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ToggleA crise política sobre migração na fronteira dos Estados Unidos com o México poderia provocar um giro na política estadunidense para Cuba incluindo suspender algumas das sanções mais extremas impostas pelo ex-presidente Donald Trump, mas vários funcionários estadunidenses ativos e retirados advertiram que persiste o mesmo cálculo político doméstico que até o presente levou o presidente Joe Biden a não se atrever a restaurar nem sequer a modesta abertura impulsada pelo então presidente, Barack Obama.
“Os Estados Unidos não tem uma política sobre Cuba, tem uma política sobre a Florida”, comentou um assessor do Congresso ao La Jornada, repetindo o que foi dito por vários funcionários que falam com a Casa Branca sobre o tema e o que foi segredo aberto durante décadas. Mas este mês uma deputada federal democrata centrista, Veronica Escobar, que representa El Paso, Texas, junto com vários colegas de estados fronteiriços, pressionou o governo de Biden a levantar as sanções de Trump sobre Cuba e Venezuela para atender às pressões econômicas que levam à expulsão em massa desses povos.
Jornalista cubana percorre EUA com documentário que denuncia sanções a Cuba
“Em Cuba, a reversão metida por Trump, de descongelamento das relações diplomáticas do presidente Obama, ao apertar o embargo estadunidense, novas sanção sobre viagens e remessas e a designação sem bases de Cuba como um patrocinador estatal de terrorismo, contribuíram para o declive econômico desse país, incluindo uma contração econômica de 10,9% em 2022, o maior declive desde o colapso da União Soviética”, escreveu a deputada Escobar em uma carta ao presidente Biden firmada por mais 20 legisladores democratas.
“Lhe instamos a atuar rapidamente e levantar as sanções econômicas fracassadas e indiscriminadas que foram impostas pela administração anterior e levar a cabo uma avaliação mais ampla das políticas de sanções pré-existentes que sua administração herdou, as quais exacerbam as dificuldades de civis inocentes e servem como fatores de expulsão adicionais para a migração”, conclui.
Tony Webster/Flickr
Fronteira ao sul de San Diego, Califórnia, vista do lado dos EUA
O “bloqueio” novamente em debate
Diante desta crise, o bloqueio se encontra uma vez mais em debate em Washington. O ex-funcionário da Casa Branca, Ben Rhodes, que foi quem ajudou a desenvolver a abertura diplomática de Obama com Cuba em 2015, comentou em entrevista à MSNBC na semana passada que “nossas próprias políticas estão contribuindo para isto… Poderíamos ter uma conversa honesta aqui de que o embargo que temos sobre Cuba, e as sanções que temos sobre Cuba e Venezuela, estão contribuindo de maneira significativa para a crise humanitária que está expulsando gente para a fronteira[dos Estado Unidos]”.
Porém não são só os da fronteira que estão argumentando por uma mudança. A coalizão de pequenos produtos rurais, empresários, religiosos e acadêmicos que promoveram e apoiaram a abertura de Obama para Cuba ainda existe, e continua parcialmente ativa. Em princípios de março, a senadora federal democrata e ex-candidata presidencial Amy Klobuchar, de Minnesota, apresentou uma vez mais na câmara alta seu projeto de lei para levantar o embargo sobre Cuba, desta vez junto com dois senadores republicanos de Kansas, Jerry Moran e Roger Marshall, como co-patrocinadores.
Nesta terça-feira, o concílio da capital dos Estados Unidos, Washington, DC, aprovou uma resolução condenando o bloqueio contra Cuba, algo que também sucedeu nos últimos anos em quase 30 cidades – incluindo Boston, Chicago e Helena (Montana) – condados e até juntas escolares ao longo do país. Ainda mais, legislaturas estaduais de Alabama, Michigan, Illinois e Minnesota também aprovaram resoluções a favor do fim do bloqueio.
Embargo só debilita liderança dos EUA
Em um artigo publicado no Boston Globe em princípios de maio, o deputado federal democrata Jim McGovern e o recém jubilado senador liberal veterano Patrick Leahy argumentaram que o embargo está debilitando a liderança estadunidenses na América Latina, “tal como se demonstrou pela controvérsia sobre a participação na Cúpula das Américas no ano passado”. Sublinham que “nossos adversários também terão uma abertura ainda maior nas Américas enquanto o governo cubano olha cada vez mais para Rússia e China para assistência”.
Os dois legisladores deixam claro que não apoiam o governo cubano, condenando “as políticas repressoras e não democráticas” desse país, mas enfatizam que “uma avaliação honesta requer um reconhecimento das maneiras com que as sanções dos Estados Unidos estão agravando o sofrimento da família cubana”.
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Os dois argumentam que o presidente, por ordem executiva, poderia reverter a designação que Trump fez de Cuba como patrocinador de terrorismo, e com isso suspender algumas das sanções justificados sob essa medida. “É um segredo aberto em Washington que Cuba não pertence a essa lita”, e que a decisão de Trump foi “politicamente motivada”. Os autores, ambos políticos veteranos, advogam por outras medidas, incluindo suspender sanção na Lei Helms-Burton, como haviam feito todos os presidentes de ambos os partidos antes de Trump, permitir mais viagens de estadunidenses à ilha para “apoiar o setor privado” e ampliar o comércio agrário.
Por que não restaurar a política de Obama?
Perguntados por que Biden não restaurou as políticas de Obama quando ele era seu vice-presidente, diversos especialistas reiteram, por um lado, que os assessores mais poderosos da Casa Branca medem toda decisão pelo impacto eleitoral, e neste caso está em jogo o terceiro estado mais importante no mapa eleitoral nacional – Florida. Esse é o estado onde residem os dois aspirantes presidenciais republicanos mais proeminentes, Trump e o governador Ron DeSantis. Mas não há nenhuma evidência de que Biden e os democratas possam ganhar na Florida nas eleições nacionais de 2024.
Por outro lado, sempre apontam que o senador democrata Bob Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores, e seus colegas republicanos cubano-estadunidenses, continuam sendo um obstáculo diante de qualquer mudança na política para a ilha.
Mas a crise migratória poderia mudar tudo isto. No ano fiscal que concluiu-se em setembro de 2022, aproximadamente 220 mil cubanos tentaram ingressar sem autorização aos Estados Unidos, e alguns calculam que essa cifra é mais próxima de 300 mil. “Esses números poderiam impulsionar uma mudança de política”, afirmou ao La Jornada um assessor legislativo com ampla experiência nesses temas.
Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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