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Mulheres são maioria das vítimas da violência contra jornalistas; impunidade alimenta crimes

Maioria dos homicídios relatados em 2022 ocorreram em países sem cenários de guerra ou conflito
Waldo Mendiluza
Prensa Latina
Paris

Tradução:

Em 2022, 86 profissionais da imprensa perderam a vida em todo o mundo, vítimas de violência, enquanto as agressões em linha se consolidaram no planeta como uma via de censura, sem que seja possível medir com precisão a magnitude e o dano.

América Latina e Caribe foi a região com mais vítimas mortais em 2022, com 44 homicídios, seguidas por Ásia e Pacífico (16) e Europa do leste (11).

“Depois de vários anos de quedas consecutivas, o forte aumento do número de jornalistas assassinados em 2022 é alarmante. As autoridades devem redobrar seus esforços para pôr fim a estes crimes e garantir que seus autores sejam castigados, porque a indiferença é um fator importante neste clima de violência”, advertiu em janeiro a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.

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O problema não é novo, nem tampouco a inquietação que gera, daí que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou em 2012 o Plano de Ação sobre a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade.

Desde então existe uma maior consciência sobre o fenômeno e vários países adotaram medidas para proteger os repórteres; no entanto, os crimes e os ataques continuam por toda parte.

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Em entrevista a Prensa Latina, o chefe da Seção da Unesco para a Liberdade de Expressão e a Segurança dos Jornalistas, Guilherme Canela, ressaltou a prioridade que o sistema das Nações Unidas outorga ao tema.

De acordo com o especialista em direitos humanos, prova desta vontade é a inclusão do complexo assunto na Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especificamente no objetivo 16, “Promover sociedades justas, pacíficas e inclusivas”, no qual estão expostos desafios de garantir o acesso público à informação e de proteger as liberdades fundamentais.


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Enquanto isso, a Unesco, como componente do sistema das Nações Unidas, destacou a implementação há uma década do Plano de Ação para a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade.

Trata-se de um esforço junto a muitos atores, desde os Estados membros até a sociedade civil, com uma visão que chamamos “das tres P”: proteção, prevenção e procura de justiça, afirmou.

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Segundo a organização multilateral, a questão da impunidade merece uma especial atenção, apesar de alguns avanços nos últimos anos.

Os índices de assassinatos não esclarecidos são escandalosos, 86%, panorama que a Unesco considera amedrontador para o trabalho dos repórteres e muito negativo para a liberdade de expressão.

Maioria dos homicídios relatados em 2022 ocorreram em países sem cenários de guerra ou conflito

Mazur/cbcew.org.uk/Flickr
Bispos prestam condolências à família da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, assassinada por Israel (País de Gales, 21 de maio de 2022)




Não apenas assassinatos

A Unesco considera a elevada cifra de jornalistas assassinados uma amostra das crescentes fissuras nos sistemas do Estado de Direito, que ressaltam o descumprimento pelos governos de suas obrigações de proteger os profissionais da imprensa e prevenir e processar os crimes contra eles.

Chama a atenção o fato de que a maioria dos homicídios relatados no ano passado (86) ocorreram em países sem cenários de guerra ou conflito.

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Os motivos dos assassinatos são diversos, entre eles, represálias por informar sobre o crime organizado, os conflitos armados, o auge do extremismo, a corrupção, os delitos contra o meio ambiente e o abuso de poder.

Canela alertou que a violência física e, em particular, a morte, é a forma mais crua da censura, mas não a única.

Lamentavelmente, vemos também detenções arbitrárias, sequestros e intimidação, e mais recentemente a questão dos crimes em linha, explicou.

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Nas plataformas digitais, as ameaças e os ataques contra jornalistas crescem de maneira exponencial, um campo em que a impunidade é preocupante.

A esse respeito, Canela abordou a importância da preparação de procuradores e juízes, que devem adaptar suas investigações e processos ao contexto dos crimes e da violência em linha.

Para nós – expôs à Prensa Latina o especialista da Unesco – o trabalho é de muitos componentes, desde os Estados e a sociedade civil até, neste caso, as empresas provedoras de serviços pela Internet, chamadas a desempenhar um papel chave diante do assédio e das agressões nas redes.


Mulheres jornalistas, mais vulneráveis

As mulheres representam um alvo particular das agressões, situação acentuada com a chegada da Internet e das plataformas digitais.

O chefe da seção da Unesco encarregada da Liberdade de Expressão e Segurança dos Jornalistas comentou os resultados de uma consulta que reuniu denúncias de ameaças e assédio por 73% das profissionais entrevistadas. 20% o delas afirmou que esta violência se materializou fora do espaço virtual, relatou Canela.

Para atrair a atenção sobre o tema, a sede da Unesco realizou em fins de abril uma exposição fotográfica sobre os perigos e as ameaças que enfrentam em escala global as mulheres jornalistas no exercício de sua profissão.

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A missão dos Países Baixos na organização multilateral e em organizações não governamentais preparou a exibição, que ilustrou os desafios de segurança com que lidam as repórteres, por meio de 12 mulheres que testemunharam com suas histórias pessoais.

Um desses testemunhos coube à jornalista afegã Lailuma Sadid, que compartilhou suas experiências e os problemas em seu país para abordar a situação das mulheres e seus direitos, e em especial daquelas comprometidas em informar a opinião pública.

Waldo Mendiluza | Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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