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<<Roberto Correa Wilson*>>
As rebeliões protagonizadas pelos escravizados durante a época colonial, demonstram que os africanos nunca se resignaram à escravidão e que em certa medida pavimentaram o caminho para as lutas pela emancipação na América Latina e Caribe.
O tráfico foi iniciado pelos portugueses que foram os primeiros europeus em chegar a África no século XV. Os contatos com a população autóctone se limitaram ao comércio com as tribos que habitavam nas zonas costeiras.
No século XV, o português Pedro Álvares Cabral desembarcou nas praias da Bahia. O país se converteu em uma colônia de Portugal e quase de imediato os donos de plantações agrícolas demandaram força de trabalho para suas fazendas.
O enfoque das relações dos lusitanos com os nativos africanos variou e nessa mesma centúria começaram a chegar os escravizados transladados pelos traficantes portugueses. Brasil viria a ser um importante receptor de escravizados.
Na medida em que se estendia o sistema colonial pela América Latina e Caribe cresceria o comércio de escravizados e aos traficantes lusos seguiram ingleses, franceses, holandeses, espanhóis e de outras nações para satisfazer as necessidades de mão de obra.
Na África Ocidental, de onde procediam a maior parte deles, multiplicaram-se os sítios de embarque. Destacam-se Gorée, no atual Senegal, também Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Serra Leoa, entre outros.
O saqueio de seres humanos despovoou amplas regiões privando-as de homens e mulheres jovens e desarticulando modos de vida e costumes. Porém também provocou o rechaço das populações nativas. Segundo se estima uns vinte milhões de africanos foram levados para América Latina e o Caribe em um tráfico que durou vários séculos.
Na América Latina e Caribe os escravizados lutavam contra esse flagelo. Os escravistas que obtinham enormes lucros com o sistema de exploração criaram instituições coloniais que tratavam de regulamentar a vida e a conduta dos negros.
Em quase todas as nações onde se implantou a escravidão, os africanos conservavam sua língua, hábitos e crenças de sua terra natal, rechaçavam a imposição de valores estranhos, alheios a suas tradições herdadas de gerações anteriores.
O rechaço aos abusos e crueldades dos amos se converteu em constantes levantamentos em busca de liberdade. As manifestações mais palpáveis foram a resistência escrava, individual ou coletiva e o que se chamou “cimarronaje” (de cimarrón ou rebelde) no Caribe e de Quilombo no Brasil.
Os escravos abandonavam as fazendas e fugiam para os bosques formando colônias onde se defendiam das perseguições dos fazendeiros e capatazes. Um dos primeiros levantamentos em territórios coloniais foi a rebelião de Yanga, em 1609, em Veracruz, no México, quando se criou um território liberado. No Brasil, Zumbi dos Palmares se converteu em símbolo da resistência contra a escravidão.
Em Cuba, na zona oriental de El Cobre e outras regiões houve manifestações de rebeldia que tal como em outros países caribenhos ficaram na memória histórica.
Paradigma das rebeliões antiescravistas e libertárias foi a revolução dirigida por Toussaint Louventure no Haiti, que proclamou a República independente em 1804, que mudou o esquema e varreu com o poder colonial branco criando a primeira República Livre na América e no Caribe. A revolução haitiana causaria grande impacto entre os elementos mais avançados da região gerando a consciência de que era possível lutar e derrotar o opressiva sistema imposto pelas potências europeias.
A abolição
Em 1834 a coroa britânica decidiu abolir o tráfico de escravos em suas colônias. A nação europeia, que transitava por uma nova etapa de seu desenvolvimento capitalista, já não estava interessada no comércio de escravos.
Nas ilhas caribenhas a norma real foi rechaçada pelos fazendeiros que se enriqueciam com o trabalho escravo e viam que ficavam sem mão de obra pois os liberados marchavam com suas famílias para trabalhar em suas próprias parcelas de terra.
Os britânicos criaram bases navais na África, com a estabelecida em Freetown, na colônia de Serra Leoa, para perseguir os traficantes de escravos que tentavam violar a disposição da coroa. A Abolição da escravidão não ocorreu de forma igual em todos os países. Passariam várias décadas de enfrentamentos entre escravagistas empenhados inutilmente em frear ou colocar rédeas à evolução histórica e as forças antiescravistas.
Na América Latina e Caribe, o Brasil foi o último país em decretar o fim da escravidão em 1888, depois de ter sido o primeiro em aplicar esse sistema. Com justiça se considera que a luta dos escravizados por sua liberdade foi uma das maiores contribuições dos africanos na América Latina e Caribe.
*Colaborador de Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul.