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"O Movimento de boicote a Israel não é antissemita"

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Michell Plitnick*

Michell Plitnick entrevista a Brant Rosen do Conselho Rabínico Voz Judia pela Paz. Importantes revelações sobre o movimento de boicote a Israel, que se espalha pelo mundo, são ignorados pela grande imprensa.

“A única saída do pântano em que estão atolado Israel e Palestina é criar dois estados”

O rabino Brant Rosen lidera uma congregação no norte-oriental da cidade estadunidense de Evanston e é um judeu pouco comum: apoia a causa palestina e a campanha de boicote a Israel.

Rosen expressa suas ideias em seu blog Shalom Rav, e é autor do libro “Wrestling in the Daylight: A Rabbi’s Path to Palestinian Solidarity” (Lutando à luz do dia: o caminho de um rabino à solidariedade com a Palestina). Em entrevista, Rosen também copresidente do Conselho Rabínico do grupo Voz Judia pela Paz, enfatizou que tanto as afirmações que faz no livro como as expressas nesta entrevista são somente suas e não representam a sua congregação.

Do seu ponto de vista, o que mudou em Israel nos últimos quatro anos?

Rosen – Eu vejo o conflito como de dois povos que tem legítimas aspirações sobre a terra de Israel-Palestina e a única saída do pântano é criar dois estados. Eu me identifico com Israel como judeu. É por isso que narro minha infância no livro. Tenho profundos laços familiares ali. Visitei Israel muitas vezes e inclusive considero mudar-me. A mudança de minha opinião se produziu gradualmente, mas o ponto culminantes foi com a Operação Chumbo Fundido (contra Gaza) entre o final de 2008 e início de 2009. Aí me dei conta de que não era um conflito entre duas partes iguais, mas uma injustiça em essência, que começou com o nascimento do Estado de Israel e continua desde então. É uma situação na qual uma parte muito poderosa submete a outra à sua vontade. Uma vez que comecei a falar sobre os ultrajes da Operação Chumbo Fundido, realmente começou a cair as pedras do dominó sobre mim. Como rabino de uma congregação, encontrava-me  em um lugar difícil e as pessoas me pediam orientação. Em torno de um ano depois, revisei minha postura diante de Israel como judeu, não só com relação à Gaza mas ao sionismo em geral. Envolvi-me mais na campanha de solidariedade com a Palestina, contatando a palestinos, alguns dos quais eram meus amigos e outros ativistas. Muitos entre eles me contataram quando falei sobre Gaza e quis conhecer qual era a experiência deles. Hoje sei em que lugar me encontro. Sou rabino de uma comunidade judia, ainda sirvo a minha congregação, estou motivado pelos valores judios, mas também sou alguém que se solidariza com os palestinos em sua luta pelos direitos humanos, iguais direitos e dignidade na terra em que vivem ou a que procuram regressar.

Voz Judia pela Paz é um dos principais grupos envolvidos no movimento Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS), que procura exercer pressão econômica  e política sobre Israel. Como vê o futuro desse momento?

Rosen – Creio que está crescendo a passos agigantados, atraindo cada vez mais gente. Quando a Organização das Nações Unidas aprovou mudar o status da Palestina, cobriu outra notícia que creio era muito importante: Stevie Wonder retirou seu apoio a um concerto de coleta de fundos organizado por um grupo estadunidense chamado Amigos das Forças de Defesa Israelitas. Foi a mais recente celebridade a expressar seu apoio à causa palestina, depois de uma longa lista de artistas e personalidades do espetáculo que cancelaram shows em Israel. Mais importante do que se  fizeram por pressão pública ou porque o consideravam correto, isso mostra o poder que tem o movimento Boicote. Para conseguir uma mudança política, dar poder ao povo é o melhor método. Historicamente tem siso assim. O fato de que Israel reaja tão duro mostra o potencial (do povo). Quando (a secretaria de Estado dos EUA) Hillary Rodham Clinton disse que os três mil novos assentamentos “não ajudam” (o processo de paz), não chamou a atenção de Israel. Não obstante, quando Voz Judia pela Paz, Estudantes pela Justiça na Palestina e outros vários grupos religiosos conseguiram uma grande holding empresarial deixasse de investir nos territórios ocupados, isso foi manchete em Israel. Isso é sinal de que esse tipo de coisa tem grande impacto quando são utilizadas de forma inteligente e concertada. Contrariamente às acusações, o movimento BDS não é antissemita. Creio que o argumento para distinguir a Israel de outros violadores dos direitos humanos é pouco honesto. A questão não é se Israel atua de forma legítima, é que os cidadãos de todo o mundo tem direito e a responsabilidade de exercer o poder que tem para obrigar que isso tenha fim.

Considera significativo o apelo feito por 15 líderes protestantes de diferentes denominações para que se investigue se a ajuda que Washington oferece a Israel está de acordo com as leis estadunidenses? 

Rosen – Sim. Creio que o mais importante é que os líderes estejam firmes e não retrocedam apesar de serem repudiados e ter recebido toda classe de insultos, inclusive o de antissemita. É importante porque, até agora, a convenção nas relações religiosas era que se podia falar de tudo a exceção de Israel, mas, desta vez isso foi rompido. Isso pode ser o início de uma nova etapa em que poderemos falar de qualquer tema, não só aquelas coisas que temos em comum, mas também de assuntos como as políticas de Israel, sobre as quais nem sempre concordamos. Estou orgulhoso de que a Voz Judia pela Paz apoie essa declaração. É muito importante que os cristãos vejam que muitos judeus estão com eles quando fazem declarações desse teor. O stablishment judeu não representa a toda  comunidade Judia.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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