NULL
NULL
Acilino Ribeiro*
Construir uma relação entre Geopolítica, Inteligência, Estratégia e Paradiplomacia nada mais é que na teoria sistematizar o que na prática é exercido pelos agentes públicos estatais em defesa dos objetivos nacionais de um país.
O que de certa forma facilita conceituar tais axiomas e sistematizar suas finalidades. Na primeira parte deste trabalho foram apresentados conceitos e práticas relacionadas com Geopolítica, Inteligência.
Nesta segunda parte do estudo de Acilino Ribeiro aborda as questões de Estratégia, Paradiplomacia e Desenvolvimento, trazendo para o debate tema até ha pouco tempo restrito à Escolas de Guerra e reduzidos círculos acadêmicos. A atualidade do tema e necessidade de coloca-lo em debate é corroborada com as atividades ilícitas de espionagem praticadas pelos Estados Unidos e denunciadas por agentes arrependidos.
Estratégia, diplomacia, paradiplomacia e desenvolvimento
Durante muitos anos esses conceitos, inclusive o mais novo dentre eles, a paradiplomacia, tem sido estigmatizados pelos setores mais conservadores que tem mantido o poder e o controle do Estado na maioria dos países do planeta. Assim, reiteramos aqui o já explicitado em anterior trabalho científico.
Analisar a Geopolítica, a Estratégia, a Inteligência e a Paradiplomacia separadamente
é tarefa das mais difíceis e desaconselháveis, na medida em que num mundo informatizado e globalizado o tempo e o espaço são peças fundamentais no processo de decisão geopolítico, geo-ecônomico e principalmente geoestratégico. Todos eles: desde o geo-ecônomico, o geosocial ao militar se subordina ao primeiro, ao Geopolítico. Assim, inicialmente afirmamos que os quatro, separados ou conjuntamente, são frutos dos mais profundos e
dogmatizados estudos estratégicos de política e defesa. E tal afirmação se baseia no fato de
que tanto um como os outros, para serem entendidos deve-se ter conhecimento de
Estratégia, de Tática e de Logística. (02) RIBEIRO, 2013;
Os setores progressistas, mais a esquerda, conforme rotulação feita desde a época da primeira grande revolução que mudou a História da Humanidade – a Revolução Francesa -, e também em outras épocas os renascentistas, iluministas e hoje os humanistas nunca deram a estes temas a devida e estratégica atenção, permitindo aos setores mais conservadores sua apropriação e domínio. Assim acreditamos ser de fundamental importância o estudo sobre os referidos temas, começando pela estratégia.
Estratégia: Origens históricas, fundamentos teóricos e perfil biográfico dos pensadores da Estratégia.
Iniciando por uma cronologia histórica para melhor entendermos suas origens e conceitos e as personalidades que mais pensaram a Estratégia, podemos afirmar que desde a Antiguidade a Estratégia começa a se caracterizar nas batalhas militares, para posteriormente passar a ser usada na Política, na Economia, no Comércio, etc. Grandes chefes militares como Cyro, Dario, Alexandre, Xenofonte, Leônidas (de Esparta), Sun Tzu, Aníbal, Júlio César, Atila, dentre outros, diante dos acontecimentos nas batalhas, e fazendo avaliações intuitivas (Fins e Meios) do que objetivavam conquistar ou manter sob controle e dos meios de que dispunham, fazem surgir, sistematizada por conhecimento acumulado, mas precisamente por essas necessidades primárias, a Estratégia.
Assim, nascida das necessidades primárias dos chefes militares a Estratégia, conforme seus principais teóricos, define-se como sendo a arte de saber utilizar a força militar para atingir os objetivos políticos, ou essencialmente chegar aos resultados estabelecidos pela política. Sua suposta e permanente utilização originou basicamente o que hoje conhecemos como Planejamento Estratégico e posteriormente a Gestão Estratégica. Hoje, já a partir do inicio do século XX surge o que podemos qualificar como Avaliação Estratégica, termo recém-criado para tentar, em conjunto com outros axiomas neologísticos prever resultados táticos operacionais.
Neste contexto não podemos deixar de lembrar que Política e Estratégia andam sempre juntas. Raul Sturari, mostra isso quando afirma que:
O termo “POLÍTICA” vem do grego (politikê) e significa, principalmente, “arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados”, segundo o Houaiss. Esse é o sentido que será aqui tratado, diferente da derivação partidária, que significa “arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, pela influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores etc”. Lamentavelmente, nossa riquíssima língua pátria permite essa confusão, enquanto que os ingleses, por exemplo, possuem as palavras policy e politics, respectivamente, para as definições apresentadas. Por sua vez, “ESTRATÉGIA” deriva de strategia, que significa a arte do general (strategos). Embora a etimologia da palavra possa datar do grego clássico, a concepção de estratégia como a arte de reunir e empregar as forças militares no tempo e no espaço para atingir os objetivos de uma guerra tem origem relativamente recente. Desde os tempos de Maquiavel até o século XVIII, os escritos utilizaram o termo relacionado “estratagema”, que significa uma treta ou ardil para conseguir uma vantagem através da surpresa. Foram os grandes intérpretes da arte da guerra napoleônica, o Barão Antoine Henri Jomini e Carl von Clausewitz, que fundaram os estudos modernos da estratégia, considerada como a “aplicação das forças militares para cumprir os fins da política”. Foi, contudo, na segunda metade do século XX – após duas guerras mundiais – que o uso do vocábulo “estratégia” transbordou, referindo-se ao emprego de todas as expressões do poder nacional como instrumentos para atingir os fins políticos, tanto na guerra como na paz. Assim, a política estabelece “o que” deve ser feito e a estratégia, “como” deve ser feito. A primeira, por si só, configura mero exercício de retórica; a segunda, sem a orientação política, corre o risco de perder-se em ações divergentes ou mesmo conflitantes. STURARI, Raul. 2010.
A necessidade instintiva desses militares da Antiguidade, ao avaliar fins e meios, secular e cientificamente foi se elaborando, construindo-se em forma e teoria uma doutrina de planejamento militar, que ultrapassando os limites da guerra e do belicismo que lhe originou, serviu de base para o que hoje conhecemos como Planejamento Estratégico, Planejamento Empresarial e Planejamento Cientifico. Criado pelos gregos caracteriza a Arte dos Generais. Estratégia se origina de Stratego e vem do grego clássico e significa General ou Chefe Militar.
Academicamente o primeiro livro conhecido na Estratégia Militar da História, os escritos do General chinês, Sun Tzu, “A Arte da Guerra”; Posteriormente utilizado e adaptado como obra de estratégia política, econômica, comercial, empresarial, etc. Conhecido no Ocidente somente mais de dois mil anos depois, os textos de Sun Tzu, que viveu cerca de 500 anos
antes de Cristo, só foi traduzido e publicado, pela primeira vez fora do Oriente, por um missionário que viveu na China por muitos anos, chamado Padre Amiot.
Depois da Arte da Guerra, de Sun Tzu, outra importante obra é “Da Guerra”, de Karl Von Clausewitz, a mais lida e recomendada obra de Estratégia Militar da Era Moderna. Clausewitz, militar prussiano que tal como Sun Tzu desenvolveu técnicas estratégicas que mudaram conceitos históricos e formularam novas ações políticas. Outros estrategistas aperfeiçoaram essas técnicas, e mais que isso, aprofundaram seus conceitos, como o fizeram Napoleão Bonaparte, Mao Tse Tung e o General André Beaufre.
Sun Tzu e Karl von Clausewitz formularam diferentes formas de ação estratégica , porem dentro de uma mesma raiz. Os demais fundamentaram seus conhecimentos em suas teses, como o próprio Clausewitz que considera Sun Tzu o gênio da Estratégia.
Historicamente existem duas formas de ação Estratégica: A DIRETA e a INDIRETA. Nestas duas formas de ação podemos distinguir o pensamento de Sun Tzu e de Clausewitz. O primeiro, Sun Tzu é defensor da AÇÃO INDIRETA, configurada em seu texto quando afirma que: –“Na Guerra, ou na Política, a melhor estratégia é conquistar um país intacto, e não destruí-lo. Destruí-lo é pior. Capturar o Exército inimigo é melhor do que destruí-lo. Enquanto que Karl von Clausewitz afirma: “A conduta estratégica ideal é buscar o centro de gravidade das forças inimigas e numa única e só batalha decisiva destruí-las.”- . Concluem ambos. Todavia para entendermos tais conceitos é preciso que se compreenda que dentro desse contexto existem e precedem a formulação da ação, o que chamamos de Iniciativa Estratégica e o que se caracteriza como Atitude Estratégica. Esta configurada em Atitude OFENSIVA e em Atitude DEFENSIVA. Ambas porem, proveniente de um bem elaborado Planejamento Estratégico, fundamentado numa extrema concepção avaliativa do objetivo a ser atingido, da capacidade e disponibilidade de poder existente, mas principalmente no valor do adversário. Por outro lado qualquer Atitude a ser desenvolvida, seja ela, ofensiva ou defensiva, deve levar em conta a Iniciativa Estratégica. Caso contrário o fracasso será total.
Outras formas de Ação Estratégica também são consideradas. Historicamente desenvolvidas por grandes estrategistas vamos conhecê-las associando-lhes a ação a seus executores, como é o caso de:
1. Economia de forças – conhecida como Manobras de Linhas Interiores e usadas por Napoleão Bonaparte, que não podendo dispor de forças nas diversas frentes as quais lutava criou a manobra móvel, por linhas interiores, e mostrando que seu êxito depende da extrema capacidade de mobilidade dos efetivos entre as diversas frentes existentes. A Guerra de Guerrilhas absolveu muito de seus ensinamentos, apesar dele nunca ter teorizado seus feitos militares.
2. Estratégia da dissuasão – desenvolvidas pelo general francês, André Beaufre, se caracteriza pela ameaça da mutua destruição ou reposta imediata do adversário. É a contenção da Guerra Nuclear exercida através da certeza da ameaça e impedindo que quem possui armas nucleares use-a em razão de que a reciprocidade de resposta é verdadeira. É o caso, por exemplo, hoje, das ameaças dos EUA para com a KOREA DO NORTE. Ou seja. Os EUA não atacam porque sabem do poder de resposta dos coreanos. Ou pelos menos o temem e não querem arriscar. O que não aconteceu com os covardes ataques e invasões de granada, Panamá, Líbia, Iraque e Afeganistão. A Estratégia da Dissuasão foi a responsável, durante todo o período da Guerra Fria, pelo antagonismo bipolar de EUA x URSS, e assim frear a agressão nuclear de ambas as partes, apesar de produzir o efeito inverso de promover uma escalada armamentista nuclear sem precedentes em outros países, como a Índia, o Paquistão e Israel a possuírem- na. Por outro lado a Estratégia da Dissuasão também leva o agressor avaliar os custos da guerra. Suas operações táticas, duração, custeio, resistência oferecida e principalmente perdas de vidas. Este último item porem foi o que levou o EUA a criarem os DRONES. Aviões não tripulados. Também a Estratégia de Dissuasão tem sido a responsável muitas vezes no cenário geopolítico internacional pela paralisação de ações agressivas por parte dos mais fortes contra os mais fracos. No entanto para que isso se concretize é necessário que a defesa pela dissuasão seja concreta e que o grau de reação mesmo defensivo da vitima seja efetivamente poderoso, revelando sua vontade de resistência e muitas vezes expondo-a a mundo. Como é o caso da RDP da KOREA e do IRÃ. E por último consideramos também como outra Forma de Ação Estratégica, a
3. Estratégia do Terrorismo – Esta, mesmo que equivocadamente utilizada por grupos políticos e religiosos e usada por empresas e governos, respectivamente praticando o Terrorismo Midiático e de Estado, condenável em todos os seus sentidos, passou a ser uma forma de ação estratégica revelada essencialmente por seus erros e praticada veladamente por estados, numa promiscua relação entre Mídia e Governos, através de seus órgãos de Inteligência. Especialmente hoje utilizada por países como e dos EUA, Israel, Colômbia e parte da União Européia e seus meios de comunicação.
Fundamentalmente como afirmamos acima, Estratégia e Política andam sempre juntas e em busca do Poder. E os principais doutrinadores da Estratégia afirmam que Política – Estratégia e Poder formam um Trinômio inseparável, interagindo permanentemente. E para entendermos os fundamentos da Estratégia é necessário que entendamos antes porem a Política e o Poder. Entendemos, pois que a Política determina o objetivo; o Poder mostra os Meios disponíveis e a Estratégia indica a forma mais coerente de se aplicar esses Meios.
Aqui nos fundamentamos nos conceitos clássicos e históricos de grandes pensadores que conceituam estes valores do Trinômio. Desta forma no que pese as diferenças ideológicas entre alguns deles, mas não necessariamente posições políticas antagônicas dos mesmos e a que definem resumidamente observando o pensamento de Platão, Aristóteles, Maquiavel, Montesquieu e Rousseau que POLÍTICA, “é a arte de governar”, enquanto para outros Política é “a luta pelo poder”, conforme Hans Morgenthau, professor de Política nos EUA. Já a ESG, Escola Superior de Guerra, precursora dos estudos geopolíticos e estratégicos no Brasil define Política como sendo a arte de governar o Estado, dirigindo sua política interna e externa. Enquanto o PODER – Caracteriza-se pela soma de recursos materiais sob controle de uma Nação e os valores psicológicos de que dispõe o Estado, considerando ter em vista objetivos políticos a conquistar ou preservar. Entendemos neste atual contexto que sem que se aplique e se use adequadamente o Poder nenhum objetivo pode ser alcançado. Maquiavel, Marx e outros filósofos, mesmo que não estivessem se referindo a questão estratégica, mas sobre o assunto escreveram importantes textos, mostraram que o Poder é fundamental para as transformações que queiram e se deseje fazer.
Estratégia – é “a arte de aplicar o Poder’, considerando os objetivos traçados pela Política. A Estratégia está completamente comprometida com à Política e o Poder. Não existe qualquer Estratégia que não esteja fundamentalmente comprometida com um Objetivo Político a conquistar ou preservar. Somente a partir da 1ª Guerra Mundial (1914 -1918), em razão do surgimento da Força Aérea, a Estratégia ultrapassou os limites da arte militar e abrangeu outros campos de atividade civil. Resumidamente podemos afirmar então que: Política é concepção do que fazer; Poder são os meios e recursos do que fazer; enquanto a Estratégia é a habilidade de como aplicar os Meios e de como fazer. Academicamente podemos ilustrá-la de forma clássica afirmando que:
Política e Estratégia, reunidas, constituem atualmente uma área de conhecimento transdisciplinar, que interage, em especial, com: ciências políticas, sociologia, administração, economia, história, ciências militares, geografia e relações internacionais. STURARI, Raul. 2010.
Assim vale ressaltar o que afirma Sun Tzu resumindo o que pensa um estrategista
A batalha deve ser vencida muito mais pela manobra do que pelo choque. O bom estrategista é aquele que é capaz de derrotar o Exército inimigo sem atacá-lo frontalmente, de ocupar cidades inimigas sem destruir seus bens, de ocupar o seu território sem necessidade de choques violentos. As ações de engodo são mais eficientes do que as ações de choque direto. É melhor cansar, desmoralizar, quebrar a vontade de lutar do inimigo, atacando seus pontos fracos, ameaçando seus flancos e retaguarda, inquietando-o continuamente, do que buscar o choque frontal. É melhor conduzir uma guerra durante 50 anos e derrotar o inimigo pelo cansaço, pela ação indireta, não atuando sobre o centro de suas forças.”
Os ensinamentos de Sun Tzu no processo de ação estratégica e tática, foi utilizado por dois de seus maiores discípulos e que adaptaram os princípios da EAI ás guerras que lutaram. Estes foram o líder revolucionário chinês Mao Tse Tung e o inglês Lidell Hart, ao afirmar: “quando o inimigo avançar, recue; • quando o inimigo fizer alto, inquiete-o; • quando inimigo evitar o combate, ataque-o; • quando o inimigo retirar-se, persiga-o tenazmente”.
Tal como a Geopolítica, a Inteligência, a Diplomacia e outros estigmas que se transformam a cada dia em Paradigmas, a Estratégia tem característica próprias, mas sempre integradas com as acima citadas. Estigmatizada como tal pelos setores progressistas deve também ser resgatada e usada para a construção de novos paradigmas em beneficio da comunidade global
Paradiplomacia: Origens históricas, fundamentos teóricos e perfil biográfico dos pensadores da Paradiplomacia;
As origens históricas da Paradiplomacia advêm de dois fatos. Primeiro do fracasso da diplomacia oficial em representar de fato os setores que compõem a Sociedade de um Estado. E o outro que por representar o Estado e serem Agentes Diplomáticos deste, secundarizam os interesses das camadas mais pobres e proletarizadas representadas pelos movimentos sociais e os partidos políticos que não compõem o governo daquele Estado, quando até o esquecem e assim protagonizam uma ruptura política e social que termina por levar a uma relação política paralela entre movimentos populares de vários países, especialmente nas áreas sindical, comunitária, estudantil, de forma mais tradicional e atualmente mais ampla de caráter ambiental e de gênero.
Para entendermos de forma mais objetiva o que é Paradiplomacia vamos buscar de forma oficial e institucionalmente a Diplomacia definida como sendo:
“a arte e a prática de conduzir as relações exteriores ou os negócios estrangeiros de um determinado Estado ou organização internacional. Geralmente, é empreendida por intermédio de diplomatas de carreira e envolve assuntos de guerra e paz, comércio exterior, promoção cultural, coordenação em organizações internacionais e outros. Convém distinguir entre diplomacia e política externa – a primeira é uma dimensão da segunda. A política externa é definida em última análise pela Chefia de Governo de um país ou pela alta autoridade política de um sujeito de direito internacional; já a diplomacia pode ser entendida como uma ferramenta dedicada a planejar e executar a política externa, por meio da atuação de diplomatas.As relações diplomáticas são definidas no plano do direito internacional pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD), de 1961.” http://pt.wikipedia.org/wiki/Diplomacia. Acesso em 19.05.2013;
A Paradiplomacia é fruto, portanto da soma de uma errada utilização da Diplomacia Política e de seus erros, o que obriga outros entes a lançarem mão da negociação diplomática paralela e da vontade popular de se relacionar politicamente, de um lado com movimentos internacionais crescentes no mundo. E do outro na troca de experiências e parcerias institucionais que aperfeiçoem e aprofundem o desenvolvimento subnacional. E tal experiência se estendeu de tal forma que tomou corpo e hoje é uma realidade política e suas ações um paradigma internacional respeitadíssimo. Vale lembrar aquí o que diz o professor Marco A. Rodrigues.
O Estado do Rio de Janeiro, com o primeiro governo de Leonel Brizola (1983-1986)
protagonizou a mais importante experiência de política externa federativa, até hoje não
superada no campo político-partidário, cujo papel na abertura política foi único e de especial relevância para a transição democrática brasileira. O interessante desse caso é que ele começou no exílio de Brizola e de sua articulação com os partidos socialdemocratas europeus, estadunidenses, canadenses e latino-americanos, que resultou no seu ingresso, via PTB, depois PDT, na Internacional Socialista. Quando Brizola assumiu o governo, já havia toda uma gama de relações internacionais do partido que se incorporou ao governo (RODRIGUES, 2006. p.6);
Existe uma diferença fundamental entre Política Internacional, Relações Internacionais, Política Externa, Cooperação Internacional, Intercâmbio Internacional, Direito Internacional e Comércio Exterior. Assim, podemos caracterizar a Paradiplomacia como dois ramos de uma só raiz. Na Diplomacia Federativa, exercida pelos Estados e Municípios, além de Empresas Públicas, na busca de Cooperação Internacional e Comércio Exterior, tanto no
âmbito cultural, esportivo, cientifico, tecnológico, educacional e de desenvolvimento humano, como na área economica, financeira e comercial, mas principalmente na captação de recursos externos. E na Diplomacia Social (ou Popular), ou mais propriamente o que denominamos de Paradiplomacia em sí, como um sub-ramo, desenvolvidas pelos movimentos sociais, partidos políticos e ONGs, na busca de uma relação política que tem como objetivo exatamente o contraponto dos países militarizados e mercantilista. A Paradiplomacia norteia suas ações pelos princípios da defesa dos Direitos Humanos, Meio Ambiente, Economia Solidária e Paz Mundial. Já a Diplomacia oficial se caracteriza pela busca alianças militares e comerciais, fundamentadas nos princípios do neoliberalismo, tendo o Fórum Econômico Mundial como embrião-tentáculo de governos cada vez mais totalitários. A Paradiplomacia porem se constitue numa alternativa política que busca alianças sociais e humanitária, fundamentada nos princípios da Solidariedade Humana e do Internacionalismo Cidadão, tendo o Fórum Social Mundial como espaço de debates e difusão.
Na medida em que a diplomacia oficial internacional tem terrorista como referencia, e aí se leia-se Henry Kissinger, Hillary Clinton e outros, e a brasileira tem no Barão do Rio Branco seu maior perfil biográfico, a Paradiplomacia mundial mostra sua biografia pelas ações desenvolvidas na ação dos partidos progressistas, os movimentos populares, ONGs e revolucionários que lutam pelos princípios acima mencionados. E tem como referencia figuras como Mahatma Gandhi, Luther King, Che Guevara e outros mártires da luta de resistência e libertação dos povos.
No Brasil podemos dizer que a Paradiplomacia se amplia e desenvolve suas ações através da parceria de Estados e Municípios com organismos internacionais Bilaterais e Multilaterais, com ou sem a orientação do Itamaraty que dispõe da ABC – Agência Brasileira de Cooperação e da AREFE – Assessoria de Relações Federativa para esse fim, além das Assessorias de Assuntos Internacionais dos Ministérios, que pouco ou nada ajudam aos municípios e estados brasileiros.
A nível político, social e partidário, fugindo ao institucional a Paradiplomacia se desenvolve através das Secretarias de Relações Internacionais dos partidos políticos e dos movimentos sociais, especialmente das centrais sindicais, confederações eou federações comunitárias de moradores, e entidades como a UNE, a UBES, o CEBRAPAZ, MST, MDD, UNIPOP e outras, organizando Convenções de Solidariedade, Comitês de Apoio e Fóruns Temáticos, no que diz respeito principalmente a luta pela Paz e contra as guerras, em favor do povo palestino, do povo saharauy, kurdo, mapuche e outros. Em defesa da Revolução cubana, iraniana, nicaraguense, etc, pela Paz na Colômbia e no apoio as lutas do FSM – Fórum Social Mundial e no interesse e defesa dos direitos dos trabalhadores do Brasil e do mundo. Haja vista a solidariedade aos povos e manifestações de apoio aos Indignados (Espanha, França e Grécia) ao Ocupy Wall Street (EUA), dentre outros.
Conclusão
Como conclusão, o resgate dos Estudos Geopolíticos, Estratégicos, de Inteligência e de Diplomacia, esta com ênfase na Paradiplomacia Social e Partidária e também na Diplomacia Federativa, é uma necessidade premente para os acadêmicos e os movimentos sociais. Uma vez que os conceitos e paradigmas acima expostos, aplicados ás suas necessidades são de fundamental importância ao desenvolvimento de suas ações. Porem efetivamente composto de um estimulo a formação de Quadros Políticos voltados para essas
áreas. Num primeiro momento para a formação revolucionária das Lideranças de Massa, depois para a formação de Quadros de Estado. Ou seja: Só o resgate de seus estudos promoverá uma correta aplicação de seus conhecimentos e teses ajudando aos movimentos e redes sociais na construção de um novo mundo.
Observa-se que a aplicação da Geopolítica, da Estratégia, da Inteligência e da Paradiplomacia no fortalecimento da ação dos movimentos sociais, para a conquista de seus objetivos e para a construção da Democracia, passa antes de tudo por um efetivo programa de valorização dos Estudos Geopolíticos, Estratégicos, Diplomáticos e de Inteligência. Concebido, seja pelo Estado através de suas instituições, seja pela Sociedade, através de suas organizações, dentro de um Planejamento Estratégico participativo e cidadão, imbuído de Princípios democráticos e progressistas, objetivando aquilo para o que realmente deveria servir a Geopolítica, a Estratégia, a Inteligência e a Diplomacia: a construção de um projeto de Democracia Global e da Paz Mundial.
Segundo Marx, toda a história da humanidade se fundamenta na Luta de Classes. E dentro desse contexto, o qual concordamos é porque seus principais líderes, ao comandarem revoluções transformadoras, ou os históricos protagonistas da humanidade que mudaram o
mundo através de seus inventos e conquistas, precisaram, de uma forma ou de outra utilizar ações geopolíticas, estratégicas, de Inteligência e de Diplomacia, para consolidarem seus objetivos. E estes ao atuarem em qualquer dos campos citados, sempre utilizaram um ou outro para atingir seus objetivos. E se toda a história humana se caracterizou pelas lutas sociais, ela foi efetivamente uma luta política, não desassociada da Estratégia e do Poder.
Mas destacamos nesta conclusão, além da importância dos estudos geopolíticos, estratégicos e de Inteligência, um dos sub-ramos da Diplomacia caracterizado pela Paradiplomacia, e dentro desta a paradiplomacia partidária, social, e mais principalmente a paradiplomacia cidadã, esta revolucionária por sí só, desenvolvida por grupos étnicos de cidadãos do mundo, refugiados ambientais, de guerras, vitimas da concentração da terra e da renda, refugiados da fome, famintos e de diversos outros genêros humanos que já não precisam da diplomacia oficial, do Estado-Empresa, mas apenas do reconhecimento global da humanidade para se desenvolverem, tomarem corpo e tornarem-se dono de seu próprio destino, já que seus governos não o fizeram nem o ampararam, mesmo com políticas assistenciais, muito menos humanitárias. Porisso as mobilizações mundiais acima citadas na Europa e EUA através das mídias e redes sociais. A Paradiplomacia pode ser um fator de ação conjunta desses movimentos e contribuir muito para seu sucesso na mudança global que se aproxima.
No Brasil isso cria uma perspectiva de possíveis mobilizações que podem culminar num curto espaço de tempo, com gigantescas manifestações populares a reboque dos atuais movimentos sociais organizados e institucionalizados, cooptados pelo governo, que ao invés de criar mecanismos de participação popular e controle social, permitindo á Sociedade participar politicamente da construção de um novo país, chamando o povo para combater diversas mazelas hoje institucionalizadas, como a corrupção e a implantação de políticas públicas em diversos setores como transporte, saúde, educação e segurança pública preferiu uma aliança com setores conservadores comprometidos com a Direita e assim confundindo base parlamentar com apoio popular,. A primeira constituída pela base alugada, e a segunda que poderia lhe ser dado pela base aliada não o fez, preferindo acomodar os dirigentes sindicais e de organizações sociais institucionalizando-os em altos cargos governamentais deixando a base a mercer de uma completa despolitização e ao bel prazer da manipulação midiática e da ação dos serviços de Inteligência que até hoje usam do expediente da infiltração para criminalizar a lutas sociais e transformar os militantes em “vândalos” e “depredadores do patrimônio público” .
O contato através das Mídias Sociais através da INTERNET permite uma ação paradiplomática on line jamais vista. O que ocorre hoje na Turquia, Grécia, Espanha e EUA e continuará acontecendo poderá amanhã ocorrer no Brasil e será acompanhado por todos. Na prática já existe o que poderíamos chamar de SIMIC – Sistema Mundial de Inteligência Cidadã. Faltando apenas que em cada país os movimentos populares chamem os demais, grupos e redes sociais, etc e constituam suas RENICs – Redes Nacionais de Inteligência Cidadã, ( tema de um outro artigo do autor) para assim constituírem um mecanismo de ação rápida da Sociedade Global contra a ação manipuladora e criminosa da Mídia, dos órgãos de Inteligência e do Poder, que promiscuamente agem contra a humanidade. É o fazem com programas de espionagem como o ECHELON e outros sob coordenação da NSA – Agência de Segurança Nacional, dos EUA associados com Inglaterra, França, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Israel.
OECHELON que tem como finalidade escutar as comunicações internacionais , seja conversas telefônicas, celulares, faxes, e-mails, e tudo mais é fato real e comprovado pelo Parlamento Europeu. Agora já está amplamente divulgado que os países da América Latina, fundamentalmente Brasil e Venezuela, são vitimas desse fato, sem que no Brasil as autoridades tomem providencias e nem criam mecanismos de fortalecimento da Contra Inteligência para aumentar as defesas do país. Estando assim passíveis de crime de prevaricação e traição a pátria por não protegerem seus cidadãos da espionagem imperial.
Necessariamente não se é obrigado a concordar com os pressupostos da Geopolítica, da Estratégia, da Inteligência e da Diplomacia para estudá-los, até porque cada um que o fizer terá diferente concepção do tema. No entanto não se pode negar sua influencia nas ações do cotidiano e na vida das sociedades e consequentemente na política dos estados. Vale, portanto a constatação de sua existência e sua utilização em prol da humanidade. Assim o fizeram grandes líderes dela como Buda, Cristo e Maomé, em termos religiosos; e política e militarmente Sun Tzu, Maquiavel, Marx, Lênin, Mao, Fidel, Guevara e outros, que, senão desenvolvendo ações militares o fizeram aprofundando estudos e ampliando conhecimentos teóricos revolucionários.
*Acilino Ribeiro –Advogado, Historiador e professor universitário. Pós Graduado em História Política da Sociedade e Cidadania; em Relações Internacionais e Diplomacia Política; em Geopolítica e Relações Internacionais; em Inteligência Estratégica e Segurança de Estado, e em Direito Internacional. Diretor de Pós Graduação da Faculdade JK no DF e Presidente do Conselho Diretor da UNIPOP – Universidade de Políticas do Movimento Popular é também Educador Popular e Assessor de Movimentos Sociais. Colaborador de Diálogos do Sul
Bibliografia consultada, REferências citadas e Textos recomendados.
Para o capitulo Estratégia
BEAUFRE, André. Introdução a Estratégia. BIBLIEX. RJ. 1998;
CAWTHORNE, Nigel. Os 100 Maiores Líderes Militares da História. DIFEL. RJ. 2010; GARCÊS, Ana Paula; MARTINS, Guilherme D’Oliveira. Os Grandes mestres da Estratégia. Vesentini. Paulo F. Revoluções e Regimes Marxistas. Ed. Leitura XXI. 2013. Porto Alegre. RS MOREIRA JR. Hermes. A Compreensão e o Combate ao Terrorismo Internacional Contemporâneo: Um Estudo das Propostas do Club de Madrid.
GUIMARÃES, Samuel P. Desafios brasileiros na era dos gigantes. Rio de Janeiro: Contraponto,
2005.
STURARI, Raul. Política e Estratégia. Brasília. 2010;
Para o capitulo Paradiplomacia
VIGEVANI, Tullo (Org.). A dimensão subnacional e as relações internacionais. SP: Unesp, 2004. RODRIGUES, Marcos A. Política Externa Federativa: análise de ações internacionais de Estados e Municípios Brasileiros. 2006. Disponível em:
http://www.cebri.com.br/midia/documentos/politicaexterna federativa. pdf. Acesso em: 15.05. 2013; RIBEIRO, Acilino. Geopolítica, Inteligência e Paradiplomacia. 2011. Brasília – DF.
MORAIS. Maria C.A; A Paradiplomacia no Brasil, João Pessoa. 2011.
Outros utilizados para todos os capítulos e indicados para leitura dos assuntos acima.
TZU, Sun. A Arte da Guerra. Ed. L&pm. 2001;
MAQUIAVEL. Nicolau. O Príncipe. Ed. Três. 1974; CLAUSWEITZ, Karl von. Da Guerra. Ed. Martins Fontes. 2010; LENIN, Wladimir. O Estado e a Revolução. Global Editora. 1987; GUEVARA, Ernesto. A Guerra de Guerrilhas. Edições Populares, 1987,
MARIGHELLA, Carlos. Manual do Guerrilheiro Urbano. Editora Livramento. 1979;
MARX Karl; ENGELS, Friedrich; LENIN. Wladimir. Escritos Militares. Global Editora. 1981
Em Brasília – DF – Brasil – Maio de 2013.