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Sheinbaum, Ebrard e as eleições no México: quem vai continuar o legado de Obrador?

Em 2023, o Morena tem amplas possibilidades de ganhar novamente a Presidência da República, já que conta com uma intenção de voto de 49%
Juan Pablo Navarrete Vela
Resumen LatinoAmericano
Cidade do México

Tradução:

Com eleições presidenciais em junho de 2024, o oficialismo mexicano, que tem amplas possibilidades de triunfo, tem duas figuras com chances de vitória: a chefe de Governo da Cidade do México Claudia Sheinbaum e o chanceler Marcelo Ebrard Casaubón. Um dos dois representará o partido, o Movimento Regeneração Nacional (Morena), que é hoje uma grande máquina eleitoral, e ambos terão a seu favor a grande popularidade do presidente.

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Morena foi fundado em 2014, fruto da saída de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) do Partido da Revolução Democrática (PRD), organização política que era o principal agrupamento de esquerda desde 1989. AMLO chegou à Presidência em sua terceira tentativa, em 2018, com 53,19% dos votos.

O autodenominado governo da Quarta Transformação (4T) chegou com um contingente de 188 deputados federais em um total de 500, e nas eleições intermediárias de 2021 elegeu 190, o que lhe deu uma boa margem de ação para aprovar reformas legais e negociar algumas constitucionais, embora o caminho legislativo não tenha estado isento de percalços, como a reforma elétrica e a reforma eleitoral.

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Morena deixou em um curto espaço de tempo de ser um partido opositor sem maior força – sem governadores – para contar com 20 de 32 governadores do país. E, em 2023, tem amplas possibilidades de ganhar novamente a Presidência da República, já que, de acordo com uma pesquisa realizada em março de 2023, o partido no governo mantem uma intenção de voto de 49%, enquanto que na segunda posição se encontra o Partido Ação Nacional (PAN), com apenas 16% das preferências (Demoscopía, 23/3/2023).

Em 2023, o Morena tem amplas possibilidades de ganhar novamente a Presidência da República, já que conta com uma intenção de voto de 49%

Reprodução/López Obrador
Quem obtiver a candidatura terá a seu favor as conquistas sociais do governo de AMLO




Sem isenção

O governo de AMLO não esteve isento de confrontos com partidos de oposição como o PAN, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) e o PRD, que criticam o estilo benefactor-populista da 4T, mas também com outros setores institucionais, como a Suprema Corte de Justiça da Nação (SCJN) e o Instituto Nacional Eleitoral (INE), instituições acadêmicas e meios de comunicação críticos, que discutem os resultados do combate à corrupção e os efeitos da austeridade no orçamento.

Considerando este contexto, o que acontecerá com a sucessão presidencial? Quem será o grande eleitor do candidato? Entre Sheinbaum e Ebrard, quem tem maiores possibildades de ganhar? Qual dos dois poderia representar maior continuidade ao legado de AMLO?

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Como em todo governo, podemos encontrar alguns membros que se consideram “fundadores”, como o próprio AMLO, embora o morenismo tenha se constituido como um partido novo, mas com velhas elites recicladas de outros partidos, como o PRI e o PRD.

Sem possibilidades de reeleição, as regras não escritas do sistema político mexicano na época do PRI, que governou o México por mais de sete décadas, outorgavam ao presidente a faculdade de designar seu sucessor, prática ou ritual coloquialmente conhecido como o “dedaço”.

No priísmo, o eleitor máximo era o presidente, ele decidia e os demais aceitavam a indicação. Mas esta prática já não funcionou para o PAN em seus dois períodos presidenciais, com Vicente Fox e Felipe Calderón, presidentes que tentaram impor seu candidato e não conseguiram. Ora, quem está na dianteira no processo interno do Morena, aspirantes chamados coloquialmente de “corcholatas”? Embora haja quatro aspirantes, a principal competição se concentra em Sheinbaum e Ebrard.

Claudia Sheinbaum e Marcelo Ebrard Casaubón.

Engenheira de formação, Claudia Sheinbaum, de 60 anos, iniciou sua carreira política no PRD, partido em que militou durante 14 anos (1989-2014). Ocupou o cargo de secretária do Meio Ambiente no governo do Distrito Federal quando López Obrador foi chefe de Governo. Sua vitória mais importante foi tornar-se chefe de Governo da Cidade do México no período 2018-2024.

Marcelo Ebrard Casaubón (63 años) esteve em cinco partidos políticos: militou 18 anos no PRI; formou o Partido do Centro Democrático; foi membro do PRD durante 15 anos; participou do Movimento Cidadão e faz parte do Morena desde 2018. O chanceler também ocupou tanto cargos de eleição popular como cargos governamentais, pois participou como Sheinbaum do gabinete de AMLO na Cidade do México. Foi deputado federal (1997-2000) e chefe de Governo do Distrito Federal (2000-2006).


Diferença mínima

A distância entre Sheinbaum e Ebrard se manteve entre dois e cinco pontos de diferença, o que projeta um cenário aberto, e isto indica uma disputa interna muito acirrada. Adán Augusto López e Ricardo Monreal, os outros dois aspirantes, têm escassas possibilidades de vitória.

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As condições políticas do processo de seleção do candidato do governo são únicas, e os parâmetros priístas e panistas não necessariamente serão aplicados por várias razões:

1. Embora AMLO seja o presidente da República, há um ambiente de certa democracia interna no Morena. O presidente não impõe formalmente aos dirigentes nacionais; há processos internos de renovação. 

2. O presidente permitiu aos diferentes interessados competir pela candidatura e realizar ativismo a partir de suas posições políticas. Diferentemente da época priísta, quando tudo era decidido pelo titular do Executivo, no caso do Morena-AMLO há uma cocorrência aberta, avalizada e permitida pelo próprio presidente. Isto é inédito nos rituais políticos mexicanos. Os estatutos do Morena indicam que o candidato presidencial é escolhido por meio de uma pesquisa, e quem estiver melhor posicionado, será o candidato ou a candidata.

3. Como mencionamos, tanto Sheinbaum como Ebrard são velhos conhecidos de AMLO.

4. Ainda não se sabe quem será o candidato ou candidata mas há momentos a destacar nessa competição. O ativismo de Ebrard se centrou em realçar a presença do México na arena diplomática internacional, como por exemplo, na negociação das vacinas contra a covid-19, a demanda contra os fabricantes de armas nos Estados Unidos ou a representação do presidente nos fóruns internacionais (López Obrador quase não viaja para fora do México). Por outro lado, o ativismo de Sheinbaum dirigiu-se para a política interna: costuma acompanhar na primeira fileira o presidente López Obrador em celebrações institucionais, como o Grito da Independência (15 de setembro). Embora os dois políticos tenham grande possibilidade de vitória, o principal aditivo à candidatura de Sheinbaum é sua proximidade ao presidente e o compromisso de continuar o legado do projeto da 4T.

Em menor medida encontram-se as preferências do secretário de Governo Adán Augusto López e do senador Ricardo Monreal, que, apesar de sua iniciativa política, estão longe dos primeiros colocados. De modo que a corrida final será decidida entre os dois primeiros postulantes.


Alternâncias

A democracia mexicana experimentou três alternâncias entre partidos diferentes nos últimos 18 anos. As regras de origem do sistema político mexicano consistem em um presidencialismo com um Executivo forte, mas isso foi uma herança de décadas e não fruto da chegada de López Obrador ao poder. Recentes medições mostram resultados contrastantes: um presidente com mais de 58% de aprovação, mas um baixo apoio à democracia, com medições que mal alcançam 43% (Latinobarómetro 2020).

O governo de AMLO e da 4T combina políticas sociais para os setores mais desprotegidos com um discurso de polarização contra as “elites” (juízes, jornalistas, acadêmicos, empresários, etc.). O candidato que representar o Morena terá a tarefa de reconciliar os atores políticos ou continuar com um ambiente tenso. Neste sentido, Ebrard poderia representar uma opção mais “moderada” que Sheinbaum. 

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A grande pergunta é se López Obrador validará o vencedor das pesquisas. Também será necessário esperar o compromisso manifesto do candidato ou candidata de dar continuidade ao projeto obradorista nos próximos seis anos. Quem obtiver a candidatura terá a seu favor as conquistas sociais do governo de AMLO, mas também o peso das pendências, como a insegurança, o lento crescimento econômico e a dependência orçamentária dos programas sociais.

Quanto aos perfis, o de Sheimbaun simbolizaria um mais ideológico e apegado a Obrador, enquanto Ebrard parece menos radical e mais proativo na negociação política, inclusive com a oposição. Quem conseguir a nomeação presidencial terá a seu favor a máquina do governo federal e o apoio de 20 governadores que moverão a estrutura estatal para patrocinar o voto.

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Se o Morena ganhar a eleição presidencial em 2024, teremos um cenário político inédito: um ex-presidente carismático e um sucessor, ou sucessora, que deverá construir seu próprio poder à sua sombra.

Juan Pablo Navarrete Vela | Resumen Latinoamericano
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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