depois PFL, depois DEM e atual PSD, cumprem com o ritual e estilo do vira-lata que cuida da presa abatida para seu dono caçador.
E essas siglas partidárias, como todas as demais que aqui mantém diretórios estaduais, sem exceção, pertencem a um mesmo Bornhausen: o feroz, fiel e treinadíssimo guarda caças de Santa Catarina que há anos vive em São Paulo.
No caso da notícia abaixo reproduzida, como a Receita Federal por alguma suspeita razão não divulga o nome, seria uma leviandade responsabilizar Bornhausen por essas 350 toneladas de lixo tóxico, mas não há a menor dúvida de se tratar de alguém de seu bando. Não há dúvida porque esse tipo de despejo é recorrente aqui no estado. Não há muito tempo ocorreu o mesmo problema com containers encontrados no porto de Itajaí.
E se o lixo está chegando, no entendimento local é porque os catarinenses se confirmam como os melhores guaipecas* para a guarda do quintal!
*Guaipeca – Regionalismo do sul do Brasil equivalente a vira-lata.
350 TONELADAS DE LIXO TÓXICO VINDO DOS EUA SÃO APREENDIDOS EM SANTA CATARINA
Fiscais da Receita Federal e do Ibama apreenderam no porto de Navegantes (a 111 km de Florianópolis), nessa terça-feira (10), 353 toneladas de lixo tóxico, importado dos Estados Unidos em 15 contêineres. Exames feitos na carga indicaram contaminação por chumbo, um metal pesado altamente poluente.
Faça um rápida pesquisa sobre outros espisódios de lixo tóxico enviado ao Brasil
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p dir=”ltr”>O importador declarou “cacos, fragmentos e resíduos de vidro” para burlar a vigilância. De fato, eram cacos de vidro, mas de tubos de raios catódicos (usado em tubos de imagem de televisores antigos), que têm um teor de chumbo de 11%. A Receita não divulgou o nome do importador.??O material era destinado ao processamento em indústrias. Segundo a Receita, o valor da mercadoria era baixo, quase o mesmo do frete. De acordo com o Ibama, a importação de material contaminado é vedada pelo acordo internacional da Convenção da Basileia. O país exportador (no caso os Estados Unidos) é obrigado a receber de volta o material exportado, no prazo de cinco dias. Os procedimentos para a devolução já foram tomados pela Receita.
Fonte: UOL
- Raúl Longo é jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.