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O ciberativismo, atuação política realizada por meios eletrônicos (informática, internet), surgiu da necessidade de grupos e indivíduos se manifestarem sem a interferência ou censura dos meios de comunicação de massa tradicionais, que sempre monopolizaram a informação, apresentando-se como “a opinião pública” e não apenas como uma parte dela.
Existe desde o momento em que os internautas descobriram a possibilidade de se comunicar com muita gente sem sair de casa, mas se tornou o tema mais importante da atualidade em 2010, quando o WikiLeaks fundado por Julian Assange tornou público 92 mil documentos secretos do governo dos EUA. Este ano Edward Snowden, consultor da CIA, publicou outros milhares de documentos sobre a espionagem electrônica do governo dos EUA focada não apenas nos governos de vários países mas também em empresas e pessoas.
Julian Assange está asilado na embaixada do Equador em Londres, Edward Snowden está asilado na área internacional do aeroporto de Moscou, ambos ameaçados de prisão pelos EUA e temendo ser assassinados. Milhões de pessoas espalhadas por todo o planeta acham que eles são heróis, inclusive nos EUA, onde pesquisa recente mostra que metade da população admira a atitude de Snowden. O vazamento (em inglês leak significa vazar) promovido por ele está ocasionando reações de rechaço e indignação contra os EUA em dezenas de governos nacionais e instituições internacionais. O ministro da Defesa brasileiro afirmou que o Brasil está vulnerável aos hackers, que sua defesa cibernética não tem meios para evitar ser violada.
Outra interface do ciberativismo é a “revolução social cibernética”, as manifestações massivas exigindo democracias participativas (consultas constantes à população) e não apenas representativas (decisões a partir das autoridades eleitas). São as Primaveras Árabe, Egípcia, Turca, a Primavera Tropical do Brasil. Em fevereiro de 2011, quando começaram as manifestações no Egito que derrubaram Hosni Mubarak, o ativista Wael Ghonin cunhou uma frase paradigmática sobre o momento político que estamos vivendo: “para libertar uma sociedade basta dar-lhe acesso à internet”.
A pergunta que paira no ar e no ciberespaço é até onde vamos chegar, quais os caminhos que vai tomar, quais as consequências dessa nova relação entre as sociedades e os governos. A primeira consequência é o esvaziamento dos meios tradicionais de comunicação como porta-voz da opinião pública e a fragilidades dos governos diante da vontade popular expressada pelas multidões nas ruas e por mais de dois bilhões de pessoas conectadas, cerca de um terço da humanidade (dados da Internet World Stats). E levando em conta que esse contingente formidável tem possibilidade e perspectiva de duplicar-se em pouco tempo. O mundo jamais será o mesmo. Mas que mundo será?
- Orlando Senna é cineasta e documentarista.